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domingo, junho 1, 2025

Que fim levou a Gradiente, antiga referência em aparelhos de som no Brasil?

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Quem viveu no Brasil na década de 1980 em diante provavelmente se deparou com produtos da fabricante Gradiente na própria casa, na residência de outras pessoas ou nas lojas. A marca foi uma das mais importantes do mercado nacional de eletrônicos, em especial no segmento de áudio e games.

Porém, esse nome nos últimos anos não aparece mais entre os lançamentos de produtos. Na verdade, depois de enfrentar uma grave crise que incluiu uma recuperação judicial de anos, hoje a marca tem uma atuação bem diferente. Mas por onde anda essa companhia tão marcante? Descubra na reportagem e retrospectiva abaixo preparada pelo TecMundo.

O início da Gradiente

A trajetória da Gradiente começa oficialmente em 1930, quando o empresário Emile Staub abre uma empresa de representação comercial. Décadas depois, em 1964, a Gradiente nasce sob outros fundadores como uma fabricante e vendedora de eletrônicos, em especial aparelhos de som.

A família Staub adquiriu a Gradiente anos depois e Eugênio Staub, filho de Emile, assume a presidência do grupo — cargo que ocuparia por várias décadas. É a partir deste ponto — e aproveitando momentos como a reserva nacional do mercado de informática e outros setores de eletrônicos que favoreceram empresas locais — que a companhia se estabelece como um nome forte no Brasil.

Um antigo anúncio de revista da marca. (Imagem: Reprodução/Portal Memória Brasileira)

Ao longo dos anos, a Gradiente virou referência em produtos de áudio, como amplificadores e receptores, além de aparelhos do tipo “system”. Esses modelos eram compostos de duas caixas de som, toca-discos, toca-fitas e receptor de rádio, depois ganhando variantes mais compactas do tipo “mini-system” e “micro-system”. Ela ainda lançou telefones, videocassetes, televisores e tocadores de fita cassete, entre outros produtos.

A companhia ainda fez aquisições pontuais que aumentaram o catálogo e as tecnologias da marca, como a da britânica Garrard (1978) para tentar entrar no mercado internacional, em uma operação que não deu certo, além da Polyvox de equipamentos sonoros (em 1979) e da Telefunken, pioneira em rádios e TVs (em 1989).

A importância da Gradiente no mercado nacional

Para além do alto volume de vendas até o começo dos anos 2000, a Gradiente se destacou no país ao longo das décadas por lançar vários itens até então inéditos no mercado brasileiro, como os seguintes produtos:

  • o primeiro telefone no padrão nacional (em 1979);
  • o primeiro CD player (de 1989);
  • a primeira televisão de tela grande ou acima de 29 polegadas (em 1990);
  • o primeiro celular analógico fabricado por aqui (em 1993);
  • o primeiro DVD player do país (de 1998).

Mais tarde, ela também apostou em celulares mais avançados, mp3 players, reprodutores de Blu-Ray e HDTVs, além de monitores. Na década de 1980, ela já era uma das maiores do país em eletroeletrônicos.

A Gradiente possui também uma enorme importância para a história dos games no mercado nacional. Ela foi a responsável por, em 1983, lançar a partir da Polyvox o console Atari 2600 de forma regularizada por aqui — o primeiro console doméstico oficial do Brasil.

Ela também lançou um clone do Nintendinho, o popular Phantom System, e por ironia do destino acabou se tornando também a primeira parceria da Nintendo em território nacional

Phantom System Gradiente | MercadoLivre 📦
O Phantom System, um “clone” do Nintendinho. (Imagem: Reprodução/Mercado Livre)

Em 1993 foi iniciada pela dupla a Playtronic, que por uma década representou a companhia japonesa por aqui. Além disso, a Graciente lançou o computador Expert XP-800, mais conhecido apenas como Expert, um dos dois modelos de MSX que foram comercializados no país.

A queda da Gradiente

O mercado nacional de eletrônicos, porém, foi mudando e se tornando cada vez mais populoso, o que significa menos espaço para várias companhias. Empresas brasileiras passaram a perder mercado para as multinacionais — e mesmo algumas dessas marcas mais estruturadas não conseguiam espaço na disputa em todos os segmentos de produtos.

Em 2005, uma ousada Gradiente adquiriu a Philco por R$ 60 milhões, mas vendeu a divisão dois anos depois por um terço do preço. Essa negociação foi considerada um dos piores passos dados pela marca, já que foi caro e não trouxe os resultados esperados.

Nesse ponto, ela já tinha outros problemas financeiros graves e paralisou as atividades por tempo indeterminado. Ela tentou uma recuperação judicial já nesse ano, mas não teve sucesso.

Em 2012, ela muda o nome do grupo para IGB Eletrônica e faz uma campanha baseada em nostalgia para tentar recuperar o público. Os produtos da linha Meu Primeiro Gradiente eram voltados para crianças e incluem o clássico gravador que leva esse nome, uma câmera digital e um tablet.

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O relançamento do Meu Primeiro Gradiente como rádio e karaokê. (Imagem: Divulgação/Gradiente)

Afundada em dívidas em um valor que chegava a R$ 976 milhões, a Gradiente pediu recuperação judicial em 2018 e passou anos lidando com o processo e o risco de falência definitiva. Neste ponto, muita gente acreditou que ela não retornaria às atividades e declararia falência.

A Gradiente ainda existe?

Apesar de parecer que encararia um futuro parecido com outras empresas nacionais que prosperaram no mesmo período, como a rival CCE, a Gradiente ainda existe até hoje.

A Gradiente conseguiu sair da recuperação judicial de forma bem sucedida em 2023, após uma renegociação das dívidas e a venda de vários ativos e estruturas industriais. Porém, ela decidiu não retomar as atividades no mesmo ritmo de antes e até passou a focar em novos mercados.

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Projetos da recente divisão de energia solar da empresa. (Imagem: Reprodução/Gradiente)

Atualmente, ela opera de maneira bem diferente do seu auge, atuando com as seguintes atividades:

  • o licenciamento de marca e o recebimento de royalties para quem quiser vender eletrônicos sob o nome Gradiente, como caixas de som de poucos anos atrás;
  • a Gradiente Solar, uma divisão de painéis solares fotovoltaicos criada pelo próprio Eugênio Staub;
  • com o aluguel de galpões industriais que antes abrigavam estruturas da própria fabricante na Zona Franca de Manaus;
  • no aguardo da resolução da disputa judicial contra a Apple pelos direitos do nome “iPhone” no Brasil, por enquanto com vitória para a marca estrangeira.

Só que os problemas envolvendo a administração ainda não acabaram: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) multou em 2023 e 2024 a família Staub por possíveis irregularidades tributárias e falta de transparência.

Quer saber por onde anda a Semp Toshiba, outra fabricante clássica de eletrônicos no Brasil de décadas atrás? Confira esse especial preparado pelo TecMundo!
 

[Fonte Original]

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