O economista estadunidense Paul Romer declarou na última quinta-feira (12) que a inteligência artificial (IA) “não é confiável”. O vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2018 esteve presente no painel “Inovação, Crescimento e o Futuro da Economia na Era da Inteligência”, durante o último dia do Febraban Tech, em São Paulo.
Segundo o professor do Boston College, a “IA é interessante, faz coisas incríveis, mas ainda é muito fraca”.
Temos que tomar muito cuidado e não nos deixarmos levar por pessoas que querem ganhar dinheiro e vendem ferramentas perigosas, que não estão prontas para serem usadas da maneira que querem usá-las, alertou.
O ex-presidente do Banco Mundial, aconselhou que cientistas desenvolvedores e companhias voltas a IA não sejam ouvidos.
Os cientistas da computação porque estão interessados nas coisas novas que podem fazer. E as empresas porque querem vender o que eles criaram com sistemas de computação. Eles estão vendendo ferramentas nas quais a primeira coisa que você deveria perceber é quando há um erro, disse.
O palestrante disse ainda que “os modelos não estão melhorando no sentido de chegar a 100% de precisão”.
Eles estão presos, e nós estamos alimentando eles com cada vez mais dados. Nunca chegaremos ao ponto de precisão, acrescentou.
O matemático salientou que “grandes modelos de linguagem podem ser úteis, mas também podem falhar, e eles falham previsivelmente” e ponderou dizendo que “temos que nos perguntar se o custo da falha é suficientemente pequeno e o benefício suficientemente grande para valer a pena usar o modelo – e aposto que quase nunca fará sentido usar um LLM [linguagem de aprendizado de máquina]”.
Mas há pessoas que vão fazer muito dinheiro vendendo serviços baseados em LLM que não vão te dizer que seria melhor não usar, emendou.
O especialista disse ainda que as pessoas não querem uma ferramenta com 50% ou 55% de precisão e ressaltou que os modelos de IA “não estão melhorando para chegar a 100% de confiança”.
Eles [os modelos de IA] estagnaram, e estamos ficando sem mais dados para continuar alimentando. Então, não tenho certeza se eles algum dia terão o nível básico de precisão que alguém como um advogado precisaria para poder usá-los”, explicou.
Ele fez um alerta para o problema das alucinações, que é a invenção de respostas:
Se você pensa que pode ligar um modelo de aprendizado de máquina de IA e conseguir uma resposta certa em uma questão importante, foi enganado sobre algo que simplesmente não é verdade.
Citando o caso do atropelamento e morte de uma mulher por um carro da Tesla, Paul Romer disse que “erros são caros, e não apenas para reputação [das empresas]”.
Hoje usamos software para mover grandes pedaços de metal, como aviões e carros, e nesse caso erros são muito custosos.
PBIA e Norma
No outro lado do pessimismo de Paul Romer, o governo federal publicou esta semana a Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê investimentos de até R$ 23 bilhões ao longo de quatro anos. Já o estado de Goiás (GO) lançou a Norma, primeira assistente virtual com inteligência artificial (IA) do Brasil especializada em legislação estadual.
Em relação ao PBIA, a iniciativa estratégica foi elaborada no âmbito do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), com coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e apoio técnico do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Nesse caso, a proposta entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), em julho de 2024, passou por atualizações incrementais.
Segundo o diretor do CGEE, Caetano Penna, o plano é um instrumento dinâmico. Entre as metas previstas está a aquisição de um dos cinco supercomputadores mais potentes do mundo, o que permitirá ampliar significativamente a capacidade nacional de processamento de dados e pesquisas avançadas em IA, conforme informou o MCTI.
Com o PBIA, mostramos que o Brasil atua para ser protagonista ativo na definição dos rumos da inteligência artificial global. Somos líderes na América Latina em produção científica sobre o tema e temos forças e oportunidades para consolidar a IA como vetor de desenvolvimento e projeção internacional do país, afirmou Penna.
Por sua vez, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, acrescentou que o PBIA é resultado de um amplo processo de construção coletiva com participação de governo, academia e setor produtivo e incorpora o compromisso com uma IA alinhada às demandas e características brasileiras.
Não desejamos simplesmente importar soluções; queremos desenvolvê-las aqui, por brasileiros e para brasileiros, considerando nossas particularidades sociais, culturais e econômicas, destacou.
Em relação à Norma, a assistente virtual focada em legislação estadual foi lançada esta semana pela Casa Civil de Goiás. A ferramenta, segundo informações do governo goiano, é integrada à plataforma Legisla Goiás e foi desenvolvida para tornar mais simples e acessível o entendimento das leis estaduais, promovendo transparência, inclusão digital e fortalecimento do governo digital.
Utilizando tecnologias avançadas como Processamento de Linguagem Natural (PLN) e Recuperação Aumentada por Geração (RAG), a Norma oferece respostas rápidas, claras e fundamentadas, permitindo que qualquer cidadão compreenda seus direitos e deveres com segurança e autonomia. Além do portal Legisla Goiás, a Norma também pode ser acessada pelo Whatsapp.
Coordenado pela Secretaria de Estado da Casa Civil, o projeto contou com a atuação de equipes técnicas, comunicação, sob a supervisão institucional da subsecretária de Legislação e Atos Oficiais, Emília Munhoz Gaiva.
O titular da pasta, Jorge Pinchemel, explicou que a Norma representa mais um avanço na construção de uma administração pública mais moderna, acessível e próxima da população.
É um marco da inovação, promovida pelo Governo de Goiás. Com essa ferramenta, facilita-se o acesso à legislação estadual, com linguagem simples e acessível. É o uso da inteligência artificial a favor da cidadania, da transparência e da eficiência administrativa, declarou.
Recentemente, a empresa global de soluções em benefícios e engajamento para colaboradores Pluxee divulgou uma pesquisa apontando que 32% dos brasileiros estão com medo de perder o emprego para IA, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.