O dólar à vista acelerou a alta no fim da manhã desta segunda-feira, em meio à escalada tarifária promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que também contribuiu para a desvalorização dos preços do petróleo. Nesse contexto, o real exibe um dos piores desempenhos entre as 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor.
Por volta das 13h10, o dólar à vista avançava 0,43%, a R$ 5,5717, próximo à máxima do dia, enquanto o euro comercial subia 0,28%, a R$ 6,5025. No exterior, o índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de seis moedas de mercados desenvolvidos, operava em alta de 0,25%, aos 98,109 pontos.
Insatisfeito com a postura de Moscou, Trump anunciou um acordo para o envio de armamentos à Ucrânia e defendeu a imposição de tarifas de até 100% contra a Rússia, caso não haja avanço nas negociações. A medida reduziu os prêmios de risco do petróleo, após Trump afirmar que considera “sem sentido” o projeto do Senado americano que prevê sanções à Rússia, sinalizando preferência por tarifas como ferramenta de pressão. Mais cedo, os preços do petróleo operavam em alta, justamente porque o mercado esperava a aplicação de sanções contra o óleo bruto russo.
No horário citado, os preços do petróleo do tipo Brent para setembro cediam 1,24%, a US$ 69,50 por barril, enquanto o petróleo WTI para agosto perdia 1,59%, a US$ 67,36 por barril.
Além de impor 50% de taxas sobre produtos brasileiros, o republicano estabeleceu alíquotas de 30% sobre importações do México e da União Europeia no fim de semana.
Após a surpresa com as tarifas contra o Brasil, o J.P. Morgan atualizou a recomendação para o real em sua carteira de emergentes e a avaliãção da moeda brasileira passou de “overweight” (desempenho acima da média do mercado) para neutro. A postura do banco se diferencia em relação a outras instituições financeiras estrangeiras, que, apesar de reconhecerem a volatilidade no curto prazo diante das tensões tarifárias, ainda mantêm o viés positivo para o real, como aponta reportagem do Valor.
Os estrategistas do J.P. Morgan observam que as medidas de Trump elevam o risco efetivo e reacendem os riscos de crescimento e inflação, em um momento em que o mercado estava relativamente calmo em relação a isso. Assim, o banco adota uma posição neutra em moedas emergentes, como o real, mas avalia ser uma mudança tática de curto prazo, já que seguem percebendo um cenário estruturalmente mais positivo para as divisas de países em desenvolvimento.
Em atualização de cenário, o Itaú Unibanco ressalta que o real vinha se beneficiando de um ambiente externo benigno, marcado por um dólar globalmente mais fraco. Nos últimos dias, porém, o anúncio tarifário de Trump reverteu, em parte, a dinâmica positiva. “De acordo com nossos cálculos, a tarifa efetiva deve ficar em torno de 40% (já considerando as tarifas setoriais diferenciadas), que se aplicada aos US$ 40 bilhões de exportações anuais para os EUA, poderia reduzir o fluxo de exportações para o país em até US$ 16 bilhões”, escreve Mario Mesquita, economista-chefe do banco e ex-diretor do Banco Central.
Nesse sentido, o impacto parece superestimado, pondera Mesquita, uma vez que é razoável supor que haverá alguma realocação de comércio dos produtos taxados para outros destinos. Mesmo assim, o profissional avalia que o fluxo de dólares para o Brasil tende a diminuir, atuando como um vetor de depreciação da moeda.