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quarta-feira, junho 18, 2025

‘Problema de comunicação’ é de todos os governos

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Analistas políticos e até líderes do Poder Executivo federal têm repetido há meses o argumento de que há um “problema de comunicação no governo Lula 3”. Muitas vezes, esse ponto é associado à baixa popularidade do governo registrada pelos institutos de pesquisa. Embora a hipótese do “problema de comunicação” não possa ser descartada, ela tem sido discutida numa perspectiva unidirecional. Nessa abordagem, o efeito (impopularidade) seria resolvido na medida em que o governo resolva o “problema da comunicação”.

Essa visão omite aspectos essenciais da transformação do ecossistema de comunicação das últimas décadas. Ainda que a crítica aponte as dificuldades do governo de se adaptar ao “novo” cenário, ela dá pouca atenção aos limites com que qualquer governo, e não apenas este, terá de lidar daqui para a frente, pelo menos governos em nível nacional.

Quando governou o Brasil entre 2003 e 2010, o presidente Lula ainda lidava com um sistema de fluxos de informação política linear, relativamente estável e previsível. Naquele contexto, as ações de tornar públicos os atos do governo fluíam em sentido único, numa estrutura verticalizada, conhecida como modelo broadcasting. Poucos e grandes veículos de comunicação participavam desse modelo de escassez informativa, distribuindo notícias e interpretações, segundo códigos do jornalismo tradicional. Na publicidade, o governo gastava alguns milhares de centenas de reais para fazer a parte mais persuasiva das suas políticas.

Entre Lula 1 e Lula 2, contudo, assistimos também ao nascimento das principais redes sociais, como Facebook (2004), YouTube (2005), X (2006), Instagram (2006) e TikTok (2012), além do aplicativo de mensagem preferido dos brasileiros: WhatsApp (2009). A digitalização transformou radicalmente o fluxo de informação política, passando de um sistema de “um para muitos”, para um ambiente de “muitos para muitos”. A mudança reduziu os custos de publicação e distribuição, ampliando o número de vozes que comentam temas políticos. Como sabemos, a era da abundância informativa veio seguida também de mais ruídos e desinformação.

Outros dois pontos merecem ser observados. A tecnologia digital permitiu o desacoplamento do conteúdo, de modo que as notícias não são mais consumidas primariamente em pacotes (como um jornal ou um noticiário), mas encontradas em fragmentos muitas vezes descontextualizados ou reenquadrados por novos mediadores. Informações são compartilhadas em formatos otimizados, com apelo instantâneo, segundo as regras de distribuição em plataformas. Tudo mudou.

Nesses formatos, informações governamentais — especialmente aquelas de caráter mais formal ou que detalham políticas complexas — podem não se encaixar facilmente, ser menos inerentemente virais ou emocionalmente envolventes (comparadas a controvérsias ou notícias negativas). Apesar disso, lutam para ganhar visibilidade e ser selecionadas pelos algoritmos e pela própria audiência para compartilhamento. O problema é que notícias positivas podem ser facilmente soterradas pela velocidade e visibilidade de controvérsias, escândalos ou abordagens negativas que circulam on-line.

O segundo ponto a destacar refere-se às mudanças nos veículos tradicionais, que hoje classificamos de ciclo informação da “mídia híbrida”. Na disputa por audiência, eles passaram a incorporar dinâmicas do meio digital em suas coberturas. Resultado: muitas notícias negativas ou controvérsias nascidas no ambiente digital são amplificadas pelos veículos tradicionais. Atores mal-intencionados ou lideranças partidárias críticas ao governo ampliaram, nesse sentido, a capacidade de interferir na agenda pública. Primeiro, ao influenciarem a atenção on-line; segundo, ao mobilizarem a cobertura dos veículos. É um novo tempo, e todo governo terá de saber conviver com o “problema de comunicação” permanente.

*Fábio Vasconcellos, cientista político, é professor da Uerj e da PUC-Rio e pós-doutorando no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Representação e Legitimidade Democrática da Universidade Federal do Paraná

[Fonte Original]

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