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sexta-feira, julho 4, 2025

Crítica | O Túnel do Terror (Dylan Dog #22) – Plano Crítico

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Uma atmosfera de grande violência e mistério se faz ver desde as primeiras páginas de O Túnel do Terror, história com um dos inícios mais chocantes da série do Detetive do Pesadelo. Nesses primeiros quadros, vemos o jovem Clint Callaghan protagonizar uma chacina num parque de diversões, numa dualidade macabra entre alegria e horror. Percebe-se quase de imediato que Callaghan não age por vontade própria; uma força externa, invisível e inexplicável, parece conduzir os seus atos. O roteiro de Tiziano Sclavi, fiel ao seu estilo, não entrega respostas logo de cara, optando por mostrar apenas mais adiante os contornos do passado de Callaghan e a sua inesperada ligação com o Professor Hicks, personagem que retorna à série após a sua aparição em A Zona do Crepúsculo, adensando ainda mais a complexidade do enredo.

A estrutura narrativa, aqui, é deliberadamente fragmentária, uma característica distintiva do roteirista. A história se constrói em múltiplas perspetivas – seja através dos olhos da polícia, das investigações de Dylan Dog ou das maquinações do Doutor Hicks – convocando o leitor a um papel ativo na construção de sentido, decifrando os significados ocultos e macabros que compõem a aventura. É neste labirinto narrativo que Dylan se vê confrontado com a irracionalidade da violência. Suas reflexões aprofundam-se à medida que descobre os rastros que apontam para experimentações científicas medonhas, envolvendo clonagem, a perturbadora possibilidade de transferência de identidades entre corpos e ecos de planos sombrios remanescentes da chamada “ciência mística nazista“. Estes elementos, embora possam soar inicialmente dispersos, nos levam à figura do Professor Hicks, um antagonista de peso que opera à distância, envolto numa névoa de truques e manipulações tão sofisticados que se tornam praticamente impossíveis de provar, garantindo-lhe impunidade.

A obra também avança por uma análise da psicologia dos personagens. Observamos a revelação de mais uma face de Hicks, contrastando com os momentos de empatia calculada de Dylan Dog, mesmo perante o grotesco. O “túnel do terror” do título também brinca nessa seara, mostrando, a partir dos desenhos de Giuseppe Montanari e Ernesto Grassani, diversos tipos de monstros que servem a um propósito rapidamente cômico, mas que estão simbolicamente ligados ao que está acontecendo. A isto se soma um militar viciado em violência e em ações impulsivas, aparentemente a serviço dos interesses de Thatcher, trazendo uma camada de crítica política e social à história. Esta abordagem multifacetada enriquece a trama, permitindo que a investigação do macabro sirva como uma desculpa para pincelar as ansiedades e as patologias da sociedade.

Daqui, não gosto do fato de que o desenvolvimento da subtrama que envolve a tentativa de resgate de uma refém avança de forma bem lenta, e Sclavi, na ânsia de manter a tensão, parece sobrecarregar a cadência de reviravoltas na secção final da edição, uma escolha que acaba por diluir um pouco o impacto do primeiro clímax, deixando uma sensação de que o potencial dramático poderia ter sido explorado com um ritmo mais equilibrado e menos precipitado nas suas resoluções.

Em última análise, O Túnel do Terror tem a capacidade de tecer um bom terror psicológico cheio de comentário social e a partir de premissas bizarras. A figura do Professor Hicks consolida-se como um adversário memorável, cuja inteligência e crueldade à distância representam um tipo de ameaça difícil de combater. Claro que a narrativa não está isenta de problemas, especialmente no que concerne ao compasso de alguns dos seus segmentos e às suas conclusões parciais. Apesar disso, a obra incita à reflexão sobre a manipulação e segredos que se escondem por trás de personagens de destaque na sociedade. A experiência de leitura, embora pontuada por esses desequilíbrios, ainda oferece conteúdo bom o suficiente para engajar o leitor que busca mais do que simples sustos, ponderando sobre as verdadeiras monstruosidades que podem residir, não em túneis assombrados, mas no próprio tecido da nossa realidade.

Dylan Dog #22: O Túnel do Terror (Il Tunnel Dell’orrore) — Itália,
Roteiro: Tiziano Sclavi
Arte: Giuseppe Montanari, Ernesto Grassani
Capa: Claudio Villa
100 páginas



[Fonte Original]

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