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segunda-feira, junho 2, 2025

Mudanças Climáticas e Uso da Terra Colocam Abelhas em Risco

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Getty Images

As abelhas estão mais vulneráveis aos efeitos das altas temperaturas

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A população mundial de insetos está em colapso, com mais de 40% de todas as espécies enfrentando risco de extinção. Os grupos mais afetados incluem antigos conhecidos: borboletas, mariposas, abelhas, vespas e besouros rola-bosta. O desaparecimento iminente desses animais representa sérias ameaças à segurança alimentar global, ao funcionamento adequado dos ecossistemas e à biodiversidade em escala planetária. O cenário é ainda mais grave para as espécies de abelhas, que são indicadores sensíveis da saúde dos ecossistemas.

Um estudo feito na Alemanha publicado recentemente aponta que a complexa interação entre mudanças climáticas e o uso humano da terra, que engloba a agricultura e urbanização, é o principal problema subjacente ao rápido declínio das populações de insetos.

Cientistas afirmam que a agricultura é a principal responsável pelo declínio populacional de animais não relacionados, como aves e mamíferos insetívoros. Mas como as mudanças no uso da terra e do clima interagem entre si para impactar as comunidades de insetos em diferentes habitats?

Cristine Ganuza, ecóloga e pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Würzburg, uma das mais antigas e renomadas da Alemanha, e uma equipe de cientistas da Universidade de Bayreuth, da Universidade Técnica de Munique e da Universidade de Ciências Aplicadas de Weihenstephan-Triesdorf investigaram com as temperaturas mais altas atuam em conjunto com práticas de uso intensivo da terra e contribuem para a extinção de insetos.

Utilizando diversos métodos de levantamento de campo, os pesquisadores examinaram 179 áreas em 60 regiões de estudo distribuídas pela Alemanha. Essas parcelas representavam um dos quatro tipos de habitat: floresta, pastagem, terras agrícolas e áreas urbanas. Cristine e seus colaboradores constataram que a diversidade de polinizadores aumentava à medida que a intensidade do uso humano da terra diminuía.

Estresse térmico

Os pesquisadores também descobriram que populações de abelhas que vivem em ambientes florestais demonstraram mais resiliência aos estresses causados por dias mais quentes; surpreendentemente, temperaturas diurnas mais elevadas estavam até associadas a maior abundância e diversidade de abelhas. Esse efeito não foi observado nas abelhas que vivem em ambientes urbanos, onde suas populações caíram 65%.

Essa constatação destaca os efeitos prejudiciais do calor excessivo combinado à destruição de habitats. Mas o que, especificamente, estava prejudicando os insetos?

Embora as abelhas sejam ativas durante o dia, quando geralmente está mais quente, os cientistas descobriram que o aumento das temperaturas noturnas, particularmente quando combinado à urbanização, era prejudicial, criando “armadilhas climáticas” em que abelhas e outros insetos lutam para sobreviver mesmo em locais com alguma proteção ambiental.

Além disso, temperaturas mais altas durante a noite reduziram de forma consistente tanto a diversidade quanto a abundância de abelhas em todos os tipos de habitat investigados.

“O impacto das temperaturas noturnas em insetos é significativo. Justamente porque as médias das temperaturas à noite estão subindo ainda mais rápido do que durante o dia”, disse Cristine. Ela acrescenta que não acredita que as abelhas morram por causa do calor excessivo à noite. “O problema é mais grave para os insetos do que para os humanos, porque são organismos ectotérmicos, ou seja, que não conseguem regular a temperatura corporal como humanos”, diz.

“O metabolismo das abelhas é determinado pelas condições externas de temperatura”, afirma Cristine. “Portanto, noites quentes podem mantê-las metabolicamente ativas quando deveriam estar em repouso”, diz. Segundo ela, isso pode impedir que os corpos dos insetos se recuperem adequadamente, e um metabolismo elevado também pode consumir as reservas de energia.

“Embora essa seja apenas uma hipótese, sabemos que voar consome muita energia para as abelhas”, acrescenta Cristine. “Se elas estiverem cansadas e fracas após uma noite quente, podem ter dificuldade para forragear e ficar mais suscetíveis a serem predadas por outros animais.”

Compreender a relação entre as mudanças climáticas e uso da terra é essencial para desenvolver estratégias de conservação que protejam as populações de insetos. Cristine e a equipe de colaboradores observaram que os estresses combinados do aquecimento climático e da intensidade do uso da terra variavam entre os diferentes níveis tróficos dos insetos.

Por um lado, os insetos predadores mostraram maior tolerância a temperaturas elevadas, mas foram prejudicados por paisagens simplificadas e sem vegetação natural, como os campos agrícolas.

Como proteger as abelhas

As conclusões do estudo têm implicações importantes para a agricultura e para práticas de gestão territorial, pois muitos insetos predadores desempenham um papel crítico no controle natural de pragas e na polinização.

Esse efeito negativo pode ser mitigado pela manutenção de um mosaico de áreas agrícolas intercaladas com habitats naturais, que sejam adequados para sustentar insetos essenciais à produção de alimentos.

O estudo destacou a importância da proteção e restauração de paisagens que mantém a ligação entre florestas e pastagens, permitindo que os insetos nativos se desloquem entre esses habitats naturais.

Essa medida é essencial porque polinizadores e predadores respondem de maneiras diferentes aos estresses ambientais e ao aumento das temperaturas noturnas, o que pode romper com o equilíbrio entre eles, parte fundamental para o funcionamento ideal dos ecossistemas.

A constatação mais preocupante do estudo é a de que mesmo alterações climáticas sutis podem amplificar pressões humanas já existentes sobre os ecossistemas, de maneiras complexas e inesperadas.

À medida que as temperaturas ambientais continuam a subir, entender as reações dos insetos — especialmente dos polinizadores, como as abelhas — será essencial para garantir a segurança alimentar global e, de fato, para proteger a vida na Terra.

Para Cristine e seus colaboradores, o aquecimento climático e o uso da terra formam uma teia complexa de ameaças que não podem ser enfrentadas isoladamente.

* “GrrlScientist” é o pseudônimo de uma ecologista e colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre ciência.



[Fonte Original]

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