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Uma série de ataques de grande proporção de Israel contra o Irã na semana passada deflagrou um conflito entre os dois países — que há muito tempo são adversários ferrenhos no Oriente Médio.
Foram atacadas usinas nucleares como a de Natanz e alvos militares iranianos. Foi também o maior ataque da história contra a elite militar iraniana, segundo analistas.
Israel alega que seu objetivo é atacar o programa nuclear iraniano. O Irã afirma que seu programa nuclear é pacífico, mas Israel e aliados dizem que o país está desenvolvendo armas nucleares.
Existe o temor de que esse conflito entre duas potências regionais tenha repercussões maiores: desde alta em preços internacionais de combustíveis e alimentos ao envolvimento de grandes potências no conflito.
Confira abaixo como as grandes potências — e também o Brasil — têm se posicionado sobre o conflito entre Israel e Irã até agora.
EUA: ‘Rendição total do Irã’

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Os EUA inicialmente afirmaram não estarem envolvidos na decisão de Israel de bombardear instalações nucleares iranianas — mas o presidente americano, Donald Trump, disse que os EUA apoiam Israel.
Na terça-feira (17/6), Trump disse perseguir “um fim real” do conflito entre Irã e Israel, e que isso poderia incluir “uma rendição completa” por parte do Irã.
As mensagens de Trump têm sido ambíguas. Ele chegou a dizer que Teerã deveria ser evacuada, sugerindo que um grande ataque ao Irã estaria próximo de acontecer.
Trump disse que o Irã precisaria abandonar totalmente seu programa nuclear.
Apesar disso, reconheceu que isso exigiria novas negociações — algo para o qual, segundo suas próprias palavras, o Irã “não está muito disposto no momento”.
O republicano criticou Teerã por não ter aceitado o acordo que ele teria proposto antes dos ataques israelenses começarem.
“Sabemos exatamente onde o assim chamado ‘Líder Supremo’ está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro ali — não vamos eliminá-lo (matar!), pelo menos por enquanto”, escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social, na terça.
Inicialmente, quando o conflito começou, a reação americana havia sido mais neutra, se distanciando de Israel.
Na sexta-feira da semana passada, dia dos ataques iniciais, o secretário de Estado, Marco Rubio, divulgou um comunicado afirmando que Israel havia tomado “ações unilaterais” e alertando o Irã para não retaliar contra os EUA.
“Não estamos envolvidos em ataques contra o Irã e nossa principal prioridade é proteger as forças americanas na região”, disse Rubio. “Para ficar claro: o Irã não deve ter como alvo interesses ou pessoal dos EUA.”
A TV estatal iraniana acusou Washington de ser “cúmplice” de um ataque que “matou crianças”.

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O presidente americano, Donald Trump, disse que os EUA foram informados por Israel antes do ataque.
Trump disse que “é claro” que os EUA apoiam Israel “e apoiam como ninguém jamais apoiou” e que os ataques israelenses “têm sido excelentes” e que “há mais por vir — muito mais”.
Para os correspondentes da BBC News nos EUA, Christal Hayes e Bernd Debusmann Jr, a estratégia de Trump parece ser esperar que a ação militar leve o Irã a fazer novas concessões em negociações sobre seu programa militar, mas que se trata de “uma dança delicada de distanciar os EUA das ações de Israel enquanto ainda tenta usá-las para obter vantagem na mesa de negociações”.
China: apoio ao direito de defesa do Irã
O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, telefonou para os ministros do Irã e de Israel no sábado (14/6).
Wang condenou o ataque de Israel que desencadeou o conflito na sexta-feira e defendeu o direito do Irã de se defender.
“A China condena explicitamente a violação por parte de Israel da soberania, segurança e integridade territorial do Irã […] e apoia o Irã na salvaguarda da sua soberania nacional, defendendo os seus direitos e interesses legítimos”, disse Wang, em um comunicado oficial divulgado pelo governo da China.
A China também se apresentou como possível mediador do conflito e “disposta a desempenhar um papel construtivo neste processo”.
Nesta segunda-feira (16/6), a China instou Israel e Irã a tomarem medidas para reduzir a tensão, enquanto os ataques de ambos os lados continuam.
“Conclamamos todas as partes a tomarem medidas imediatas para acalmar as tensões, evitar que a região mergulhe em uma turbulência ainda maior e criar condições para retornar ao caminho certo de resolução de problemas por meio do diálogo e das negociações”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun.
Rússia: condenação a Israel
Na noite de sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, manteve conversas telefônicas separadas com Netanyahu e com o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, informou o Kremlin.
Putin condenou as ações israelenses e também “expressou a disposição de fornecer serviços de mediação para evitar uma nova escalada de tensões”, segundo comunicado do governo russo.
A Rússia é uma importante aliada militar e política do Irã.
A imprensa russa indicou que Moscou pode até se beneficiar do conflito entre Israel e Irã.
“Por mais cínico que isso possa parecer em um nível tático, há vantagens [para a Rússia] no conflito entre Irã e Israel”, disse artigo do jornal russo Moskovsky Komsomolets.

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Isso inclui preços globais mais altos do petróleo e menos atenção internacional para a guerra da Rússia na Ucrânia. A alta dos preços internacionais beneficia a economia russa.
“Kiev foi esquecida”, afirma Moskovsky Komsomolets, em relação à guerra na Ucrânia.
“Qualquer escalada no Oriente Médio distrai os oponentes de Moscou da Ucrânia e altera as prioridades da assistência militar ocidental”, escreveu o diário de negócios Kommersant.
“A Rússia poderia, teoricamente, desempenhar o papel de árbitro imparcial, ajudando, se não a resolver a crise, pelo menos a acalmá-la. Dessa forma, Moscou fortaleceria sua influência na região.”
Mas o Kommersant alerta que a escalada também acarreta sérios riscos e custos potenciais para Moscou. A Rússia não conseguiu impedir o ataque de Israel contra um país com o qual Moscou assinou um acordo abrangente de parceria estratégica há cinco meses.
Brasil: fortes críticas a Israel
Na sexta-feira, após o ataque de Israel contra o Irã, o ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota na qual “o governo brasileiro expressa firme condenação e acompanha com forte preocupação a ofensiva aérea israelense lançada na última madrugada contra o Irã, em clara violação à soberania desse país e ao direito internacional”.
Segundo o Itamaraty, “os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial”.
O Brasil instou as partes envolvidas “ao exercício da máxima contenção”, com “fim imediato das hostilidades”.
O Brasil também se manifestou sobre um problema pontual causado pelo conflito entre Israel e Irã: a presença em Israel de duas comitivas com autoridades estaduais e municipais que participavam de uma feira de tecnologia e segurança a convite do governo israelense.
As delegações — que incluíam o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), e de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas) — precisaram se abrigar em bunkers subterrâneos quando o conflito eclodiu.
Segundo a Confederação Nacional dos Prefeitos, a comitiva já conseguiu deixar o território israelense e chegar à Jordânia.

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As relações entre Brasil e Israel estão estremecidas desde que começou o mais recente conflito na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
“E vem dizer que é antissemitismo? Precisa parar com esse vitimismo. O que está acontecendo na Faixa de Gaza é um ge-no-cí-dio”, disse, enfatizando as sílabas da palavra.
“É a decisão de um governo que nem o povo judeu quer. Nem o povo judeu quer. Então, não dá, como ser humano, aceitar isso como se fosse uma guerra normal. Não é”, disse ainda.
Na sexta-feira, a Agência Brasil noticiou que o governo brasileiro estuda medidas para romper relações militares com Israel em resposta às ações israelenses na Faixa de Gaza.
“Pessoalmente, acredito que a escalada dos massacres em Gaza, que constituem verdadeiro genocídio com milhares de civis mortos, incluindo crianças, é algo que não pode ser minimizado. O Brasil precisa, inclusive, por meio das medidas apropriadas, ser coerente com os princípios humanitários e de direito internacional que sempre defendeu”, disse à agência o assessor-chefe especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim.
Segundo a agência, o governo avalia que o rompimento de relações diplomáticas seria algo delicado e complexo e que poderia prejudicar tanto os brasileiros que vivem em Israel quanto os palestinos, diante do fim da possibilidade de contato com Tel Aviv.
Por isso, o governo estaria cogitando o rompimento de relações militares, com suspensão de contratos e cooperação nesse setor.