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domingo, julho 13, 2025

Crítica | O Abismo (Le Storie #35) – Plano Crítico

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Nesta 35ª edição da série Le Storie, Mauro Boselli tenta fundir a tradição das histórias de pirataria com o terror cósmico, ou seja, elementos de obras como A Ilha do Tesouro de Stevenson, e nas atmosferas inquietantes de H.P. Lovecraft. A narrativa acompanha o Capitão Jack Moody e sua tripulação na busca por um tesouro lendário, com o náufrago Michael Davy, resgatado pelo navio Estrela do Sul, servindo como um guia meio duvidoso para o leitor. As páginas iniciais apresentam os tripulantes, delineando com cuidado suas personalidades e as tensões que surgem em um ambiente carregado de cobiça e desconfiança. Essa construção detalhada, que expõe a índole questionável de muitos dos piratas, cria uma base sólida para a história, embora o ritmo, em certos momentos, pareça se deter excessivamente antes de avançar para os eventos centrais, demorando abraçar a promessa de aventura e mistério que a premissa sugere.

Um momento crucial surge quando o Estrela do Sul encontra um navio devastado pela peste, intensificando o clima de morte e entregando aos piratas um mapa que os conduzirá por águas inexploradas. Essa virada introduz a sugestão de forças além da compreensão humana, sempre cercando o Universo de feras marinhas, cultos bizarros, influências mentais, doenças e danação infernal. Contudo, a trama tem problemas de progressão que começam com uma peste no navio e terminam com a chegada de uma tripulação malgaxe que venera deuses antigos e que guia o Estrela ao local do grande culto sombrio. Se é lento em todo o desenvolvimento da história, o texto acaba sendo abrupto nas sequências em Madagascar, parecendo ter uma pressa repentina de levar a aventura a uma ilha onde aparentemente Dagon é venerado.

A arte de Luca Rossi retrata muito bem as batalhas dos piratas e os cenários marítimos, sempre com muitos detalhes e dinamismo, transmitindo a energia dos confrontos e a vastidão do oceano, criando um pano de fundo realista e forte para o texto. Só lamento que a predominância de quadros menores, focados em ações específicas, limita a exploração de momentos de maior grandiosidade, como o local do culto aos deuses rastejantes, que poderia ter ganhado mais impacto com composições visuais mais amplas e panorâmicas. Ainda assim, a habilidade de Rossi em criar cenas imersivas e transmitir a tensão dos blocos de ação é inegável.

Não sou o maior fã do desfecho dessa história, embora não ache que seja ruim. É um desfecho instigante, mas não entrega o impacto que o autor parece buscar. A presença de entidades cósmicas/marinhas é confirmada de maneira que reforça suspeitas levantadas ao longo de todo o quadrinho, mas sem explorar profundamente o mistério ou oferecer uma resolução mais clara, especialmente porque envolve o “Jonas” do barco, o jovem Davy. Boselli é fiel ao estilo de Lovecraft e privilegia a sugestão de horrores indizíveis em vez de maiores explicações e contextos, encerrando a aventura com comentários breves após revelar a verdadeira monstruosidade que estava na nossa frente o tempo todo. Embora coerente com a inspiração da obra, essa escolha frustra um possível clímax robusto após a construção lenta e detalhada do início. É certamente um final menos ambicioso do que o prometido.

O Abismo (L’abisso) — Itália, agosto de 2025
Le Storie #35
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Luca Rossi
Capa: Aldo Di Gennaro
114 páginas



[Fonte Original]

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