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Essa é a primeira vez que os líderes dos dois países se encontram desde o ano 2000.
O anúncio do encerramento das sanções foi recebido com euforia na capital síria, Damasco, onde foram ouvidos aplausos, danças e tiros comemorativos.
Trump disse que a mudança de política daria à Síria “uma chance de grandeza”.
Ele ainda afirmou em um fórum de investimentos em Riad, na Arábia Saudita, que “é a hora deles brilharem”.
O ministro das Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shaibani, comemorou a decisão como um “ponto de virada crucial para o país” em entrevista à agência de notícias estatal do país, Sana.
O país anseia por um futuro de “estabilidade, autossuficiência e reconstrução genuína após anos de uma guerra destrutiva”, acrescentou ele.
Quem é Ahmed al-Sharaa
Ahmed al-Sharaa disse à emissora americana PBS que sua família síria veio da área de Golã.
Ele também afirmou que nasceu em Riade, capital da Arábia Saudita — onde seu pai trabalhava na época — e que cresceu em Damasco.
No entanto, também há relatos de que ele nasceu em Deir ez-Zor, no leste da Síria, e há rumores vagos de que ele estudou Medicina antes de se tornar um militante islâmico.
De acordo com relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Europeia (UE), ele nasceu em algum momento entre 1975 e 1979.
Acredita-se que al-Sharaa tenha se juntado ao grupo jihadista Al-Qaeda no Iraque após a invasão do país em 2003 por uma coalizão de forças liderada pelos EUA.
A coalizão rapidamente removeu o presidente Saddam Hussein e seu Partido Baath do poder, mas enfrentou resistência de diversos grupos militantes.
Em 2010, as forças dos EUA no Iraque prenderam al-Sharaa e o mantiveram em Camp Bucca, uma base perto da fronteira com o Kuwait.
Lá, acredita-se que ele conheceu jihadistas que mais tarde formariam o grupo Estado Islâmico (EI), incluindo o futuro líder do EI no Iraque, Abu Bakr al-Baghdadi.
Al-Sharaa disse à mídia que depois que o conflito armado eclodiu na Síria contra o governo do presidente Bashar al-Assad em 2011, al-Baghdadi ordenou que ele fosse ao país para iniciar um braço da organização lá.
Ele se tornou comandante de um grupo armado chamado Frente Nusra (ou Jabhat al-Nusra), que era secretamente afiliado ao EI. O grupo foi muito bem-sucedido no campo de batalha.
Em 2013, al-Sharaa cortou os laços da Frente Nusra com o EI e colocou seu grupo sob controle da Al-Qaeda.
No entanto, em 2016, ele anunciou em uma mensagem gravada que também havia rompido com a Al-Qaeda.
Em 2017, al-Sharaa disse que seus combatentes haviam se unido a outros grupos rebeldes na Síria para formar o Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Sob o comando de al-Sharaa, o HTS se tornou o principal grupo rebelde em Idlib e arredores, no noroeste da Síria.
A cidade tinha uma população antes da guerra de 2,7 milhões, que, segundo algumas estimativas, aumentou para 4 milhões devido à chegada de pessoas deslocadas.
Em dezembro do ano passado, Bashar al-Assad foi deposto e al-Sharaa se tornou o líder da Síria.

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Os desafios dos primeiros meses de governo
Desde que assumiu o poder, o HTS enfrenta o desafio de tentar conciliar demandas concorrentes — e equilibrar as expectativas da comunidade internacional e dos setores liberais da população síria com as demandas da ala radical.
Ambos os lados analisam atentamente cada declaração e ação do HTS.
Em mensagens, al-Sharaa tenta focar na coexistência dentro da sociedade diversificada da Síria, conceder anistia a ex-militares recrutados, proibir atos de vingança contra ex-funcionários e partidários do governo e adotar uma linguagem neutra e, por vezes, conciliatória ao se dirigir a adversários tradicionais, incluindo Israel, Estados Unidos, Irã e Rússia.
Nos últimos meses, as declarações dele foram deliberadamente desprovidas de retórica inflamada ou ameaças, concentrando-se em temas como reconciliação, estabilidade e reconstrução, em um claro esforço para neutralizar a oposição e pressionar pela retirada do HTS e do próprio al-Sharaa das listas internacionais de terroristas.
Ainda não está claro se a abordagem flexível de al-Sharaa representa uma mudança ideológica genuína ou uma estratégia calculada com o objetivo de obter aprovação e consolidar o poder antes de implementar potencialmente uma agenda mais rígida e religiosamente conservadora.
Mas suas medidas mais progressistas já estão provocando um desconforto significativo entre os radicais na Síria, que insistem em um governo islâmico enraizado em uma identidade sunita rigorosa.
Embora os árabes sunitas sejam o grupo étnico e religioso dominante na Síria, o país é notavelmente diversificado, com uma série de grupos minoritários, incluindo xiitas alauítas, como o presidente deposto Bashar al-Assad, curdos, cristãos, drusos, turcomanos e ismaelitas, além de outros pequenos grupos.

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Lobby pelo fim das sanções
Cerca de 90% da população síria permaneceu abaixo da linha da pobreza no final do regime de Assad — e o novo governo pressionava pelo fim das sanções desde dezembro.
Al-Sharaa disse à BBC em uma entrevista no final do ano passado que a Síria não era uma ameaça ao mundo.
Ele também solicitou que o HTS fosse retirado da lista de organizações terroristas.
Al-Sharaa voltou a repetir os apelos em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente francês, Emmanuel Macron, na semana passada.
Ele afirmou que “as sanções foram impostas ao regime anterior devido aos crimes cometidos, e este regime acabou”.
O líder sírio também prometeu reiteradamente proteger as minorias étnicas.
No entanto, os assassinatos em massa de centenas de civis da seita minoritária alauíta, de Assad, na região costeira ocidental em março deste ano, durante confrontos entre as novas forças de segurança e apoiadores do antigo líder deposto, aumentaram os temores entre as comunidades sírias.
Também houve confrontos mortais entre facções armadas islâmicas, forças de segurança e combatentes da minoria religiosa drusa.

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Acenos de Trump
O anúncio do fim das sanções dos EUA é um grande impulso para al-Sharaa e também marca uma mudança significativa na política externa americana.
Anteriormente, o governo dos Estados Unidos sustentava a posição de manter o bloqueio econômico até que questões como os direitos das minorias progredissem no país.
Trump afirmou que seu anúncio atendeu a um pedido do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, e do presidente turco, Tayyip Erdogan.
“Ah, o que eu faço pelo príncipe herdeiro. Gosto muito dele”, disse o presidente americano.
Bin Salman e Trump se encontraram na terça-feira (13/5), na primeira parada da comitiva dos EUA numa viagem ao Oriente Médio, onde anunciaram juntos um acordo de US$ 142 bilhões (R$ 796 bilhões) em armas.
O ex-embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford, que serviu no governo do ex-presidente Barack Obama, aplaudiu a decisão de Trump de suspender as sanções.
“Visitei a Síria há três meses e o país está simplesmente devastado após 13 anos de guerra civil. Precisa se reconstruir e precisa de financiamento estrangeiro para isso”, disse ele à BBC.
“Portanto, a remoção das sanções, que permitirá o fluxo de capital internacional para a Síria a partir de Estados do Golfo, de outros Estados árabes e de diferentes agências de ajuda humanitária, é absolutamente vital”, concluiu Ford.

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Os significados da reunião
O encontro de Trump com al-Sharaa representa uma oportunidade fundamental para fortalecer a visão do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, para o futuro do Oriente Médio, escreve Khashayar Joneidi, correspondente da BBC News.
O colapso do regime de Bashar al-Assad na Síria marcou uma derrota significativa para a República Islâmica do Irã e uma grande oportunidade para a Arábia Saudita conter a influência iraniana no mundo árabe.
No entanto, a simples remoção de Assad não basta para consolidar a posição saudita — e turca — na Síria.
O que ambos os países precisam é de um governo estável sob a liderança de al-Sharaa, capaz de restaurar a segurança, facilitar a recuperação econômica e liderar a reconstrução de um país devastado pela guerra.
O levantamento das sanções americanas de cinquenta anos contra a Síria, supostamente a pedido de Mohammed bin Salman e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abre caminho para investimentos sauditas e turcos substanciais no país.
Espera-se que empresas americanas, especialmente no setor de energia, também se beneficiem da abertura.
Segundo Joneidi, o encontro de Trump com al-Sharaa contribuirá muito para garantir legitimidade internacional a um homem que já foi vilipendiado sob seu nome de guerra, Abu Mohammad al-Jolani, devido a seus vínculos passados com a Al-Qaeda.