O grande revés seria o aumento do tempo de residência legal no país que é exigência para fazer o pedido. A coligação de centro-direita planeja dobrar dos cinco para os dez anos.
Além de ampliar o tempo, a AD pretende que o período à espera da autorização de residência seja descartado da contagem, aumentando a exigência para um prazo indefinido.
As alterações na Lei dos Estrangeiros que beneficiaram milhares de brasileiros em Portugal passaram no Parlamento durante o governo do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda.
AD e PS disputam a ponta antes das eleições legislativas de domingo, com favoritismo para o governo. Em algumas pesquisas, a AD lidera. Em outras, há empate técnico.
Diante do cenário indefinido, brasileiros que estão a caminho dos cinco anos de residência para pedir a cidadania revelam apreensão com a possibilidade de mudança de regra.
Há três anos em Portugal, o mecânico de aeronaves paulista Caique Rodrigues trabalha em uma empresa de aviação e disse que teria seu sonho frustrado com a medida da AD.
— Eu vejo como um adiamento de alguns sonhos e projetos. O maior problema é que o tempo passa, vamos ficando mais velhos e menos corajosos — contou Caique, completando:
— Atrapalha sim (seus planos), porque muitas portas só se abrem se tiver a cidadania.
Com o caos na agência de imigração (AIMA), ele tenta renovar a autorização de residência há um ano. Está legal devido ao decreto de prorrogação de validade, que mostrou falhas.
— Com certeza, a reeleição da AD trará mais retrocesso para tudo que envolva imigrantes — disse ele, que ainda teme pela sua permanência no emprego:
— Não implicaram por causa do decreto. Mas tenho medo. Imagina perder o emprego por estar com a residência vencida? Trabalho num aeroporto, onde deve haver o máximo de segurança.
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Analista de contabilidade em um banco, o carioca Guilherme Mayerhofer também emigrou há três anos e planeja pedir a cidadania quando fizer cinco anos de Portugal, caso o direito seja mantido.
— Eu estando aqui, é a sequência de eventos, não é? É o que faz sentido para mim. Inclusive, me aposentar aqui — disse Guilherme.
Ele conta que desde que chegou em Portugal tem sofrido para conseguir documentos, entre eles a autorização de residência. Com a cidadania, Guilherme diz que escaparia à burocracia.
— A cidadania é permanente. Não é justo no meio do caminho mudarem de ideia. Além do trabalho e investimento que tivemos. Sim, me preocupa muito (a proposta da AD) — contou Guilherme, ironizando:
— Tiveram uma boa ideia. Dobrar o tempo de permanência em território português. Boa.