O ato de 1º de Maio organizado por sindicatos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, começou com um apelo por uma “militância conectada” para defender o governo do presidente Lula nas redes sociais. A gestão tem sido fustigada por opositores em razão da operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) que mira esquema de fraude em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que se soma à inflação dos alimentos como foco de desgaste político. Existe incômodo dentro do PT sobre o alcance da comunicação mesmo com indicadores econômicos positivos, como o índice de desemprego em baixa.
Quem chegou cedo ao Paço Municipal da cidade, cujos portões foram abertos pouco depois das 10h, se deparou com dois telões ao lado do palco que convidavam o público a acessar um site e se inscrever em uma “rede de militância nacional” para disparar conteúdos pró-governo. Segundo o material, o objetivo é “defender o povo, a democracia e as conquistas do governo Lula”, como o projeto de lei que isenta o Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês e ainda está sob análise do Congresso. O cadastro leva a um grupo de WhatsApp que promete “benefícios exclusivos para você que coloca a mão na massa”.
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O material também adere à pauta do fim da escala 6×1, que foi defendida ontem por Lula em pronunciamento de cinco minutos em rádio e TV. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) é de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL), inspirada no movimento Vida Além do Trabalho (VAT), e passou a ser adotada pelos sindicatos diante do alcance na internet.
O próprio Lula, contudo, não deve comparecer ao 1º de Maio no ABC, alegando não ter condições de atender aos dois eventos marcados para a data. O segundo ato é realizado por Força Sindical, CSB, UGT, CTB, Nova Central e Pública na Praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte da capital paulista, com a CUT aparecendo como “convidada”. No ano passado, o petista se irritou no palco com a baixa adesão de público e cobrou o secretário-geral da Presidência, Márcio Macêdo. Grupo de pesquisa da USP estimou pouco mais de 1,6 mil pessoas no estacionamento do estádio do Corinthians, em Itaquera, em 2024.
Na terça-feira (29), quando fizeram uma marcha em Brasília, as centrais ainda acreditavam em uma “aparição surpresa” do presidente. Comentava-se, nos bastidores, que ele só faltou ao 1º de Maio quando estava preso na Lava Jato, em processos anulados depois pelo Supremo. O cronograma foi ajustado para permitir o atendimento duplo. Na capital, os discursos das autoridades começaram por volta das 11h30, enquanto no ABC estão marcados às 18h45. Lula, porém, delegou a tarefa aos ministros Luiz Marinho (Trabalho), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Cida Gonçalves (Mulher).
Para chamar o público, as entidades apostaram em shows gratuitos de artistas sertanejos e grupos de pagode, como Belo, Pixote, Felipe Araújo e Fernando e Sorocaba. Mas a CUT se opôs à estratégia de sortear 10 carros 0km, adotada pelas demais centrais em São Paulo. O acesso à praça no ABC se dava por meio da doação de 2kg de alimentos não perecíveis, e a expectativa era de reunir em torno de 30 mil pessoas. Os portões foram abertos pouco depois das 10h, e o policiamento é feito pela Guarda Civil Municipal (GCM).
Entre barracas de alimentação e bebidas, banners anunciam como pauta da classe trabalhadora a isenção do IR, o fim da escala 6×1 e a redução da taxa de juros. O fim da carestia, pedido em nota conjunta divulgada no início do mês, ficou de fora. Os prefeitos de São Bernardo, Marcelo Lima (Podemos), e de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), além do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges Júnior, devem falar pouco antes do ministro Luiz Marinho. Até lá, a programação alterna shows com discursos de representantes de 23 sindicatos da região. O encerramento está previsto às 21h.