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- Author, Luiz Antônio Araujo
- Role, De Porto Alegre para a BBC News Brasil
Esta foi a segunda vez em dois dias que Silva foi detido em Novo Hamburgo (RS) como parte da Operação Fake Monster. A investigação é conduzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Sua prisão preventiva foi decretada no domingo (4/5) pela juíza Fabiana Pagel, do Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp) do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. O mandado foi cumprido por agentes da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo.
Aos agentes, Silva negou qualquer envolvimento com a disseminação de discurso de ódio nas redes.
Na manhã de sábado, Silva havia sido preso em flagrante durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em Novo Hamburgo, município do Vale do Rio dos Sinos, distante 42 quilômetros de Porto Alegre.
Naquele momento, não havia mandado de prisão contra ele. O suspeito tinha ilegalmente em seu poder três armas de fogo, motivando o flagrante.
Horas depois de ser detido em flagrante, Silva pagou fiança de um salário mínimo (R$ 1.518) e foi liberado. Não compareceu, porém, à audiência de custódia.
No domingo, a juíza, que havia homologado o flagrante, considerou que, embora não tenha sido apreendido material explosivo com o suspeito, o fato de alguém investigado por planejar atos de terrorismo, atentado e discurso de ódio manter três armas de fogo merece cautela.
Diante da gravidade do caso, afirmou Fabiana Pagel, não cabem medidas cautelares além da prisão preventiva.
“Quando ideias preconceituosas e discriminatórias são disseminadas livremente, estas não apenas ferem a dignidade de indivíduos e grupos marginalizados, mas também alimentam a intolerância, a violência e a exclusão social”, disse a magistrada na decisão.
A segunda prisão ocorreu por volta das 12h30min de segunda-feira na residência do suspeito, no bairro Santo Afonso, um dos dois mais populosos do município. Ele estava em companhia da mulher.

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No sábado, outros dois suspeitos do município de São Sebastião do Caí (RS) foram alvos de mandados de busca e apreensão na mesma operação.
A execução das ordens judiciais no Rio Grande do Sul ficaram a cargo da 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, da Delegacia de Polícia de São Sebastião do Caí, da 1ª Delegacia de Polícia Regional do Interior (1ª DPRI), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (3ª DPRM), de São Leopoldo.
No Rio de Janeiro, foi apreendido em flagrante no sábado um adolescente por armazenamento de pornografia infantil, que também já obteve liberdade mediante fiança.
Silva e o adolescente do Rio são considerados pelos agentes que conduzem a investigação como líderes do grupo, composto por pelo menos outras seis pessoas, segundo disseram à BBC News Brasil fontes da Polícia Civil do Rio de Janeiro sob condição de anonimato por não terem permissão para revelar detalhes das apurações.
O atentado vinha sendo planejado por meio de distintos servidores de Discord, plataforma virtual de jogos online utilizada para troca de mensagens de texto, áudio e vídeo. Os alvos seriam parte do público presente ao show, especialmente crianças, adolescentes e pessoas LGBT+.
O espetáculo reuniu mais de 2 milhões de pessoas na praia de Copacabana, segundo estimativas oficiais.
Para realizar o ataque, os suspeitos estariam recrutando voluntários, incluindo adolescentes. A intenção do grupo era detonar bombas artesanais e coquetéis molotov ocultos em mochilas.
“As pessoas que foram alvo da operação não necessariamente iriam construir uma bomba e ir para o show de Lady Gaga. Elas iam propagar esse tipo de provocação para que outras pessoas fizessem [o ataque]”, afirma à BBC um integrante da Polícia Civil com acesso às investigações, pedindo para não ser identificado.
“Obviamente, pode ser que alguém desse grupo estivesse disposto a fazer [o ataque] também. A preocupação é que isso se disseminasse de uma maneira que outras pessoas decidissem fazer esse ataque em busca justamente dessa notoriedade”, prossegue.
“Até onde a gente sabe, ninguém estava com passagem comprada para vir para o Rio de Janeiro. Ninguém estava com uma bomba dentro de casa. Mas, ao mesmo tempo, é muito fácil você fazer um coquetel molotov. Não precisa de planejamento prévio, você faz isso a caminho do show.”
Ao todo, além dos três mandados de busca e apreensão nos dois municípios gaúchos, foram cumpridos outros 12 nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias e Macaé (todos no Estado do Rio), Cotia, São Vicente e Vargem Grande Paulista (todos no Estado de São Paulo) e Campo Novo do Parecis (MS).
No curso da operação, foram apreendidos computadores e outros equipamentos eletrônicos e anotações que serão periciados pelas autoridades, além das armas apreendidas em Novo Hamburgo e do material de abuso infantil localizado no Rio.
A movimentação do grupo foi identificada por meio de uma ligação telefônica efetuada na segunda-feira (28/4) para um serviço de disque-denúncia da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Em seguida, a Polícia Federal (PF), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Civil fluminense assumiram o comando da investigação.
Foi solicitada à Justiça a expedição de mandados de busca e apreensão que envolveram um total de 14 órgãos de segurança em todo o país. As autoridades aguardaram o término do show para realizar as buscas a fim de não semear pânico.