Divulgação/Gucci
Acessibilidade
O primeiro flash de luz aceso no desfile Cruise 2026 da Gucci não iluminava uma modelo, mas vinha de dentro dos armários feitos para armazenar a história de moda da casa italiana. Somando isso ao local escolhido para o desfile, a sede do Gucci Archivio em Florença, o recado estava entregue: em mais uma coleção assinada pela equipe de estilo, a grife mirou no passado para informar seu futuro. Pelo menos, até a chegada do diretor criativo Demna, cuja estreia foi marcada para o próximo ano (dizem por aí que o estilista georgiano entrega uma derradeira coleção de alta-costura à frente da Balenciaga em junho, antes de se debruçar por completo sobre a Gucci). Aqui, três ideias para falar sobre a coleção apresentada na quinta-feira (15/05) no Palazzo Settimane.
Renascimento
Florença não é apenas a cidade onde, em 1921, a Gucci foi fundada; é também é o berço do Renascimento – e, talvez, o renascimento simbólico da marca. Pareceu, portanto, uma escolha adequada para o novo momento, antecipando a entrada de um diretor criativo conhecido por levar uma estética marcante para as marcas por onde passa (na contramão, por exemplo, do estilista Sabato de Sarno que, em seu breve período na Gucci, foi incumbido de resgatar códigos mais limpos, com uma ótica mais objetiva para a casa).
Máquina do tempo
No resgate histórico proposto pela equipe de estilo, um blend de diferentes décadas vestiu as modelos, tendo um elemento como fio condutor: a ênfase nos acessórios. Quer exemplos? silhueta com ombros exagerados vinda dos anos 1980 surgiu em blusas de brocados e jacquards que tinham a cintura marcada por cintos com um novo símbolo na fivela: ao invés do duplo “G” entrelaçado, que foi hit no passado recente, uma única letra estilizada dava novo fôlego ao item. O mesmo emblema foi incorporado nos saltos de sapatos e em uma padronagem nos forros de casacos. Com lentes em tons de âmbar e amarelo, os óculos escuros em estilo máscara com shape aviador faziam um aceno aos anos 1970, e se fizeram presentes em quase todas as modelos do casting. Entre as bolsas – todas carregadas pelas mãos –, uma novidade: o modelo Gucci Giglio (em português, “lírio”, uma das flores associadas à história da cidade natal da grife).
Moda como joia
Os azuis, verdes, roxos e pinks que tingiram a cartela de cores pareciam emprestados dos tons de pedras preciosas encontrados na natureza. Mas o verdadeiro brilho ficou a cargo da coleção co-criada pela Gucci com a Pomellato, grife milanesa de joias criada no fim da década de 1960 e que, desde 2013, integra também o portfólio da Kering. Olhando para uma série de peças produzidas pela joalheria em 1984, as casas uniram forças para criação da edição limitada “Monili” (“joias”, em italiano) que, no desfile, se mostrou na forma de um colar e uma miniaudière feitas de couro com ouro e diamantes. Mais uma prova de que, nesta temporada de Cruise, a ideia central da Gucci não foi lançar tendências, mas manter o foco no desejo duradouro e atemporal.
*Com Antonia Petta e Milene Chaves
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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