A liderança do Brasil neste momento — que inclui também a presidência do BRICS , grupo de países emergentes, e a preparação para a conferência do clima da ONU (COP 30) — representa uma oportunidade histórica de unir ambição climática e meios concretos para alcançá-la. É o que acredita a embaixadora Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda nesta quarta-feira (04) no Fórum Ambição 2030, promovido pelo Pacto Global – Rede Brasil em São Paulo.
“O Brasil vive um momento estratégico, tanto pelas ações internas quanto pela projeção internacional. Nos últimos dois anos, o país voltou a ocupar um papel relevante na liderança climática”, aponta a secretária.
Cita o Plano de Transformação Ecológica, liderado pelo Ministério da Fazenda, como uma iniciativa do governo que contribui para posicionar o Brasil neste patamar, ao trazer uma estratégia de desenvolvimento sustentável com justiça social. O Plano está estruturado em seis eixos: finanças sustentáveis, infraestrutura resiliente, transição energética, bioeconomia, economia circular e sistemas agroalimentares sustentáveis.
Entre as medidas já implementadas, Rosito destacou o início da construção da taxonomia verde brasileira, a aprovação do marco legal do mercado de carbono e a emissão de títulos soberanos sustentáveis pela primeira vez, com recursos destinados, por exemplo, ao Fundo Clima do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Iniciamos a construção da taxonomia verde brasileira e avançamos com o marco legal do mercado de carbono, aprovado pelo Congresso, com início previsto entre 2029 e 2030”, acrescenta.
A liderança do Brasil no G20, grupo das maiores economias do globo, em 2024, teve um papel fundamental ao trazer o setor financeiro — ministérios da Fazenda, bancos centrais — para o centro desse debate, segundo ela. “Porque, a partir de consensos nessa área, será possível ampliar os fluxos de financiamento, algo essencial para viabilizar a transição”, acredita. Ela destaca a atuação do Grupo de Trabalho sobre Sustentabilidade e Clima, criado para fazer uma articulação entre o Ministério da Fazenda, o Ministério do Meio Ambiente e o Itamaraty. “Essa coordenação nos permitiu avançar na combinação entre ambição climática e os meios para realizá-la”, conta.
Para Tatiana, a grande tarefa do Brasil e outros países é casar metas ambiciosas com mecanismos concretos, e promover um modelo de desenvolvimento que una crescimento com sustentabilidade. E isso não é simples.
Embora o regime climático esteja bem delineado na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, a UNFCCC, e nas Conferências das Partes (as COPs), ela destaca que o financiamento climático ainda não envolve todos os atores relevantes de forma eficaz.
Para a COP 30, ela fala sobre o Círculo de Ministros da Fazenda da COP 30, criado pelo embaixador André Corrêa do Lago, envolve cerca de 30 países e promove o diálogo com organizações internacionais, setor privado e sociedade civil. O foco está em cinco áreas: reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento, ampliação de recursos concessionais, fortalecimento das capacidades institucionais dos países, mobilização do setor privado e regulação. O objetivo, segundo Rosito, é viabilizar a mobilização de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático para países em desenvolvimento. Grande parte do esforço, pontua, é doméstico, mas esses fluxos internacionais são indispensáveis.
“A solidariedade global é fundamental, mas os investimentos sustentáveis já demonstram serem, em muitos casos, mais rentáveis que os fósseis. Eles geram empregos, renda e prosperidade”, disse. Para ela, essa é a chave para uma nova economia: alinhar propósito com retorno financeiro.“O que esperamos para a COP30 — e para além dela — é manter o diálogo e a mobilização. Precisamos de exemplos concretos”, comenta.
E lembra que, entre as entregas previstas para o BRICS, pela primeira vez, teremos documentos importantes tanto na área de finanças quanto sobre financiamento e ação climática.
Em sua mensagem final do painel, do qual participou ao lado de Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30 pelo Brasil , a secretária reforçou que a COP30 será um ponto de convergência, mas que o trabalho já começou. “É impressionante o engajamento que estamos vendo de todos os lados — governos, setor privado, sociedade civil, academia. Nosso papel como política pública é estruturar esse movimento para ampliar o impacto”, afirmou. Para ela, a missão do Brasil é transformar esse momento em uma agenda de longo prazo, capaz de promover crescimento sustentável e melhorar a vida da população.