11.5 C
Brasília
quarta-feira, maio 21, 2025

“Africa First”: volta de Trump à Casa Branca muda discurso de desenvolvimento no continente

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Ao voltar à Casa Branca em janeiro, o presidente americano, Donald Trump, deixou claro que cada país deveria cuidar da própria defesa, o que intensificou a corrida armamentista na Europa.

Num movimento parecido, a decisão do republicano de cortar a ajuda humanitária a outros países e reduzir drasticamente o tamanho da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês) está mudando o discurso no continente que mais contava com esse auxílio: a África.

Em declaração ao site Politico, um funcionário do governo Trump envolvido em discussões sobre ajuda externa a países africanos disse que os Estados Unidos ainda planejam seguir colaborando com o continente em casos de desastres naturais ou outras crises imediatas, mas sob a condição de prazos rígidos e curtos para esse auxílio. A ajuda humanitária nos moldes de como era prestada em gestões anteriores segue suspensa.

“É um investimento. Não temos que continuar pagando por 40 anos para que vocês [países africanos] tenham serviços de saúde”, afirmou.

Líderes africanos começaram a discutir nos últimos meses a necessidade de levar o debate sobre desenvolvimento além da ajuda humanitária e buscar mecanismos efetivos para progresso econômico e social, numa agenda que já vem sendo chamada de “Africa First” – “a África em primeiro lugar”, uma referência a um dos slogans de campanha de Trump (“America First”).

Em recente artigo para o site Devex, especializado em notícias sobre desenvolvimento global, Seleman Yusuph Kitenge, assessor de comunicação e advogado na Agência de Desenvolvimento da União Africana-Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Auda-Nepad), destacou que, no período 2014-2023, aproximadamente 70% da ajuda não humanitária fornecida pelo Departamento de Estado dos EUA e pela Usaid para a África foi destinada a projetos de saúde, com o combate ao HIV/aids representando a maior parte.

Apenas 30% foram gastos com projetos para promover a produção agrícola, crescimento econômico, segurança, direitos humanos, governança, educação e serviços sociais. Nesse sentido, Kitenge cobrou que os países africanos devem se mexer para promover o desenvolvimento que almejam.

“Uma estratégia ‘Africa First’ deve promover a mobilização interna de recursos por parte das nações africanas para investir substancialmente em infraestrutura estratégica, prestação de serviços sociais e desenvolvimento de capital humano”, alegou.

Numa conferência da Associação Africana de Refinadores e Distribuidores de Petróleo (Arda) realizada na Cidade do Cabo, na África do Sul, em abril, o secretário-geral da Organização Africana de Produtores de Petróleo (Appo), Omar Farouk Ibrahim, defendeu que os governos do continente utilizem recursos naturais para desenvolver seus países.

“É correto que a África exporte 75% do seu petróleo e 45% do seu gás quando a maior parte da população vive sem acesso à energia moderna?”, afirmou, segundo informações do site sul-africano Engineering News.

No mesmo evento, o presidente da Arda, Mustapha Abdul-Hamid, elogiou o slogan “America First” de Trump e pregou que a África repita esse discurso.

“Em todo o mundo, os países estão começando a olhar para dentro – os Estados Unidos em primeiro lugar, e a Europa também tem se unido, o que significa que não temos escolha a não ser olhar para dentro”, disse Abdul-Hamid.

“Devemos determinar nossa própria agenda de crescimento, porque essa é a única maneira de sobreviver em um mundo onde todos se preocupam apenas consigo mesmos. Devemos desenvolver soluções afrocêntricas para os problemas que enfrentamos”, disse o presidente da Arda.

Relação África-EUA baseada na parceria, não na dependência

Entretanto, a oposição democrata e analistas internacionais acreditam que o corte à ajuda humanitária não deve significar que os Estados Unidos devem se distanciar completamente da África – principalmente porque China e Rússia, os dois grandes adversários geopolíticos dos americanos, estão crescendo no continente, tanto em termos econômicos quanto militares.

O senador democrata Chris Coons, em entrevista ao Politico, alertou que a China pode se beneficiar se Trump não buscar laços com a África de outra forma.

“Acabamos de oferecer a eles [chineses] a melhor oportunidade possível para expandir suas parcerias econômicas com o continente que mais cresce na Terra, onde há mais trabalhadores jovens, mais recursos naturais econômicos e mais oportunidades para eles agora do que em qualquer outro lugar”, disse Coons.

Em artigo publicado nesta segunda-feira (19) no site da revista americana Foreign Policy, Curtis Bell e Christopher Faulkner, professores da Escola de Guerra Naval dos EUA, destacaram que o governo Trump precisa apoiar organizações africanas “autossuficientes”, fomentar o apoio local às posições americanas em instituições internacionais e desenvolver em parceria uma “visão econômica positiva” para o continente, sem “as práticas econômicas extrativistas e abusivas de potências globais rivais”.

“A adoção dessa abordagem preservaria uma estratégia de ‘America First’ respeitando, ao mesmo tempo, uma visão de ‘Africa First’, construída com base em parcerias, e não na dependência”, recomendaram.

Nesta terça-feira (20), o embaixador Troy Fitrell, chefe do Escritório de Assuntos Africanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, anunciou que o país realizará uma cúpula de líderes africanos neste ano.

Segundo informações da Agência EFE, ele afirmou que o encontro será parte da nova estratégia americana de compromisso com o continente, com foco em investimentos e comércio.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img