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domingo, junho 8, 2025

Extinção da banana? Como os produtores brasileiros veem o alerta mundial

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Um estudo divulgado no início de maio por uma organização britânica deixou agricultores brasileiros em alerta: o cultivo da banana está em risco. O aumento das temperaturas, a seca intensa e as tempestades frequentes ameaçam diretamente a produção. O calor extremo e a falta de chuva favorecem pragas e fungos. Já as chuvas fortes apodrecem os frutos ou derrubam as plantas. O atual cenário pode levar à extinção da banana?

A Gazeta do Povo ouviu especialistas e pesquisadores para explicar a gravidade da situação e como a produção bananeira pode reagir às mudanças impostas pelo clima para fornecimento da fruta mais popular do planeta.

Na América Latina, o impacto já é visível. Comunidades rurais na Guatemala, Colômbia e Peru relatam perdas severas e o cenário tende a piorar. Segundo o estudo da organização Christian Aid, até 2050, países exportadores, como Colômbia e Costa Rica, devem sofrer quedas significativas na produção, o que deve pressionar ainda mais o abastecimento global.

Sequer os grandes produtores estão isentos dos impactos previstos pelos pesquisadores, entre eles, Índia, China e Brasil. Em 2022, a Índia liderou a produção mundial com 31,3 milhões de toneladas, seguido da China com 10,7 milhões de toneladas da banana. Indonésia, Nigéria e Brasil completam a lista dos maiores produtores do planeta.

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Variedades de banana cultivadas no Brasil estão em risco de extinção

No Brasil, a produção na costa segue estável, mas outras regiões já sentem os efeitos. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste registram perdas, em consequência das pragas mais resistentes e de doenças, como a fusarium raça tropical 4, que se espalham com rapidez e devastam plantações.

A variedade cavendish, conhecida como banana-nanica, dominante no mercado global, inclusive no Brasil, também está em risco. Na Amazônia, por exemplo, o surgimento da sigatoka-negra já reduziu drasticamente os bananais tradicionais. Essa doença é considerada a mais destrutiva do mundo e causa a morte prematura das folhas, reduzindo a produtividade e a qualidade da fruta. Variedades como a banana-prata, maçã e o plátano pacovan, cultivadas há décadas, sumiram dos mercados e feiras locais, por consequência de colheitas prejudicadas pelos fungos.

O engenheiro agrônomo Antonio Figueira, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP), de Piracicaba (SP), pondera que a ameaça de extinção se restringe aos produtos de exportação, principalmente no caso da banana-nanica. “Talvez a banana-maçã, cada vez mais rara, também corra um risco real de sumir do mapa, porém isso não implica no fim de todas as variedades”, analisa.

Segundo o pesquisador, o melhoramento das espécies deve contribuir para a continuidade da produção e fornecimento da fruta ao mercado. “A banana-nanica é estéril, logo, não conseguimos fazer cruzamentos, mas a banana-prata, que hoje é muito comum, tem condições de inserção de genes resistentes. Atualmente, o Brasil é um dos únicos países que trabalha com esse melhoramento”, ressalta Figueira.

Cada brasileiro consome, em média, 25 quilos de banana por ano. Confira os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a safra bananeira 2023/2024:

  • Área de colheita: 456.522 hectares
  • Produção: 6.825.724 toneladas
  • Valor de produção: R$ 13.808.363,00
  • Exportação: 56 mil toneladas
  • Geração de empregos diretos e indiretos para 1,5 milhão de trabalhadores.

Mal-do-Panamá ameaça bananais e variante pode chegar ao Brasil

O mal-do-Panamá é uma das maiores ameaças que os produtores da banana enfrentam no mundo todo, ainda sem desenvolvimento de variedades da fruta que sejam resistentes à doença. Estima-se que 80% da produção global esteja ameaçada pela raça tropical 4, causada pelo fungo fusarium.

O engenheiro-agrônomo e fitopatologista da Superintendência Federal de Agricultura de São Paulo (SFA-SP) Wilson da Silva Moraes explica que o fusarium é um fungo habitante do solo, que atinge as plantas pelas raízes e todas as mudas da touceira.

“O fungo coloniza os vasos condutores de seiva das raízes ao pseudocaule e obstrui a passagem de água e nutrientes para a parte aérea da planta, exibindo sintomas de murcha, amarelecimento, necrose, morte das folhas e da planta. Depois disso, ele ainda pode permanecer no solo por até 30 anos, inviabilizando a continuação da cultura no local”, explica Moraes.

No Brasil, a raça 1 desse fungo inviabiliza o cultivo da bananeira-maçã, que aos poucos foi substituída pela bananeira-nanica, que é resistente. Porém, a raça 4 desse fungo ataca a bananeira-nanica e todas as demais variedades cultivadas no Brasil, como prata, maçã e terra.

A raça 4 tropical é encontrada nas plantações da Colômbia, Peru e Venezuela e pode chegar ao Brasil, colocando a produção nacional em risco. “O Ministério da Agricultura e Pecuária [Mapa] emitiu alerta quarentenário e estamos vigilantes na identificação de focos iniciais, principalmente em bananeira-nanica e da terra”, informa o especialista.

Ministério da Agricultura e Pecuária emite alerta de quarentena contra variante do fungo Fusarium. (Foto: Antônio Araújo – Arquivo Mapa)

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De Norte a Sul: a preocupação dos produtores de banana no Brasil

O produtor e diretor técnico da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar) Felipe Trigo reclama da falta de produtos eficientes para combater os fungos no país. “A produção fica comprometida. Faltam novos ativos para aplicação nas plantas e a gente não consegue fazer uma boa rotatividade, porque não tem registro de novo de ativos”, comenta.

Na região de Santa Catarina, os produtores enfrentam problemas com o mal-do-Panamá e com a sigatoka. Eliane Müller, diretora executiva da Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco), relata que além das pragas, as mudanças climáticas tem prejudicado a produção. “Os vendavais aumentaram e se tornaram habituais. No início do ano ainda tivemos um período de seca, o que prejudicou muito a produção.”

A produtora disse também que 80% da área plantada no Sul é de banana-nanica, o que coloca os agricultores em alerta com a possível chegada da variante do mal-do-Panamá. “Precisamos de um plano de manejo para bloquear a entrada do TR4. O fungo pode entrar no Brasil em um grãozinho de solo contaminado, na sola de uma bota. O Mapa precisa dar esse suporte”, cobra Müller.

Já o produtor Rodrigo Adamante, sócio proprietário do grupo Agro Pillati e membro da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), afirma que a principal preocupação do setor no estado do Tocantis é o impacto econômico com queda nas vendas do produto.

“Não temos o que reclamar. Foi o melhor ano de chuva, bem espaçado. Sofremos é com a economia, que não anda. Somos produtores de banana, dependemos da classe C que não está consumindo sequer banana”, desabafa. O grupo Agro Pillati é o maior produtor de banana do Norte do Brasil com 420 hectares plantados.

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Mudanças climáticas de diferentes regiões ameaçam produção

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Maurício Coelho afirma que, ao longo do tempo, regiões anteriormente semi-úmidas do Brasil estão se tornando semiáridas, o que tem prejudicado significativamente a bananicultura. Segundo ele, algumas regiões onde o cultivo de banana ainda era viável sem irrigação, embora com alto risco climático, agora exigem suporte para mitigação de riscos.

Por sua vez, o agrônomo Edson Perito Amorim, também pesquisador da Embrapa e líder do Programa de Melhoramento Genético de Bananeira e Plátano, explica que as perdas causadas pelas mudanças climáticas devem variar de acordo com as diferentes regiões do Brasil.

De acordo com Amorim, há excesso de chuvas em algumas áreas produtoras, enquanto em outras há estiagens prolongadas. “Além disso, geadas persistentes no Sul representam mais um fator de risco. Adicionalmente, fatores bióticos, especialmente pragas e doenças, também têm se intensificado. Como exemplo, destaca-se o aumento na incidência da sigatoka-negra, doença que foi recentemente identificada em Minas Gerais”, aponta o pesquisador.

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Alarme falso sobre extinção da banana foi feito em 2003

Além de ser a fruta mais consumida no mundo, a banana é considerada essencial para a segurança alimentar de milhões de pessoas e está entre os quatro alimentos mais produzidos globalmente, ficando atrás apenas do trigo, do arroz e do milho.

Em países de baixa renda, a importância da produção bananeira é ainda mais evidente. Para mais de 400 milhões de pessoas, a banana representa até 27% das calorias consumidas diariamente. Cerca de 80% das bananas exportadas mundialmente têm origem na América Latina e no Caribe. No entanto, essa mesma região corre risco de perder até 60% de suas áreas cultiváveis até 2080, conforme alerta a organização Christian Aid.

Em 2003, pesquisas internacionais alarmavam que em dez anos a banana poderia desaparecer da face da Terra, conforme reportagem de capa da edição de 16 de janeiro da New Scientist, renomada revista jornalística inglesa, especializada em produzir reportagens sobre ciência e tecnologia.

Com o tema voltando a ser discutido no setor agrícola, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) publicou nota negando a possível extinção e afirmando que a existência de mais de 500 variedades de banana garantem que a fruta não desaparecerá em breve.

“Não acredito que chegue ao ponto da extinção. Pode ser mais complicado produzir, a oferta pode ser reduzida, mas haverá manejo e formas novas de produção. Já os custos, devem subir”, avalia o engenheiro agrônomo Antonio Figueira.

[Fonte Original]

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