O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, agora integrante do Nubank, não mediu palavras ao comentar sobre a situação atual das moedas tradicionais. Durante o episódio 10 da série “Conversas Presidenciais”, promovida pelo próprio Banco Central, ele fez duras críticas à condução econômica dos governos nos últimos anos.
Logo no início, Campos Neto respondeu à pergunta de Gabriel Galípolo, atual presidente do BCB, sobre como explicar o papel da instituição para um cidadão comum. Sem rodeios, ele destacou que a transformação digital revolucionou completamente o sistema financeiro.
“O custo marginal de resgatar dinheiro foi para quase zero. Hoje, com três ou quatro cliques no celular, você movimenta dinheiro,” afirmou. Para ele, esse avanço tecnológico trouxe um novo desafio para os reguladores. “Uma simples notícia ruim sobre um banco se espalha em segundos e gera uma corrida bancária digital,” completou.
Transformação não vai parar
Ao longo da conversa, Campos Neto também destacou que empresas fora do sistema bancário tradicional passaram a oferecer serviços financeiros, forçando os bancos a se modernizarem rapidamente.
“Acho que tem uma parte de criptomoedas, criptoativo, stablecoins, que acelerou muito e que está forçando os bancos, ainda que com alguma resistência, a olhar isso de uma forma diferente. O que a gente chama de DeFi, que são as finanças descentralizadas, os bancos vão precisar estar mais próximos disso.”
O ex-presidente do BCB foi além. Segundo ele, os últimos seis anos trouxeram mais mudanças no sistema financeiro do que os vinte anos anteriores. “E essa transformação não vai parar por aqui,” garantiu.
Mas foi em um dos trechos mais fortes da entrevista que Campos Neto fez sua crítica mais contundente.
“Os governos, ao longo dos últimos anos, trataram mal as moedas, globalmente falando. Houve muita emissão de dívida e muito pouca prestação de contas para quem detém a moeda, para o cidadão. Os governos buscaram saídas fáceis, de vários tipos, que no final custaram a credibilidade das moedas,” disparou.
Segundo ele, essa perda de confiança levou naturalmente ao crescimento das criptomoedas. “Esse movimento em direção às moedas digitais não é por acaso,” reforçou.
E não são só os cidadãos que caminham nesse sentido. Campos Neto acredita que até mesmo os bancos centrais vão adotar criptomoedas no futuro. Para ele, o que acontece hoje nos Estados Unidos já é um sinal claro disso.
“Políticas que aproximam stablecoins de cartões pré-pagos ou de formas mais robustas de monetizar ativos digitais vão fazer parte da estratégia dos bancos no futuro,” afirmou com convicção.
Bitcoin é ouro digital
Ao falar sobre ativos digitais, Campos Neto fez questão de citar diretamente o Bitcoin, chamando-o de uma espécie de “ouro digital”. Segundo ele, a digitalização da economia levanta uma pergunta crucial: “Qual é o melhor tipo de reserva de valor? Será que eu consigo ter uma propriedade digital?”
Nesse contexto, ele afirmou que o debate que hoje ocorre no Congresso americano sobre o Bitcoin é fundamental para entender os rumos da economia global.
Ao encerrar, Campos Neto também refletiu sobre sua trajetória no Banco Central, seus planos no início do mandato e o que diria ao seu eu do passado. Tudo isso faz parte da série “Conversas Presidenciais”, disponível no canal oficial do Banco Central no YouTube.
O episódio também se soma às conversas anteriores, que reuniram outros ex-presidentes da instituição, como Ilan Goldfajn, Alexandre Tombini, Armínio Fraga e Gustavo Loyola, mostrando como a transformação do sistema financeiro é, hoje, um tema impossível de ser ignorado.