Presença feminina à frente dos negócios aumentou, mas incentivo à mulheres empreendedoras ainda é desafio
O setor de franquias tem visto um aumento considerável na participação de mulheres.
Em 2024, essa presença alcançou 57% e, em cargos de liderança, aumentou de 19% em 2015 para 29% no ano passado, segundo dados da ABF.
Somada à determinação de empreender no Brasil sendo mulher, muitas delas também equilibram o papel de mães, o que pode trazer desafios, como preconceitos e empecilhos na rotina.
É o caso de Luciana Azevedo de Lima, que trabalhava há 11 anos em uma multinacional como líder executiva quando engravidou.
Por muito tempo focou apenas na carreira, mas quando descobriu a gravidez, saiu da empresa, mudou para o interior de São Paulo e antecipou seu sonho de aposentadoria, que era abrir o próprio negócio.
“Quando somos mulheres, é preciso se provar duas vezes mais.
Apesar da minha experiência e crescimento profissional dentro da empresa, minha competência sempre foi questionada por outros colegas homens.
E não mudou muito quando decidi empreender, porque até hoje me perguntam se a escola é do meu marido”, comenta Luciana.
Há seis anos, a diretora é franqueada da rede Ctrl+Play, escola de programação e robótica para crianças e adolescentes em Jundiaí, com 350 alunos.
A situação da Luciana mostra a importância de melhorar a conversa sobre inclusão de mulheres no empreendedorismo, tanto em políticas econômicas quanto no círculo familiar.
Apesar do crescimento na liderança de franquias, as mulheres são as que têm menos apoio para abrir ou gerir pequenas empresas, segundo a pesquisa “Empreendedorismo Feminino”, feita pelo Sebrae.
A jornada dupla é um dos empecilhos: 76% delas sentiram um peso maior na sua rotina e 61% já tiveram que deixar de fazer algo para si ou para a empresa para cuidar dos filhos e outras pessoas.
Entre os homens, essas proporções são de 55% e 48%, respectivamente.
Com isso, o mercado de franquias tem um papel importante nesse apoio, uma vez que seu modelo estruturado de negócio é uma porta de entrada para muitas que ainda não empreenderam e têm esse desejo.
Portanto, oferecer incentivos, como diminuição de taxas e personalização conforme cada perfil, são opções interessantes, sugere Luciana.
Divulgar mais histórias de sucesso das mães franqueadas também é uma alternativa para gerar empatia e atrair mais empreendedoras.
Outro empecilho que pode desestimular mulheres nesse setor é a preocupação sobre como equilibrar a rotina.
Para Luciana, empreender e ser mãe tem, sim, seus desafios e exige bastante tempo; porém:
“O empreendedorismo me traz uma flexibilidade que eu não teria se ainda estivesse atuando na companhia.
Embora seja uma rotina agitada, eu ganhei mais tempo presente com a minha filha”, comenta.
Assim, ao ser mãe e empresária, dificilmente é possível separar esses dois pilares.
As rotinas se entrelaçam, a empatia pelo cliente e por outros profissionais aumenta, e um acaba colaborando para o sucesso do outro.
“Como empresária, a maternidade contribuiu muito para gerenciar o negócio.
Minha relação com crianças mudou em absoluto após a maternidade e tenho mais empatia para lidar com as mães e entender suas necessidades”, continua.
O empreendedorismo tem muito a ganhar com a liderança de mulheres.
A pesquisa da ABF mostra que o percentual de franquias que buscam ampliar o espaço para o público feminino na liderança mais que dobrou, foi de 29% em 2015 para 53% em 2024.
Facilitar essa jornada é um ponto-chave para colaborar para o crescimento do segmento e uma sociedade mais inclusiva.
Luciana acredita que a inclusão deve começar desde cedo.
Ao convidar a filha de um potencial cliente para ver uma aula experimental, ela ouviu do pai que o “negócio” dela era balé.
“Luto muito para que a escola tenha mais alunas e que tiremos o estigma que programação e desenvolvimento de games são para meninos.
As meninas podem fazer o que quiserem também.
Se deixarmos que pais tenham preconceito, tiramos delas a oportunidade de terem carreiras prósperas, quem sabe até mesmo no empreendedorismo”, complementa.
Fonte: Agência NoAr