- Author, Zoya Mateen
- Role, De Nova Déli (Índia) para a BBC News
Sempre que Aryan Asari ouvia o som de uma aeronave, ele saía de casa em disparada para olhar.
Observar aviões era uma espécie de hobby para ele, segundo seu pai, Maganbhai Asari.
O adolescente adora ouvir o som estrondoso do motor encher os ares e ficar cada vez mais alto, enquanto o avião voa sobre ele, deixando para trás as trilhas brancas de condensação no céu.
Mas, agora, só de pensar nisso, ele já se sente mal.
Na quinta-feira da semana passada (12/6), o jovem de 17 anos estava no terraço de casa na cidade de Ahmedabad, na Índia, filmando aeronaves.
Foi quando um Dreamliner 787-8 da Air India caiu em frente aos seus olhos e se desfez em chamas, matando 241 pessoas a bordo e quase 30 pessoas no solo.
Aryan Asari capturou o momento no seu telefone celular.
“Eu vi o avião”, contou ele à BBC News Gujarati, em entrevista no início da semana.
“Ele estava caindo cada vez mais. Então, ele se agitou e caiu no chão bem em frente aos meus olhos.”
A filmagem foi reproduzida pela imprensa em todo o mundo — colocando Asari, um estudante do ensino médio, no centro de um dos piores desastres de avião da história do país.
“Fomos inundados por pedidos de entrevistas”, contou seu pai à BBC. “Os repórteres cercaram minha casa dia e noite, pedindo para falar com ele.”
O incidente e tudo o que veio depois tiveram “impacto devastador” para Aryan, que ficou traumatizado com o que viu.
“Meu filho está tão assustado que parou de usar seu celular”, segundo seu pai.

Crédito, EPA
Maganbhai Asari é um soldado aposentado do exército. Agora, ele trabalha no metrô da cidade e, há três anos, mora em um bairro perto do aeroporto.
Recentemente, ele se mudou para um pequeno quarto no terraço de um edifício de três andares, com visão clara do céu da cidade.
Sua esposa e seus dois filhos — Aryan e sua irmã mais velha — moram na aldeia de seus ancestrais, perto da fronteira entre os Estados indianos de Gujarat e Rajastão.
“Era a primeira vez que Aryan vinha a Ahmedabad”, conta o pai. “Na verdade, foi a primeira vez na vida que ele saiu da aldeia.”
“Sempre que eu ligava, Aryan perguntava se ele poderia observar aviões do nosso terraço. Eu dizia que ele poderia ver centenas deles riscando os céus.”
O pai explica que Aryan já adorava aviões e gostava de vê-los quando sobrevoavam sua aldeia.
A ideia de que ele poderia vê-los muito mais de perto, do terraço da casa nova do seu pai, o atraiu muito.
A oportunidade se apresentou na semana passada, quando a filha de Asari viajou para Ahmedabad para prestar um concurso para a polícia. Aryan decidiu acompanhá-la.
“Ele me disse que queria comprar cadernos e roupas novas”, lembra o pai.
Os irmãos chegaram à casa do pai perto de meio-dia na quinta-feira — cerca de uma hora e meia antes do acidente.
A família almoçou junta e Maganbhai Asari saiu para trabalhar em seguida, deixando os filhos em casa.
Aryan foi para o terraço e começou a fazer vídeos da casa para mostrar aos seus amigos. Foi quando ele observou o avião da Air India e começou a filmar, segundo contou à BBC.
Aryan Asari logo percebeu que algo estava errado com a aeronave, que “estava se agitando, se movendo para a esquerda e para a direita”, relembra ele.
Quando o avião entrou em espiral para baixo, ele continuou filmando, sem conseguir entender o que estava acontecendo.
Quando a espessa fumaça preencheu o ar e o fogo surgiu nas construções, ele finalmente percebeu o que havia acabado de presenciar.
O menino enviou o vídeo para o seu pai e ligou para ele.

“Ele parecia muito assustado”, relembra o pai.
O filho dizia: “Eu vi, papai, eu vi cair.”
“Ele me perguntou várias vezes o que iria acontecer com ele. Eu disse para ele ficar sentado e não se preocupar. Mas ele estava horrorizado e fora de si”, relata o aposentado.
Asari pediu ao filho que não compartilhasse o vídeo. Mas, em choque e muito assustado, Aryan o mandou para alguns dos seus amigos.
“Só o que soubemos depois é que o vídeo estava em toda parte.”
Os dias que se seguiram foram um pesadelo para a família. Não só repórteres e câmeras, mas também vizinhos inundaram a pequena casa dos Asari dia e noite, pedindo para conversar com Aryan.
“Não conseguíamos fazer nada para impedi-los”, conta o pai.
A família também recebeu uma visita da polícia, que levou o menino para a delegacia e registrou seu depoimento.
Asari esclarece que, ao contrário do noticiado, o filho não foi detido. Mas a polícia o questionou por algumas horas sobre o que havia visto.
“Meu filho ficou tão perturbado com aquilo que decidimos enviá-lo de volta para a aldeia”, conta o pai.
De volta para casa, Aryan Asari retomou as aulas, mas “ainda não voltou ao normal”.
“A mãe dele me conta que, toda vez que o seu telefone toca, ele fica assustado”, diz o pai.
“Sei que ele vai ficar bem com o tempo. Mas não acho que meu filho irá tentar observar aviões no céu outra vez.”
Com colaboração de Roxy Gadgekar, da BBC News Gujarati, em Ahmedabad (Índia).