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sexta-feira, julho 4, 2025

Cooperativismo ganha escala e impulsiona economias locais

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O universo de mais de 4.500 cooperativas move uma parcela da produção brasileira estimada em meio trilhão de reais. Pouco visível nos dados do Produto Interno Bruto (PIB), o setor expandiu sua rede de associados em 11% em 2024, para 26 milhões. Ao empregar mais de 570 mil trabalhadores, registrou evolução de 3,52%, superior à da População Economicamente Ativa (PEA) no ano, de 2,6%, segundo dados antecipados ao Valor pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Do extrativismo na região Norte à oferta de crédito e planos de saúde por todo país, passando pelo agronegócio, o cooperativismo teceu no país uma rede que expôs produtores e prestadores de serviços locais à lógica da competitividade e da inovação. Muito além da expansão de seus negócios, deu impulso a comunidades remotas e assentou-se como meio de redução de desigualdades sociais.

“Não digo que o cooperativismo seja a solução para tudo”, afirma Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB. “Cada cooperativa nasce da necessidade comum de produtores, mantém-se próxima da realidade das comunidades e tem se provado viável, do ponto de vista econômico, além de social e ambientalmente justa.”

O total de cooperativas em atividade em 2024 ainda está em cálculo pela OCB. Nos dois anos anteriores, encolheu de 4.693 para 4.509. Esse fato, porém, não representa perdas. Fusões e incorporações, com o objetivo de alavancar a competitividade de antigas concorrentes, têm sido frequentes no setor. Para este ano, a introdução do segmento de seguros promete reforçar as fileiras do cooperativismo, segundo Zanella.

O mais recente Anuário Coop, com dados de 2023, exibiu o peso econômico do setor. Os ativos das cooperativas somaram R$ 1,16 trilhão, com aumento de 17% sobre o ano anterior, e os ingressos atingiram R$ 692 bilhões, cifra 5,5% superior. Os desembolsos com salários e encargos aos trabalhadores cresceram 27% no período, para R$ 31 bilhões.

Em especial, as cooperativas em operação em 2023 apresentaram um total de sobras de R$ 38,9 bilhões (alta de 3% sobre o ano anterior). Embora equivalente ao lucro em empresas, o indicador traz desdobramento diferenciado no setor, segundo Zanella. No modelo cooperativo, como a comercialização se dá a preço de custo de produtos, seus ganhos explicitam, sobretudo, avanços na produtividade, na escala de produção e na gestão.

Desde os primeiros intentos no país no final do século XIX, as cooperativas atuam como molas propulsoras do desenvolvimento econômico e social nos locais, segundo Davi de Moura Costa, professor da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEA-RP). “A cooperativa tornou-se elemento de equidade neste país marcado pela desigualdade social. É uma atividade com características locais que beneficia especialmente as comunidades onde estão inseridas”, explica.

Hoje, estão presentes em 650 municípios, de todos os Estados da federação. A concentração maciça no Sul e no Sudeste, em especial pela via do agronegócio, diluiu-se nas últimas décadas com a expansão ao Centro-Oeste e ao Nordeste. No Norte, apesar de experiências expressivas da agricultura familiar e do extrativismo, chegou tardiamente. Trata-se de uma nova fronteira regional do cooperativismo, a ser explorada especialmente em negócios da bioeconomia, na opinião de Alair Ferreira de Freitas, professor da Universidade Federal de Viçosa (MG).

A cooperativa tornou-se elemento de equidade neste país marcado pela desigualdade”

— Davi M. Costa

A contribuição das cooperativas não é medida apenas pelo resultado contábil. Por sua vocação intrinsecamente local, cada emprego que gera e cada aquisição em uma loja ou prestadora de serviços da vizinhança impulsiona a economia da comunidade. A expansão delas, por sua vez, demanda crescentes investimentos públicos e privados em educação, saúde, moradias e infraestrutura.

Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a OCB, com dados de 2022, mostrou que a presença de uma cooperativa resulta em aumentos de R$ 5.100 por habitante no PIB e de R$ 48,1 por habitante na arrecadação dos municípios. O mesmo estudo trouxe a estimativa de produção total do cooperativismo de cerca de R$ 550 bilhões -o equivalente ao quarto maior PIB estadual naquele ano.

A emergência do segmento de crédito, nos últimos anos, acentuou tais benefícios ao alcançar mais de 300 municípios desprovidos de instituições financeiras públicas ou privadas. “As cooperativas de crédito têm funcionado como mola adicional ao desenvolvimento e à redução da pobreza país afora ao alavancar investimentos produtivos locais”, afirma Alison Oliveira, pesquisador da Fipe. “Inclusive, projetos das demais cooperativas.”

Os benefícios do cooperativismo para economias locais não favorecem apenas o Brasil a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, traçados pelas Nações Unidas para 2030. As 3 milhões de cooperativas espalhadas pelo mundo trazem alento também a outros países emergentes e aos mais vulneráveis em suas missões de erradicar a pobreza e de rumar para a produção ambientalmente responsável.

Não por acaso, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou, por unanimidade, 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. “As cooperativas demonstram a importância de nos unirmos para construir soluções aos desafios globais”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, no lançamento da iniciativa, em janeiro.

As 3 milhões de cooperativas mundo afora englobam 1 bilhão de cooperados (12% da população mundial) e respondem por 280 milhões de empregos, segundo o Monitor Cooperativo Mundial, da Aliança Cooperativa Internacional (ICA). As 300 maiores geraram US$ 2,41 trilhões em sobras em 2021. Nesse ranking, 12 brasileiras estão listadas, com base no volume de sobras, e 21, conforme a proporção desse resultado no PIB per capita. O Sistema Unimed despontou como a mais bem colocada em ambas listagens.

Se as vocações e os portes diversos das cooperativas brasileiras geram desafios imediatos distintos, o ponto crítico comum está na sua gestão. Segundo Moura Costa, a profissionalização da liderança das cooperativas tende a ser inevitável, dados os seus desafios de expandir e de competir. “Mas, se não for equilibrada com o interesse dos cooperados, pode distanciá-los e levar a uma possível dissolução.”

[Fonte Original]

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