Divulgação / Concorde Filmverleih
É engraçado como, no mundo em que a gente vive, as coisas acontecem tão rápido que algo pode fazer um sucesso instantâneo e estrondoso e ser esquecido no dia seguinte. Essa é a essência do capitalismo, não é mesmo? Lucrar ao máximo com coisas recicladas, mas nunca deixar de oferecer algo que pareça novo, só para o público não se cansar. Algumas mudanças até acontecem, sim, mas são apenas maquiagem ou uma guinada estratégica para continuar lucrando. Poucos são ousados, ou brilhantes, o bastante para criar algo verdadeiramente novo.
E é por isso que tantos sucessos vêm e vão. Pouca coisa é boa o suficiente para sobreviver ao teste do tempo. Mas, para a nossa surpresa, até algumas coisas boas acabam sendo deixadas de lado. Nesta lista, separamos filmes que explodiram nas bilheteiras mundiais, dominaram as manchetes, viraram queridinhos do público e, de repente… puf! Desapareceram. Se você perguntar a alguém da Gen Z o que são, talvez nem façam ideia, como se essas obras tivessem sido desenhadas com giz no chão e apagadas pelas pegadas do que chegou depois.
Tudo bem que nem tudo aqui é ouro, mas há muita coisa boa no meio, e a gente gostaria de entender por que algumas delas ficaram para trás. Mas quer saber? Talvez nada disso precise de explicação. Basta uma boa olhada no tempo para lembrar o que ficou por lá. Se você é nostálgico e adora revisitar o que já passou, vem com a gente nessa lista esquecível.
O Impossível (2012), J.A. Bayona (Telecine)

Baseado na história real de uma família que sobreviveu ao tsunami que devastou o Sudeste Asiático em 2004, o filme foi uma comoção nas salas de cinema. Naomi Watts foi indicada ao Oscar, Ewan McGregor emocionou em um dos papéis mais humanos da carreira, e o então estreante Tom Holland mostrou que carregaria um futuro promissor. A força do longa está no choque entre destruição e ternura: corpos dilacerados, crianças perdidas, vidas suspensas em água e lama, tudo capturado com uma sensibilidade brutal. O mundo chorou com “O Impossível”. Mas a maré virou. Hoje, poucos se lembram do impacto que ele causou, talvez porque o trauma coletivo tenha sido engolido por outras tragédias ou porque, como os escombros do desastre, ele desapareceu lentamente sob o fluxo do tempo.
O Discurso do Rei (2010), Tom Hooper (Prime Video, sob demanda)

Durante meses, ele foi o filme que todos tinham que ver. A atuação contida de Colin Firth como o rei gago, a direção “respeitável”, o clima de superação aristocrática — tudo parecia desenhado para agradar à Academia. E agradou: quatro Oscars, incluindo Melhor Filme. Mas o que deveria ter entrado para o panteão da memória afetiva virou símbolo de uma premiação conservadora. “O Discurso do Rei” foi tragado pelo próprio academicismo que o impulsionou. A história, baseada em fatos reais, é de fato comovente, um monarca tentando vencer a própria voz em meio ao barulho da Segunda Guerra. Só que, ao contrário de outros vencedores do Oscar, ele não reverbera. Hoje, mais citado em discussões sobre “vitórias injustas” do que por seus próprios méritos, o filme reina apenas no esquecimento.
O Turista (2010), Florian Henckel von Donnersmarck (HBO Max)

No auge de sua fama, Angelina Jolie e Johnny Depp protagonizaram este thriller elegante que parecia feito sob medida para o sucesso global. Ambientado em uma Veneza reluzente, o filme gira em torno de um turista americano envolvido, quase por acaso, em um jogo perigoso de espionagem internacional. Jolie é a enigmática mulher que o arrasta para um mundo de identidades falsas, perseguições e charme perigoso. O longa chegou a ser indicado ao Globo de Ouro, em comédia, ironicamente, e faturou alto nas bilheteiras. Mas o tempo foi implacável: a trama previsível e a química morna entre os protagonistas condenaram o filme ao limbo do esquecimento. Hoje, “O Turista”é lembrado mais por suas locações deslumbrantes e figurinos impecáveis do que pela história, que parece ter evaporado da memória coletiva como o vapor que sobe dos canais venezianos ao entardecer.
Eu Sou a Lenda (2007), Francis Lawrence (Prime Video)

Num mundo devastado por um vírus, Will Smith caminha sozinho por uma Nova York silenciosa, cercado apenas por prédios fantasmas e criaturas sedentas por sangue. A imagem dele com o cachorro no meio da Times Square vazia virou símbolo de uma era — e um dos momentos mais icônicos do cinema de catástrofe. O filme arrecadou quase 600 milhões de dólares e foi, por um tempo, a distopia da vez. Mas o final polêmico e a falta de profundidade emocional acabaram soterrando seu legado. Hoje, quando se fala em distopias memoráveis, “Eu Sou a Lenda” raramente é mencionado, mesmo tendo sido uma referência importante para a febre pós-apocalíptica que viria depois. Um sucesso que parece ter sido devorado pelo mesmo silêncio que assombra seu protagonista: absoluto, pesado, e esquecido.
O Quarto do Pânico (2002), David Fincher (HBO Max, Prime Video)

Logo após o sucesso de “Clube da Luta”, David Fincher mergulhou em um thriller claustrofóbico estrelado por Jodie Foster e uma jovem Kristen Stewart. A trama é simples: mãe e filha se escondem de invasores em uma sala de segurança high-tech. Mas o que poderia ser apenas um suspense funcional ganha camadas de tensão psicológica, paranoia e crítica social, afinal, que tipo de sociedade precisa de um quarto do pânico dentro de casa? Com excelente fotografia e atmosfera sufocante, o filme foi um sucesso comercial imediato. No entanto, acabou sendo eclipsado pela própria filmografia de Fincher e por suspenses mais inventivos que vieram depois. Hoje, poucos lembram que “O Quarto do Pânico” foi, por um breve momento, o filme que todos assistiram, e depois trancaram na memória, sem jamais voltar para buscar a chave.