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segunda-feira, maio 19, 2025

Cobaias do clima: No gelo do Ártico, cientistas fazem biópsias inéditas de ursos-polares para medir poluentes

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Uma expedição científica norueguesa, acompanhada pela AFP, realizou em abril as primeiras biópsias de tecido adiposo de ursos-polares em Svalbard, no Ártico, para avaliar o impacto de contaminantes em sua saúde.

De um helicóptero, o veterinário Rolf Arne Olden dispara, com um rifle de ar comprimido, um dardo anestésico que imobiliza um urso que corria sobre o gelo, assustado pelo barulho da aeronave. O helicóptero pousa perto do urso adormecido; os cientistas desembarcam e extraem finas tiras de gordura do animal, além de coletar amostras de sangue.

O veterinário norueguês Rolf Arne Olberg atira em um urso polar com seu rifle de ar comprimido para sedá-lo — Foto: Olivier MORIN / AFP

— A ideia é reproduzir o mais fielmente possível, em laboratório, como os ursos vivem na natureza. Para isso, pegamos seu tecido, cortamos em lâminas muito finas e o expomos às mesmas pressões que eles enfrentam, ou seja, contaminantes e hormônios do estresse — explica à AFP a toxicóloga belga Laura Pirard.

Os pesquisadores mantêm as amostras vivas por alguns dias a bordo do navio da expedição, submetendo-as a contaminantes e hormônios. Depois, elas são congeladas para análise em laboratório quando a equipe regressar a terra firme.

Além do veterinário que anestesia os ursos, dois cientistas trabalham sobre os animais para realizar cuidadosamente as biópsias, colher sangue e colocar colares eletrônicos de rastreamento.

Somente as fêmeas podem usar esses colares, devido ao formato do pescoço. Os primeiros “registradores de saúde” — pequenos cilindros que medem pulso e temperatura — foram instalados no ano passado em cinco fêmeas. Essas informações, combinadas aos dados de GPS dos colares, oferecem aos cientistas um retrato do estilo de vida e dos deslocamentos dos ursos ao longo do ano.

A cientista espacial francesa Marie-Anne Blanchet examina filhotes de urso antes de coletar biópsias de tecido adiposo e amostras de sangue de sua mãe sedada — Foto: Olivier MORIN / AFP
A cientista espacial francesa Marie-Anne Blanchet examina filhotes de urso antes de coletar biópsias de tecido adiposo e amostras de sangue de sua mãe sedada — Foto: Olivier MORIN / AFP

O Instituto Polar Norueguês lidera o programa de pesquisa sobre ursos-polares em Svalbard há 40 anos. Este ano, a equipe foi composta por oito pesquisadores: o chefe da missão, Jon Aars; seu adjunto; um especialista em comportamento espacial; um veterinário; e quatro toxicólogos de ambientes marinhos. Eles viajaram ao arquipélago ártico a bordo de um navio de pesquisa de 100 metros, o quebra-gelo Kronprins Haakon.

— Tivemos uma boa temporada… Capturamos 53 ursos, incluindo 10 fêmeas com filhotes ou crias de um ano, e colocamos 17 colares — detalha Aars à AFP.

O veterinário norueguês Rolf Arne Olberg verifica se um urso polar está devidamente sedado — Foto: Olivier MORIN / AFP
O veterinário norueguês Rolf Arne Olberg verifica se um urso polar está devidamente sedado — Foto: Olivier MORIN / AFP

Ameaçados pela caça até 1976, quando entrou em vigor um acordo de proteção, os ursos-polares sofrem agora os efeitos do aquecimento global, já que o gelo marinho — seu habitat natural — derrete rapidamente. O Ártico está aquecendo quatro vezes mais rápido que o restante do planeta desde 1979, segundo estudo publicado na revista Nature.

Os ursos-polares de Svalbard agora “consomem mais alimentos terrestres, em vez de focas e coisas do tipo. Ainda caçam focas, mas também comem renas, ovos e até capim, embora isso não lhes forneça energia”, observa Aars. “Se há muito pouco gelo marinho, eles necessariamente ficam em terra”, acrescenta, indicando que passam “muito mais tempo em terra do que antes… há 20 ou 30 anos”.

Apesar disso, a população de ursos-polares em Svalbard aumentou ligeiramente na última década, frisa o pesquisador.

[Fonte Original]

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