Astrônomos descobriram nove novas anãs marrons, apelidadas de “estrelas fracassadas”, incluindo os dois menores exemplos desse tipo já identificados. A descoberta foi feita nos dados do Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, que tem capacidade para observar objetos muito frios e distantes.
Liderado por Kevin Luhman, pesquisador de pós-doutorado da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, o estudo foi publicado na terça-feira (10) no periódico científico The Astrophysical Journal Letters.
As anãs marrons observadas estão localizadas em um aglomerado estelar chamado IC 348, dentro da Nuvem Molecular de Perseus, a cerca de mil anos-luz da Terra, uma região conhecida por abrigar estrelas jovens em formação.
Por que “estrelas fracassadas”?
Anãs marrons são chamadas de “estrelas fracassadas” porque se formam como estrelas, mas não conseguem alcançar massa suficiente para iniciar a fusão de hidrogênio em hélio – processo que mantém as estrelas brilhando. Sem essa fusão, elas não entram na chamada sequência principal, o que as coloca numa categoria intermediária entre estrelas e planetas. Ainda assim, elas podem realizar outros tipos de reações nucleares mais leves.
Antes dessa descoberta, acreditava-se que as anãs marrons tinham entre 13 e 60 vezes a massa de Júpiter. No entanto, dois dos objetos identificados neste estudo possuem apenas cerca de duas vezes a massa do gigante gasoso, o que representa cerca de 0,2% da massa do Sol. Isso surpreendeu os cientistas, já que esses corpos celestes minúsculos se formaram pelo mesmo processo que cria estrelas.

Outro detalhe importante é que uma dessas anãs marrons carrega um disco de gás e poeira ao seu redor, semelhante aos discos que formam planetas. Isso indica que corpos muito pequenos podem ser centros de sistemas planetários. Até então, pensava-se que apenas estrelas de maior porte poderiam abrigar planetas ao seu redor.
Além disso, a equipe encontrou um composto químico misterioso nas atmosferas dessas anãs marrons. Trata-se de um hidrocarboneto ainda não identificado, formado por átomos de carbono e hidrogênio, mas diferente do metano (que costuma ser encontrado nesse tipo de objeto). Esse composto só havia sido detectado antes nas atmosferas de Saturno e de sua lua Titã.

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James Webb foi fundamental para a descoberta
“A presença de um hidrocarboneto não identificado e não metano é completamente inesperada e inexplicável”, disse Luhman ao site Space.com. “Por causa da presença desse hidrocarboneto, propusemos uma nova classe espectral (H) que é definida pela presença dessa espécie”.
Luhman explicou que o Webb foi fundamental para a descoberta. “Por serem frias, as anãs marrons são mais brilhantes em comprimentos de onda infravermelhos, e o JWST é o telescópio infravermelho mais sensível até hoje”.
Os pesquisadores agora querem realizar novas observações com maior precisão para entender exatamente quais moléculas estão presentes nessas atmosferas. Também planejam analisar outros candidatos a anãs marrons com massas tão baixas quanto a de Júpiter. Se confirmadas, essas observações podem mudar o que se sabe sobre os limites entre planetas e estrelas.
Segundo Luhman, é possível que existam anãs marrons ainda menores, escondidas na mesma região estudada. Ele acredita que imagens mais profundas feitas pelo Webb poderão revelar objetos ainda mais leves – talvez até menores que Júpiter – desafiando as atuais definições da astronomia.