23.5 C
Brasília
quinta-feira, julho 3, 2025

O que significa “enriquecer urânio?” Entenda polêmica com o Irã

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

A questão do enriquecimento de urânio é um dos temas mais sensíveis da geopolítica contemporânea, especialmente quando envolve o Irã. Esse processo pode servir tanto para fins pacíficos, como a geração de energia, quanto para a fabricação de armas nucleares

É essa dupla possibilidade que torna o programa nuclear iraniano alvo constante de desconfiança, tensões diplomáticas e sanções.

Neste artigo, explicamos o que é enriquecer urânio, como funciona esse processo e por que ele está no centro das disputas internacionais envolvendo Irã, Israel, EUA e outros atores globais.

O que é e para que serve o urânio?

Cientistas estudam origem dos elementos mais pesados do Universo, nos quais está incluso o urânio. Crédito: Doug Stevens – Shutterstock

O urânio é um elemento químico metálico, de número atômico 92, pertencente à série dos actinídeos. Naturalmente radioativo, possui coloração prateada, é denso, maleável e mais abundante na crosta terrestre do que a prata. Seus principais isótopos são o urânio-238 (mais comum), o urânio-235 (essencial para reações nucleares em cadeia) e o urânio-234. Ele se encontra principalmente em minerais como a uraninita.

Descoberta e estudo

Descoberto em 1789 por Martin Heinrich Klaproth, o urânio só teve seu potencial radioativo revelado no final do século XIX, quando Henri Becquerel observou que ele emitia radiação capaz de impressionar chapas fotográficas. Esse fenômeno seria fundamental para os estudos de radioatividade, que Marie e Pierre Curie realizaram posteriormente.

Martin Heinrich Klaproth e Antoine Henri Becquerel, cientistas pioneiros no estudo da radioatividade
Martin Heinrich Klaproth e Antoine Henri Becquerel, cientistas pioneiros no estudo da radioatividade. / Crédito: Domínio público (Wikimedia)

Originalmente seu uso era como corante em cerâmica e vidro, o urânio tornou-se peça-chave no século XX, ao ser matéria-prima de combustíveis para reatores nucleares e, infelizmente, também em armamentos bélicos, como bombas atômicas. Foi o elemento usado na bomba lançada pelos Estados Unidos da América sobre Hiroshima, Japão, em 1945 (durante a Segunda Guerra Mundial).

Na geração de energia, o urânio tem seu uso em forma de pastilhas dentro de barras de combustível que alimentam os reatores. Em reatores civis, ele fornece energia elétrica de forma relativamente limpa em termos de emissões de carbono, embora traga desafios quanto à segurança e ao descarte de resíduos radioativos.

fissao nuclear
Diagrama representativo da fissão nuclear do urânio / Crédito: Pixel17 / Wikimedia (reprodução)

O termo “enriquecer urânio” se refere ao processo de aumentar a proporção do isótopo físsil urânio-235 (U-235) em relação ao urânio-238 (U-238) presente no urânio natural. Este, por sua vez, contém apenas cerca de 0,7% de U-235, quantidade insuficiente para a maioria dos reatores nucleares.

Para fins de geração de energia, a concentração precisa aumentar para cerca de 3% a 5%. Já para uso militar, como em armas nucleares, o enriquecimento precisa ultrapassar os 90%.

Esse processo é complexo e envolve diversas etapas. O urânio é transformado em um gás chamado hexafluoreto de urânio (UF₆), que é submetido a um sistema de centrífugas para separar os isótopos com base em suas diferenças de massa. Após o enriquecimento, o gás é reconvertido em pó e comprimido em pastilhas.

Torres de resfriamento da usina nuclear de Dukovany, perto da cidade de Brno, na República Tcheca. Construída no século passado com tecnologia da ROSATOM e equipada com 4 reatores de urânio. / Crédito: LIVEK (Shutterstock)

Embora o enriquecimento de urânio tenha aplicações legítimas, como a produção de energia elétrica ou a utilização médica, ele também representa um risco geopolítico. O mesmo conhecimento técnico usado para fins pacíficos pode ser empregado para fabricar armas nucleares, o que gera tensões diplomáticas e sanções internacionais.

A questão com o Irã

O Irã possui grandes reservas de urânio e domínio tecnológico para realizar o enriquecimento. É signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o que significa que, em teoria, só poderia usar a tecnologia para fins pacíficos. No entanto, ao longo das últimas duas décadas, seu programa nuclear tem gerado desconfiança.

ira
Imagem: Zafer Kurt/Shutterstock

Em 2025, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) acusou o Irã de enriquecer urânio a níveis próximos de 60%, ultrapassando com folga o necessário para uso civil e ficando perigosamente próximo do limite de 90% que caracteriza uso militar. Além disso, o Irã tem dificultado a fiscalização internacional, aumentando o temor de que possa produzir armas nucleares em curto prazo.

Estima-se que o país já possua mais de 400 kg de urânio enriquecido a 60%, quantidade suficiente, segundo analistas, para ser rapidamente convertida em material bélico. Isso elevou a tensão internacional, em especial com Israel, Estados Unidos e países da União Europeia.

Leia mais

Conflito: Irã, Israel e EUA

Desde 12 de junho de 2025, a situação se agravou com ataques de Israel a instalações nucleares, militares e até mesmo cidades iranianas. Israel alega agir preventivamente contra um possível programa nuclear militar iraniano. Em resposta, o Irã retaliou com ataques coordenados, inclusive com apoio de grupos como Hezbollah e os houthis do Iêmen, aumentando o risco de um conflito regional em larga escala.

Imagem: motioncenter/Shutterstock

Israel, por sua vez, nunca reconheceu formalmente possuir armas nucleares, mas é amplamente sabido que o país detém um arsenal atômico. Apesar disso, não é signatário do TNP, o que alimenta acusações de hipocrisia internacional. O Irã, que afirma ter fins pacíficos, acusa a AIEA de agir sob pressão política dos EUA e de Israel.

O risco de uma escalada

Com ataques a cientistas nucleares iranianos e sanções cada vez mais severas, cresce o temor de que o impasse leve a uma corrida armamentista ou até mesmo a um conflito direto entre potências nucleares. A instabilidade política interna em ambos os países também contribui para o aumento das ações militares.


[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img