O ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto defendeu a necessidade de um “choque fiscal” para que o Brasil consiga reduzir as taxas de juros nos próximos anos, algo que ele considera inevitável para o país manter uma trajetória sustentável da dívida pública.
“Se o juro nominal não cair muito, nosso déficit nominal vai chegar a 8%, 9%… Com dificuldade de fazer um déficit nominal zero, vamos ter um crescimento da dívida entre 3 e 5 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) todo ano. Isso é, obviamente, insustentável”, afirmou o ex-dirigente nesta terça-feira, ao discursar no evento B.Side Day, em São Paulo.
Para Campos Neto, a dúvida está nos elementos políticos e nas variáveis macroeconômicas que podem surgir antes de o plano fiscal de fato ser executado. “Será que vamos estar muito pior? Vai ser em um governo de direita ou esquerda? Acho que os dois [terão de agir na política fiscal]”, disse.
O ex-dirigente apontou que, quanto mais cedo os ajustes fiscais forem realizados, menor será o custo social, e quanto maior a credibilidade que o governo tiver “na partida”, menos esforço será necessário.
Ao longo do evento, o executivo comentou sobre a política monetária brasileira conduzida por seu sucessor, Gabriel Galípolo. Para ele, o atual presidente do BC está agindo corretamente. Além disso, Campos Neto destacou que uma taxa Selic de 13% ou 15% não implica mudanças, já que a taxa de juros continua em nível extremamente elevado.
Diante de expectativas de inflação desancoradas e de uma atividade econômica resiliente, o ex-presidente do BC afirmou que é muito difícil para a autoridade monetária realizar uma redução das taxas de juros nesse cenário, o que ajuda a contratar uma “inflação estrutural”.
“Se o Banco Central cortar os juros e a curva inclinar [aumentar a diferença entre os juros longos e curtos], a expectativa de inflação aumenta. Depois tem que voltar e subir, e subir muito mais do que cair”, diz. “Então, no fim das contas, o processo de queda de juros é um processo que tem que vir acompanhado da credibilidade. E hoje a credibilidade está muito contaminada por essa percepção sobre o fiscal”, completou.