Divulgação – Susana Balbo Wines
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Ana Lovaglio Balbo tem 37 anos, é uma empresária argentina em ascensão e carrega no sobrenome uma história espetacular. Balbo é um passaporte global no mundo do vinho e também um desafio digno de heroínas. “Balbo” vem da mãe, Susana Balbo, a primeira mulher enóloga da Argentina e a maior da América Latina, fundadora da Susana Balbo Wines, uma vinícola de 1999 criada em Mendoza.
Passados 26 anos, agora é a vez da herdeira ocupar o cargo de diretora de marketing da vinícola, que se destaca pela produção de vinhos especiais. Mas mais que isso, cabe a Ana dar continuidade ao legado da mãe, preservando a tradição e inovando no enoturismo e na gastronomia.
Honrar os feitos da mãe não é pouca coisa. Susana Balbo é conhecida por ter emplacado o vinho argentino no mundo com o Torrontés, produzido a partir da uva branca de mesmo nome e nativa do país. Com faturamento anual em torno de US$ 12 milhões (R$ 68,8 milhões), uma produção de 2,5 milhões de litros por ano, equipe de 120 empregados e presença em quase 40 mercados globais, a empresa de um quarto de século ainda é um projeto em ascensão para Ana.
“Desde pequena o vinho esteve na minha vida. Foram muitas as viagens que, supostamente, eram só férias. Mas no meio delas apareciam vinícolas, jantares, hotéis e eventos de vinhos”, disse Ana, em uma entrevista exclusiva à Forbes.
Das sonecas no escritório da mãe, quando ainda tinha meses de idade, aos passeios nas vinhas aos finais de semana, Ana e o irmão José, nasceram e cresceram na vitivinicultura. Agora, cada um trilha seu caminho de um jeito. Ele na enologia, e ela no enoturismo. Foi Ana que criou o restaurante Osadía de Crear e o hotel Susana Balbo Unique Stays, em propriedades da vinícola.
Não por acaso, viagens para promover os vinhos e os empreendimentos da Susana Balbo Wines fazem parte da sua agenda. Ana esteve em São Paulo, em maio, para participar da cerimônia de lançamento do Guia Michelin Rio de Janeiro e São Paulo 2025, evento que reuniu chefs dos restaurantes da nova seleção e figuras destacadas do setor gastronômico. O nome Michelin é como música para os seus ouvidos. E o motivo é uma conquista: o Osadía de Crear ganhou sua primeira estrela em abril deste ano.
“Em 2012, quando entrei para os negócios da vinícola, havia pouquíssimos projetos gastronômicos em vinícolas de Mendoza. Eu ficava olhando o jardim que temos, com vista para a montanha e uma boa localização, e pensei ‘preciso fazer alguma coisa de turismo’”, diz Ana, que lembra da reação da mãe quando surgiu a ideia do restaurante. “Ela só disse ‘Vamos. Quanto você precisa?’ e eu respondi US$ 30 mil, mas era mentira, porque investi US$ 100 mil”, conta aos risos.
Hoje, o Osadía de Crear carrega dois selos de peso: o nome da vinícola Susana Balbo Wines e a Estrela Verde Michelin, reconhecimento dado aos estabelecimentos que demonstram um compromisso com a sustentabilidade e a gastronomia responsável em todos os seus processos.
O restaurante utiliza ingredientes de origem local, possui sua própria horta orgânica e trabalha com fornecedores parceiros da região para reduzir a pegada de carbono. Segundo o Guia, o Osadía de Crear também reutiliza água para irrigação, recicla resíduos, produz seu próprio composto orgânico e possui uma iniciativa para dar maior visibilidade ao papel das mulheres na gastronomia, a “Al Mando”. “Os números do Osadía só crescem, ano após ano, de forma constante. E isso não é mágica, nada é da noite para o dia. A estrela verde é fruto de dez anos de esforço”, diz a Ana.
Outra ideia da sua mente inquieta, que puxou da mãe, foi a Susana Balbo Unique Stays, um hotel construído em uma antiga propriedade da família em Chacras de Coria, cidade ao norte de Mendoza. “Esse foi um projeto de mãe e filha. Era pandemia, eu estava grávida e achava que talvez não fosse o melhor momento, mas o espírito empreendedor e destemido da minha mãe me inspirou a seguir em frente”, diz Ana, que investiu no empreendimento sozinha.
Segundo ela, 20% do faturamento anual da Susana Balbo Wines vem dos projetos de enoturismo. “Eles são a cereja do bolo perfeita para a marca, porque quem visita a vinícola ou o hotel, nunca vai esquecer dessa experiência conjunta”, diz Ana. Sem spoilers, ela afirma que já está tentando emplacar mais um projeto.
Hoje, com os três trabalhos — incluindo a maternidade — Ana mal respira o ar de Mendoza por conta da rotina de viagens. Enquanto sua mãe, nos anos 1970, enfrentava desafios por ser mulher na indústria vinícola e ter que criar dois filhos, Ana não sente o preconceito que Susana sentiu. Mas conciliar o trabalho com a maternidade se tornou o seu maior desafio, ainda que, eventualmente, ela repita os feitos da mãe e leve os três filhos em uma viagem ou outra em vinícolas mundo afora.
Em entrevista à Forbes Argentina, em 2024, Susana Balbo afirmou que estava tentando abrir mercado nos Estados Unidos. E deu certo. Hoje, segundo Ana, além dos EUA, a empresa exporta os vinhos para 40 países, sendo os principais Canadá, Brasil, Reino Unido e Japão.
O Brasil é o mercado que mais cresceu em importações nos últimos 15 anos. Por aqui, o rótulo que mais vende é o Crios Malbec, em faturamento e em volume. Ele é importado e distribuído pela Cantu Grupo Wine, uma das principais importadoras e distribuidoras de vinhos no país. Hoje, a Cantu importa uma média de 40 mil caixas de rótulos Susana Balbo, por ano.
Ana olha para seus feitos com carinho e compreende que a Susana Balbo Wines precisa continuar com a mesma excelência com que a mãe a construiu. “Para mim, é uma realização pessoal olhar para trás e dizer que boa parte do que temos é resultado do meu trabalho. Na família, gostamos das coisas bem feitas e seguiremos assim”, diz ela.