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quinta-feira, julho 10, 2025

Crítica | Batman ’89: Ecos – Plano Crítico

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Ecos, a segunda minissérie da DC Comics passada no universo do Batman de Tim Burton a partir de Batman – O Retorno, sofreu horrores por atrasos editoriais, com suas seis meras edições sendo publicadas entre novembro de 2023 e julho de 2025, com o tempo entre o penúltimo e último números sendo de quase sete meses, o que só deixa bem claro que acompanhar HQs supostamente mensais principalmente das duas grandes editoras americanas é um sufoco e algo que deixei de fazer há muito tempo. Mas, como dizem por aí, antes tarde do que nunca e a história capitaneada por Sam Hamm e desenhada por Joe Quinones com a ajuda de Stacey Lee nas duas últimas edições finalmente chegou ao seu fim com exatamente o mesmo problema macro da primeira minissérie, mas com uma narrativa mais interessante e diferente, até mesmo ousada.

O problema macro é evidente: visualmente, tanto a primeira minissérie quanto Ecos não tem nada do Batman de Tim Burton. Não vou me repetir aqui, pois já fiz extensos comentários sobre isso em minha crítica anterior, mas basta dizer que Quinones não consegue nem por um segundo transportar para os quadrinhos a pegada sombria e gótica-kitsch da direção de arte dos longas em questão, mais parecendo outra história comum do perturbado super-herói. Afinal, não  adianta trazer alguns elementos icônicos aqui e ali como a armadura preta do Batman ou o característico batmóvel, ou mesmo a batcaverna, além das feições dos atores originais, no caso de Michael Keaton e Michael Gough como Bruce Wayne e Alfred Pennyworth, se todo o restante é drasticamente alterado e descaracterizado, algo que fica muito evidente na forma como Gotham City é abordada, ou seja, como uma cidade qualquer e não aquilo que podemos ver e admirar nos filmes.

Mas basta desse assunto, pois o importante é falar do roteiro de Sam Hamm, que faz algo muito corajoso, mas que pode desapontar muitos leitores: trata-se de uma história do Batman em que o Batman efetivamente trajado como tal quase não aparece, pois boa parte da minissérie é focada em um trabalho investigativo sobre criminosos comuns que, ao se depararem com vigilantes fantasiados de Batman, demonstram terror absoluto e uma reação assassina. Para fins de contexto, vale dizer que a história se passa pouco mais de dois anos depois da anterior, com a agora capitã de polícia Barbara Gordon tendo feio um acordo com Bruce Wayne em que ele aposentaria o Homem-Morcego, algo que ele segue à risca – ok, não tão à risca, mas quase – por todo esse tempo, o que abre espaço para os referidos vigilantes domingueiros aparecerem. Até o final da terceira edição, a própria presença de Bruce Wayne é um mistério, com todo o foco repousando, de um lado, no encarceramento do vilão Vagalume no Asilo Arkham e seu tratamento radical pelo Doutor Jonathan Crane que assumiu o legado do falecido Hugo Strange, e, de outro, na relação entre Alfred e Barbara e entre Alfred e Drake Winston, antes o Robin, agora Asa Noturna que, com seus contatos pela cidade, criou uma bem azeitada rede de vigilantes como ele, tornando-se braço direito de Wayne em sua cruzada a ponto de o próprio Alfred permanecer ignorante sobre o paradeiro de seu protegido.

Claro que o leitor mais atento notará que Wayne nunca realmente saiu do cenário, mas Hamm consegue criar uma história engenhosa para escondê-lo à plena vista, com Quinones acertando na maneira como recria o personagem, com as revelações acontecendo a partir do final da terceira edição e entrando nas demais, mas mantendo o Batman uniformizado como um detalhe e não foco. Andando em paralelo com a investigação que, claro, revela o Espantalho e outros vilões da tradicional galeria do Batman, vemos a lenta, mas constante transformação da Doutora Harleen Quinzel em Arlequina, com um retcon que a estabelece como namorada do Coringa até sua morte no primeiro longa de Burton nesse universo e uma terapeuta que é muito mais interessada em ser uma celebridade televisiva do que uma profissional de sua área. Mesmo que haja uma perceptível sofreguidão de Hamm de atochar a minissérie com o máximo de novas versões de personagens famosos do universo do Batman, algo que, confesso, chega a cansar por desvirtuar a linha investigativa central, a construção de Quinzel é muito boa e obedece a uma lógica muito interessante, algo que é feito também com a ajuda da Mulher-Gato, uma de suas pacientes, mas não apenas uma paciente, mesmo que a versão 2.0 de seu uniforme do longa me irrite bastante.

A boa história de Ecos não cura o problema crônico dessas minisséries baseadas no Batman de Burton – algo que inexiste nas histórias inspiradas pelo Superman de Richard Donner, vale lembrar -, mas ela com certeza ajuda em sua apreciação, pois Hamm arregaça as mangas para tentar algo diferente que, com um artista melhor ou, pelo menos, com mais boa vontade de adaptar sua arte à atmosfera que a proposta exige, poderia resultar em algo realmente fora de série. Se houver uma terceira minissérie, tomara que Quinones seja substituído e que ela não demore anos para chegar ao fim.

Batman ’89: Ecos (Batman ’89: Echoes – EUA, 2023/25)
Contendo: Batman ’89: Echoes #1 a 6
Roteiro: Sam Hamm
Arte: Joe Quinones (todas as edições), Stacey Lee (#5 e 6)
Cores: Leonardo Ito
Letras: Carlos M. Mangual
Editoria: Andrew Marino, Katie Kubert, Molly Mahan (#4)
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: 28 de novembro de 2023; 19 de março, 10 de julho, 11 de setembro e 18 de dezembro de 2024; 02 de julho de 2025
Páginas: 152



[Fonte Original]

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