O governo iraniano impôs uma das mais severas restrições à internet dos últimos anos, reduzindo 80% da banda larga em todo o país nesta terça-feira, em resposta ao que classificou como “operações secretas israelenses em andamento”. A informação foi revelada pelo New York Times, com base em declarações de duas autoridades iranianas, incluindo uma fonte do ministério das telecomunicações. Também nesta terça, em meio ao conflito, um ataque cibernético interrompeu os serviços do Banco Sepah, uma das instituições financeiras mais antigas e amplamente utilizadas no Irã, o que causou problemas em alguns postos de gasolina do país.
Segundo a agência de notícias Tasnim, afiliada à Guarda Revolucionária, os serviços de internet seriam completamente desligados na noite desta terça e substituídos por uma intranet nacional controlada pelo Estado. Com isso, muitos iranianos passaram a depender exclusivamente de conexões Wi-Fi residenciais.
Há dias, os iranianos descrevem o agravamento dos problemas com a internet ao tentarem contatar entes queridos, obter notícias confiáveis, acessar suas contas bancárias ou simplesmente se conectar às rede sociais. As restrições, inclusive, podem estar afetando a capacidade das pessoas de ver avisos relacionados ao conflito com Israel — como os que o Exército israelense emitiu na segunda-feira, quando ordenou que a população de uma parte de Teerã evacuasse devido a um ataque iminente.
Nesta terça, segundo o jornal israelense Haaretz, moradores de diversas regiões do Irã relataram interrupções generalizadas nas redes de dados móveis, que afetaram o acesso a aplicativos e sites estrangeiros. No entanto, plataformas digitais nacionais permaneceram ativas.
Usuários também relataram bloqueios intermitentes em serviços de VPN, ferramenta amplamente utilizada no país para driblar o controle do governo sobre o ambiente digital. Durante décadas, o governo iraniano restringiu o acesso a certos sites e aplicativos de mídia social, como Facebook e Instagram, e muitos iranianos recorreram à VPNs para contornar a “censura”.
O governo iraniano pediu que as pessoas usem o NIN, que permite o envio de mensagens apenas usando plataformas governamentais — softwares nos quais muitas pessoas não confiam ou acreditam que sejam seguros.
A mídia iraniana informou que Israel estaria conduzindo uma “guerra cibernética maciça” contra a infraestrutura digital do país. O comando de segurança cibernética do Irã, de acordo com a agência Reuters, afirmou que “muitos dos ataques foram repelidos com sucesso”.
Em meio às tensões, a televisão estatal iraniana transmitiu um alerta oficial à população pedindo a remoção do aplicativo WhatsApp. A justificativa, segundo a emissora, é que o serviço de mensagens “coleta informações pessoais e as fornece a Israel”. De acordo com o comunicado, “fontes familiarizadas com o assunto” alegam que o aplicativo “marca indivíduos e compartilha sua última localização conhecida e dados de comunicação com Israel”.
O Netblocks, um grupo de monitoramento da internet, relatou que uma “análise de telemetria mostra uma redução significativa no tráfego da internet” no Irã, mostrando um gráfico com um declínio acentuado.
— Parece que estamos caminhando para uma desconexão total — disse Amir Rashidi, especialista em segurança cibernética, baseado nos Estados Unidos.
As interrupções, até agora, não parecem ser uniformes, embora muitos acreditem que o governo esteja tentando impedir que as pessoas compartilhem informações sobre locais atingidos por ataques israelenses.
Ataque cibernético compromete banco
Um ataque cibernético interrompeu os serviços do Banco Sepah, uma das instituições financeiras mais antigas e amplamente utilizadas no Irã, informou nesta terça-feira a agência de notícias FARS. As interrupções na instituição causaram problemas em alguns postos de gasolina do país que dependem do Sepah para processar transações. Além do ataque, a imprensa iraniana informou que também houve um corte generalizado da internet em todo o país nesta terça-feira.
A autoria do ataque foi reivindicada pelo grupo de hackers “Gonjeshke Darande” — ou “Pardal Predador” — que declarou ter “destruído todos os dados do Banco Sepah”, segundo o jornal Times of Israel. A organização, que de acordo com a rede americana CNN é ligada a Israel, tem um histórico de ataques cibernéticos contra o Irã nos últimos anos, incluindo contra postos de gasolina e uma siderúrgica.
“O Banco Sepah era uma instituição que burlava sanções internacionais e usava o dinheiro do povo do Irã para financiar os terroristas representados pelo regime, seu programa de mísseis balísticos e seu programa nuclear militar”, afirmou o grupo em publicação no X.
Nos últimos anos, o Irã sofreu uma série de ataques cibernéticos contra seus postos de gasolina, sistema ferroviário e indústrias. Câmeras de vigilância em prédios governamentais, incluindo prisões, também foram hackeadas no passado.
O país, de acordo com o Times of Israel, desconectou grande parte de sua infraestrutura governamental da internet depois que o vírus de computador Stuxnet — considerado uma criação conjunta dos EUA e Israel — interrompeu milhares de centrífugas iranianas em instalações nucleares do país no final dos anos 2000. (Com The New York Times)