A troca de Cida Gonçalves por Márcia Lopes do ministério das Mulheres tem sido tratada no governo Lula como uma vitória pessoal do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Sidônio Palmeira – e uma amarga derrota para a primeira-dama, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja.
Amiga de Janja e considerada integrante do núcleo de influência da primeira dama no governo, Cida vinha sendo mantida no cargo apesar de ter o desempenho considerado fraco pelo próprio presidente, a ponto de estar sempre nas listas de apostas para demissão em caso de reforma ministerial.
Mas, segundo a equipe da coluna apurou, em conversas reservadas com integrantes do primeiro escalão e com o próprio Lula, Sidônio deixou claro que, em sua avaliação, já havia passado da hora de tomar uma providência para tentar reverter a perda de popularidade do presidente entre as mulheres – segmento do eleitorado que foi crucial para a sua vitória nas eleições de 2022, por uma margem de apenas 2,1 milhões de votos.
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De acordo com a última pesquisa Datafolha, realizada no mês passado, apenas 30% das mulheres avaliam o governo Lula como ótimo ou bom – em março de 2023, essa era a avaliação de 42% das entrevistadas pelo instituto. O mesmo levantamento mostra que 34% das mulheres consideram a administração petista ruim ou péssima.
Na avaliação do ministro da Secretaria de Comunicação Social, a deterioração do apoio de Lula entre o eleitorado feminino chegou a um nível tão crítico que não havia outra saída a não ser a demissão.
“Sidônio tem uma leitura que esses ministérios sociais, que já não têm dinheiro, quase sem orçamento, precisam de muita política e ações de visibilidade para mostrar a sua importância. E não rolou isso com a Cida, que ficou na bolha dentro da bolha. Isso tudo pesou na decisão de uma tentativa de se criar políticas de mais visibilidade”, diz um interlocutor do chefe da Secom.
Em diversas ocasiões, Janja chegou a emprestar a sua própria estrutura de comunicação para ajudar Cida na divulgação de ações da pasta, mas pouco adiantou.
“O presidente Lula não se conformava com o fato de a Cida não liderar uma mobilização forte da sociedade – em especial do movimento de mulheres – em defesa da lei de igualdade salarial”, aponta uma fonte que acompanhou de perto a gestão da ex-chefe da pasta das Mulheres.
Em julho de 2023, o projeto de lei foi sancionado pelo chefe do Executivo em cerimônia no Palácio do Planalto com a presença de Janja e de Cida.
“Ele considera inadmissível que um governo de esquerda tenha como ponto fraco as ações para mulheres”, completa outro aliado de Sidônio no governo. “Dizia que para ocupar esse cargo é preciso alguém com mais energia e com tesão pela causa”.
Filiada ao PT desde 1982, Márcia é assistente social com mestrado em serviço social pela PUC de São Paulo e foi secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, entre 2004 e 2008).
Irmã do ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, integrou a equipe de transição do governo Lula em 2022, compondo o grupo de trabalho focado em questões de desenvolvimento social.
Conforme informou a colunista Bela Megale, a escolha da nova ministra, de perfil discreto como a antecessora, tem sido vista por movimentos próximos ao governo como uma maneira de não ofuscar Janja.
“Cida é uma boa pessoa, mas acho que a nomeação da Márcia é um esforço para fazer algo que conecte de forma mais orgânica o governo com os movimentos feministas do PT, para organizar a base já pensando na campanha da reeleição”, resume um interlocutor de Lula ouvido reservadamente pelo blog.
O ministério foi recriado por Lula neste terceiro mandato, após a gestão Bolsonaro ter unificado a pasta com Direitos Humanos.