Crédito, IDF/Reuters/EPA
- Author, Rushdi Abualouf
- Role, Correspondente em Gaza, do Cairo (Egito) para a BBC News
A confirmação da morte do principal comandante militar do Hamas, Mohammed Sinwar, durante um ataque israelense, fecha um capítulo sobre o grupo de líderes de elite na Faixa de Gaza que orquestrou os eventos de 7 de outubro de 2023.
A morte de Sinwar se segue à de outras figuras centrais que fizeram parte do que veio a ser conhecido dentro do Hamas como o Conselho de Guerra.
Sinwar, seu irmão Yahya, Mohammed Deif, Marwan Issa e um quinto membro não identificado formavam o núcleo clandestino que decidiu e orientou o ataque sem precedentes a Israel, que abalou a região e deu início ao conflito ainda em andamento em Gaza.
O Conselho de Guerra, também conhecido como o Conselho dos Cinco, operava sob condições de extremo sigilo e segurança.
As reuniões diretas entre seus membros eram extremamente raras. As comunicações ocorriam por meio de tecnologias antigas, consideradas mais seguras (como telefones fixos), ou por intermediários de confiança.
Tudo isso fazia parte de um esforço para minimizar o risco de interceptação ou detecção do grupo.
Este nível de sigilo não era apenas tático. Era uma consequência do papel fundamental do conselho na tomada de decisões estratégicas pelo Hamas – especialmente durante a preparação do que se tornaria o ataque mais mortal e complexo da história da organização.

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Os membros conhecidos do conselho incluíam:
- Mohammed Deif (1965-2024): comandante do braço militar do Hamas, as Brigadas Izzedine al-Qassam. Acredita-se que ele tenha arquitetado o ataque de 7 de outubro. Morto durante um ataque aéreo israelense, em julho de 2024.
- Yahya Sinwar (1962-2024): líder político do Hamas na Faixa de Gaza e sua autoridade mais influente nos últimos anos. Morto em um tiroteio contra tropas israelenses, em outubro de 2024.
- Mohammed Sinwar (1975-2025): alta figura militar e lugar-tenente de confiança de Deif. Israel declarou esta semana ter identificado seu corpo na Faixa de Gaza, após um ataque aéreo em maio.
- Marwan Issa (1965-2024): vice de Deif e elo vital entre o exército do Hamas e suas esferas políticas. Morto em um ataque aéreo israelense, em março de 2024.
- Uma quinta figura, cuja identidade permanece desconhecida do público. Encarregado de organizar o aparato de segurança do Hamas, ele foi alvo de tentativas de assassinato antes da guerra e em um ataque aéreo, ocorrido após o início dos conflitos. Uma fonte indica que ele sofreu lesões graves e não consegue mais se comunicar, nem conduzir atividades.
A escala e a brutalidade do ataque surpreendeu observadores de todo o mundo, não só pelo seu impacto imediato, mas pela sua escala sem precedentes.
As preparações militares do Hamas levaram anos. Elas incluíram a construção de imensos túneis e o acúmulo contínuo de foguetes e armas.
Mas poucos analistas, personagens regionais e nem mesmo facções rivais da Palestina previram a magnitude daquela ofensiva.
O grupo mantinha rigoroso controle dos moradores da Faixa de Gaza há muito tempo. Muitas vezes, eles impuseram duras medidas econômicas, como pesados impostos, a uma população já empobrecida para financiar seu desenvolvimento militar.
Ainda assim, mesmo dentro do movimento, parece haver compreensão limitada da escala e das consequências do plano criado pelo Conselho de Guerra.

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A morte dos membros do conselho levanta uma questão fundamental: o que exatamente os levou a buscar um curso que muitos palestinos já descreveram como suicídio político?
A resposta militar esmagadora de Israel e o isolamento internacional que se seguiu fizeram com que o ataque de 7 de outubro fosse cada vez mais considerado uma aposta motivada pelo desespero, sem uma estratégia clara de saída política, levando ao sofrimento em massa da população civil da Faixa de Gaza.
Agora, com os principais tomadores de decisões mortos, talvez não seja mais possível descobrir quais eram as motivações mais profundas e os cálculos estratégicos por trás do ataque.
Quais debates internos ocorreram dentro do conselho? Terá havido vozes dissidentes?
O ataque terá sido uma tentativa de obter relevância regional, uma provocação programada em busca de mudanças na região ou um último e desesperado esforço para romper o cerco mantido há tanto tempo?
As respostas a estas perguntas podem ter morrido com os homens que conceberam o plano.
O desmantelamento do Conselho de Guerra faz com que o Hamas enfrente um possível vácuo de liderança em um momento crítico.
Suas capacidades militares foram gravemente reduzidas.
Sua liderança política sofre intensas pressões. Ela operou no Catar até novembro de 2024 e, hoje, seu paradeiro é desconhecido.
E seus mecanismos tradicionais de controle da Faixa de Gaza foram profundamente prejudicados.

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A falta de um comando estratégico centralizado pode levar à fragmentação do Hamas, ou ao surgimento de novas facções, talvez mais radicais.
Também pode se abrir um caminho para a reorganização, se não pelo Hamas, por outros personagens palestinos que podem tentar preencher a lacuna deixada em aberto.
A queda do Conselho de Guerra do Hamas marca o fim de um círculo interno sombrio, mas poderoso, que tomou uma das decisões mais relevantes da história do movimento.
Seu legado, para os palestinos, poderá ser de ousada resistência ou de um erro de cálculo catastrófico.
Mas um ponto está claro: com seu desaparecimento, uma era decisiva para a liderança do Hamas está chegando ao fim.