A agenda sustentável deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar um requisito essencial à eficiência dos negócios. Nesse novo cenário, as empresas têm adotado uma série de práticas de rastreabilidade que incluem o mapeamento digital da origem do produto e o monitoramento de indicadores socioambientais ao longo da cadeia para garantir a transparência das suas operações.
No entanto, essa jornada — crucial para o futuro — traz desafios significativos, especialmente em setores complexos que envolvem diferentes etapas entre a origem e o consumidor final. Nas commodities agrícolas a granel, um dos maiores obstáculos é garantir a rastreabilidade dos fornecedores, assegurando que, desde a origem até o consumido final, as commodities não estejam vinculadas a impactos socioambientais negativos.
Acompanhando essa demanda, a legislação de alguns países está mudando, exigindo informações que garantam a transparência dos processos. Um exemplo é a Lei Antidesmatamento da União Europeia, aprovada em 2023, com entrada em vigor prevista até o final deste ano. A norma exige a comprovação de que determinados produtos agrícolas importados pela UE estejam em conformidade com a legislação local onde foram produzidos, e que não sejam associados a áreas desmatadas após dezembro de 2020.
O panorama vem mudando a visão em todos os níveis da cadeia de suprimentos. Produtores passaram a buscar oportunidades para diferenciar seus produtos em mercados globais. Certificações importantes, como a internacional RTRS (Round Table on Responsible Soy), que reconhece práticas sustentáveis na produção de soja e milho já posiciona o Brasil como o maior em número de fazendas de soja certificadas (83%), segundo a Associação Internacional de Soja Responsável.
Totalmente adaptada ao novo cenário, a ADM, líder global na comercialização de grãos, insumos, nutrição humana e animal, tem se destacado pelo compromisso com a rastreabilidade no setor de grãos. Para se adequar a uma exigência cada vez maior do mercado e aos diferentes compromissos firmados, a multinacional aposta em ações para atestar a produção responsável, seja de fornecedores diretos e até mesmo indiretos, em diferentes biomas brasileiros, visando a prevenção da originação em áreas com desmatamento ilegal ou outras irregularidades socioambientais.
“As soluções passam pela inovação tecnológica. Desde 2018 avançamos muito, ampliando escopo geográfico de rastreamento, desde uma época em que poucas empresas faziam isso”, comenta Diego Di Martino, diretor de sustentabilidade para a América Latina. Segundo ele, até agora já foram investidos mais de US$ 5 milhões em sistemas e tecnologias de monitoramento. Como resultado, a ADM conseguiu mapear 100% dos fornecedores diretos e indiretos de soja no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, por exemplo.
Com o objetivo de reduzir riscos relacionados à cadeia de fornecimento, a empresa vem trabalhando em uma agenda de sustentabilidade consistente e se destaca pelo trabalho proativo na construção de processos mais transparentes, seguros e alinhados com responsabilidades socioambientais. A ADM também se cerca da expertise em boas práticas contribuindo para a agricultura regenerativa, além das tecnologias avançadas em rastreabilidade e mapeando da cadeia de produção.
Complexidade das cadeias e soluções
O executivo explica que a ADM atua com diversas cadeias agrícolas verticalizadas, de diferentes origens e com riscos variados, considerando a escala da produção e o envolvimento de milhares de produtores em diferentes níveis de conformidade. “Para cada uma, faz-se necessária certa análise para reduzir qualquer problema e demonstrar adequação com a legislação local e a política empresarial”, afirma
Nesse sentido, há uma atuação criteriosa que envolve o mapeamento da origem e da movimentação da commodity ao longo do processo, utilizando soluções como monitoramento remoto via satélite, ferramentas digitais de verificação e capacitação de fornecedores, que permitem superar desafios da fragmentação da cadeia e o acesso limitado à tecnologia por produtores de pequeno e médio porte. Além disso, são realizadas ações para monitorar as emissões de gases de efeito estufa e o ciclo de vida de determinadas cadeias produtivas.
A empresa mantém uma parceria com a Serasa Experian, voltada ao uso de inteligência analítica e big data para monitorar produtores rurais e suas propriedades. “Oferecemos acesso a uma base robusta de informações socioambientais, documentos e certidões que permitem uma avaliação atenta dos riscos associados a cada fornecedor de grãos, considerando a Política de Sustentabilidade da ADM”, aponta Joel Risso, diretor de novos negócios agro da Serasa.
Para entregar os dados, a datatech faz uso de soluções tecnológicas avançadas como o Smart ESG, um módulo de monitoramento socioambiental; o FarmCheck, que analisa e apresenta documentos e certidões de conformidade legal e sustentabilidade; o AgroSuppliers, que faz um estudo de responsabilidade ambiental e social da carteira de fornecedores indiretos; e o CropMaps, que realiza o mapeamento agrícola de forma geoespacial em áreas produtivas e levantamentos que cruzam dados de uso da terra com indicadores socioambientais.
Para a ADM, na plataforma da Serasa Experian, são analisadas mais de 80 mil propriedades rurais em todo o território brasileiro, o que corresponde a 63 milhões de hectares. Risso ressalta que, do total de propriedades, mais de 68 mil já foram validadas como 100% em conformidade com os critérios de sustentabilidade da ADM.
“Além de mitigar riscos, a iniciativa reforça a transparência e a reputação da ADM junto aos investidores, consumidores e órgãos reguladores. Também, com base nessas informações, a Serasa Experian é capaz de ajudar as empresas a continuarem atendendo os mercados externos e a trabalharem junto aos produtores rurais para que possam identificar problemas e caminharem para a regularização a fim de continuar acessando o mercado e movimentando a cadeia”, aponta Risso.
Outro parceiro importante é a Produzindo Certo, que atua junto aos produtores com o objetivo de compartilhar boas práticas agrícolas para tornar a produção mais sustentável.
“Mais recentemente, ampliamos ainda mais essa colaboração ao integrar a iniciativa Farmer First Cluster (FFC), do Soft Commodities Forum (SCF), uma coalizão de grandes empresas do setor de grãos que atuam para eliminar o desmatamento associado à cadeia da soja no Cerrado”, conta a CEO Aline Locks.
A espinha dorsal da agtech é uma plataforma que permite identificar, diagnosticar e acompanhar a evolução socioambiental de propriedades rurais, monitorando itens como regularidade ambiental, indicadores sociais, saúde do solo e uso da terra. “Com base nesses dados, desenhamos planos de ação personalizados que orientam os produtores rumo à conformidade legal e às melhores práticas do setor”, afirma. Em parceria com a ADM, a Produzindo Certo já envolveu aproximadamente 500 propriedades rurais, com planos de melhoria implementados individualmente. As fazendas, juntas, representam uma área total de 1,5 milhão de hectares.
“Hoje, sustentabilidade não é mais um diferencial, é um passaporte para o mercado. Grandes empresas, varejistas e consumidores querem saber de onde vem o que consomem, como foi produzido e qual o impacto dessa produção”, destaca Aline.
Em um ano em que lideranças de diversos países se reunirão durante a COP 30, em Belém, para discutir caminhos para o desenvolvimento sustentável, os avanços no agronegócio ganham destaque. A ADM, signatária do Agricultural Sector Roadmap to 1.5ºC, lançado na COP 27, busca contribuir para promover a produção de soja livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa e engajar fornecedores indiretos. Em 2025, a empresa pretende cumprir sua meta de mitigar totalmente o desmatamento de florestas em suas operações, objetivo que, segundo Di Martino, está próximo de ser alcançado.
Outra iniciativa estratégica da companhia é a atuação nas certificações. A ADM trabalha com diferentes certificações que comprovam a conformidade legal e asseguram a procedência e a responsabilidade ambiental em toda a cadeia. O seu programa Responsible Soy Standard segue o padrão FEFAC (Federação Europeia dos Fabricantes de Ração Animal), abrangendo aspectos sociais, ambientais, legais e de boas práticas agrícolas para a produção de soja.
A ADM está atenta às demandas e pronta para oferecer o que cada cliente precisa para atender às exigências do mercado, como, por exemplo, produtos certificados por programas reconhecidos globalmente como RTRS (Round Table on Responsible Soy), ISCC (Certificação Internacional de Sustentabilidade e Carbono, que garante a sustentabilidade na cadeia de suprimentos), 2BSvs (uma certificação voluntária de sustentabilidade para soja e milho, que atende a diretiva europeia de biocombustíveis) e RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis para promover a expansão dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, reduzindo emissões de gases causadores do feito estufa).
Diego Di Martino reforça que a sustentabilidade é um pilar fundamental da estratégia de crescimento da companhia, que amplia seus esforços para apoiar a agricultura regenerativa e os produtores, impulsionando a inovação e a geração de valor de longo prazo. Além disso, ele ressalta a importância da união do setor para avançar em conjunto. “Precisamos nos aliar e promover uma mudança em que todos estejam na mesma direção, garantindo rastreabilidade e transparência”, conclui.