Os oceanos conectam diversos países ao redor do mundo e cuidar deles requer uma “forte união global”. Essa é a opinião da bióloga e doutora em Ciências Marinhas, Janaína Bumbeer, que participa da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em Nice, na França.
Falando à ONU News da cidade francesa, ela afirmou que a saúde e a resiliência do oceano estão em jogo. Janaína Bumbeer é gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, que há 35 anos apoia projetos de conservação da natureza, inclusive dos ecossistemas encontrados nos mares.
Peixes nadam ao redor de um recife de coral no Mar Vermelho, na costa do Egito
Proteção costeira
A especialista destacou que a preservação da vida marinha contribui para a adaptação de cidades costeiras frente às mudanças climáticas e ao aumento de desastres naturais.
“Só no Brasil os recifes de coral evitam um gasto de R$ 160 bilhões, só em danos evitados por prevenir inundações e erosão. É um número muito alto. Isso só considerando no Brasil, a região de uma faixa de recifes de coral. Então são R$ 160 bilhões de danos evitados. Sem contar o serviço que (os corais) fazem para turismo e vários outros serviços que ele presta. Então, proteger os corais, restaurar os corais, é uma das melhores soluções para a gente também proteger a nossa costa e a economia. É uma solução baseada na natureza”.
A Fundação Grupo Boticário atualmente apoia mais de 300 projetos relacionados à proteção costeira e à saúde do oceano no Brasil, envolvendo 170 instituições.
Aumento do financiamento climático rumo à COP30
Janaína enfatizou que, nos últimos três anos, o país teve prejuízos anuais de R$ 47 bilhões por causa de desastres relacionados diretamente às mudanças climáticas, mais do que o dobro em comparação com a última década.
De acordo com a especialista, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que será no Brasil, deve servir não apenas para aumentar os investimentos, mas também para definir um maior foco em ações de adaptação.
Bíloga brasileira fala de conservação dos mares em conferência da ONU
Impacto das mudanças
Para alcançar a meta de financiamento definida na COP29, de US$ 1,3 trilhão por ano para ação climática, a gerente de projetos ressaltou que a responsabilidade não é só do governo, mas também do setor privado.
Ela disse que a Fundação aposta em modelos de parceria para fazer investimentos que alavanquem outros aportes.
Janaína citou o Rio Grande do Sul, que sofreu muito com o impacto de mudanças climáticas recentemente. A Fundação Grupo Boticário investiu R$ 1,5 milhão em projetos no Estado e conseguiu alavancar R$ 9 milhões de outras instituições.
Cada brasileiro gera até 16 kg de plástico por ano
Ao comentar o risco que a poluição por plásticos representa para o ambiente marinho, a especialista citou um estudo que coloca o Brasil como um dos principais focos de atenção.
“O Brasil está entre os 20 países mais poluidores e cada brasileiro gera até 16 kg de plástico por ano. Então, realmente é um número muito alto, que mostra que a atitude e a solução podem começar por cada um de nós para reduzir o nosso próprio lixo. Mas o desafio é muito maior e tem que vir muito acima. Tem que vir do setor privado e do governo também, de várias formas. Mas as soluções têm chegado”.
Janaína explicou que a Fundação Grupo Boticário realiza editais para apoiar soluções inovadoras, criativas e práticas, que envolvem ciência e empreendedorismo no combate ao lixo no mar.

Um saco de plástico flutua perto de um cardume de peixes perto de Bali, na Indonésia
Preocupação com gerações futuras
A organização filantrópica também busca fomentar a “cultura oceânica”, para gerar uma mudança de atitude da sociedade e ressaltar os benefícios da chamada “economia azul”. Em estudo feito pela Fundação, foi revelado que 86% dos brasileiros nunca ouviram falar do tema.
A bióloga afirmou que “o oceano está doente” e as soluções precisam ser adotadas com urgência. Ela disse esperar que a conferência em Nice promova esse impulso.
“A hora de agir é agora, não vamos deixar para o ano que vem, nem para a próxima conferência. Somos a geração que pode ainda fazer alguma mudança para o oceano e para as futuras gerações. Não é responsabilidade das futuras gerações, é nossa, para que as futuras gerações ainda possam desfrutar de um oceano equilibrado, saudável”.
A Fundação Boticário é representante da sociedade civil brasileira na Década do Oceano, declarada pela ONU para o período de 2021 a 2030.