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sábado, julho 5, 2025

Fundos hedge quantitativos lucram com mercados voláteis no semestre

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Dos reveses no mercado de títulos do Tesouro dos EUA às ameaças comerciais, o primeiro semestre de 2025 foi marcado por turbulências nas políticas públicas e apreensão em Wall Street. O dólar caiu de forma notável, enquanto as commodities e os ativos de risco oscilaram com força. Mas nos bastidores dos mercados, onde os maiores fundos quantitativos do mundo operam, uma coisa curiosa aconteceu: padrões clássicos de negociação voltaram a prevalecer.

Os mercados recompensaram os fortes em detrimento dos fracos, ampliando a distância entre os vencedores e os perdedores num retorno ao que Cliff Asness, da AQR Capital Management, chamou de “investimento racional básico”. Essa ampla dispersão de resultados, como se diz no setor, mostrou ser um território fértil para os fundos hedge sistemáticos, que obtiveram alguns dos melhores retornos do ano até agora.

Entre os destaques estiveram o TOPS, da Marshall Wace, o Renaissance Institutional Equities Fund e o AQR Delphi Long-Short Equity, todos com alta em torno de 11%, superando o desempenho médio dos fundos hedge. O Voleon Composition, fundo baseado em aprendizado de máquina, ganhou 12,8%, enquanto o Two Sigma Spectrum avançou 7,6%.

“Algumas empresas estão se saindo melhor do que outras novamente”, disse Richard Mathieson, diretor-gerente da BlackRock, cuja estratégia de ações neutra em relação ao mercado (“equity market neutral”) acumula alta de 8% no ano. “Para quem adota esse processo de analisar constantemente cada ativo do mercado e montar uma carteira com base nisso, o conjunto de oportunidades está muito mais interessante.”

As estratégias sistemáticas de ações conseguiram prosperar mesmo em meio a uma série de choques repentinos entre janeiro e junho, período em que o índice S&P 500 teve sua maior reversão desde 2009 e a volatilidade das commodities chegou ao maior nível em três anos em um determinado momento. Os Treasuries, por sua vez, passaram da sequência de ganhos mais longa desde 2016, em fevereiro, para a pior queda semanal em 24 anos pouco mais de um mês depois.

Esses fundos quantitativos lucraram não ao evitar os solavancos, mas ao explorar um mercado no qual as ações voltaram a se movimentar de forma mais independente. A questão agora é se essa vantagem continuará, à medida que os mercados mostram sinais de estabilidade e os indicadores econômicos se mantêm sólidos – como mostrou o “payroll”, relatório de empregos dos EUA divulgado na quinta-feira, com números acima do esperado –, levando o S&P 500 a novas máximas históricas.

No geral, 2025 está prolongando um renascimento para os operadores de ações guiados por algoritmos, após o chamado “inverno quant” – os anos que antecederam a pandemia, quando poucas estratégias funcionavam além da clássica aposta de comprar e manter ações das Big Techs. Embora suas abordagens variem, os fundos quantitativos tendem a distribuir suas apostas de forma mais ampla e a selecionar ações com base em características quantificáveis e padrões históricos. Isso os torna mais propensos a se dar bem em um ano como este, com menos concentração nas gigantes de tecnologia e maior dispersão entre os papéis, que passaram a se mover de forma mais independente.

Um reflexo disso é uma estratégia que aposta que ações individuais dos EUA serão mais voláteis do que o índice agregado – e que acumula alta de 3,5% no ano, segundo um índice da Premialab que reúne produtos de swaps bancários.

Em termos dos fatores mais usados por esses fundos – ou seja, características quantitativas geralmente usadas para compor carteiras –, o “momentum” (estratégia que aposta nos vencedores recentes) registrou seu sétimo trimestre consecutivo de alta, segundo um índice de Bloomberg. Isso é um sinal de que, apesar do drama nos mercados, os padrões internos de comportamento das ações têm sido bem mais consistentes.

Há alguns sinais de que isso pode estar começando a mudar: o fator momentum teve nesta semana sua maior queda desde março, com os investidores migrando para ações até então deixadas de lado. O alívio nas preocupações com uma escalada da guerra comercial reacendeu o apetite dos investidores pelo risco no último mês, alimentando uma dispersão para fora das chamadas ações de qualidade e baixo risco.

“Há choques fundamentais afetando papeis específicos de maneiras diferentes”, diz Andrea Frazzini, chefe de seleção global de ações da AQR. “Combinados à maior volatilidade e dispersão que temos visto, isso significa que podemos assumir mais riscos, seguir mais de perto nossos modelos e implementar nossas teses com mais facilidade.”

Em um nítido contraste, os fundos quantitativos seguidores de tendências – que dependem de tendências sustentadas para lucrar – tiveram seu pior desempenho semestral desde 2000, caindo 10,1% até agora em 2025, segundo mostra um índice do Société Générale. O Systematica Bluetrend Fund caiu 17% e o Man AHL Alpha recuou 7,6%, enquanto o Transtend caiu 17,5%. (Este último foi impactado por posições em mercados menos tradicionais, como algumas commodities e moedas, segundo escreveu em um e-mail o diretor-executivo Andre Honig.)

A migração dos investidores das ações americanas para ativos estrangeiros, que renderam cerca de três vezes mais que o S&P 500, também se refletiu no desempenho dos fundos quantitativos. Diferentemente dos anos anteriores, os modelos quantitativos da AQR obtiveram retornos mais vigorosos fora dos EUA, acrescenta Frazzini. A estratégia Adaptative Equity da gestora subiu 15,5% no primeiro semestre, enquanto a Delphi, que privilegia empresas de menor risco, se beneficiou da busca por qualidade no início do ano.

Na Man Numeric, unidade de ações quantitativas do Man Group, Jayendran Rajamony diz que, além do bom desempenho de fatores como momentum, é difícil generalizar os resultados dos fundos diante do uso crescente de sinais idiossincráticos em cada estratégia. O fundo Man Numeric Quantitative Alpha subiu 18,7% no primeiro semestre.

Mesmo com toda a precisão orientada por algoritmos, os programas quantitativos às vezes ainda exigem intervenção humana, especialmente quando choques de política econômica como tarifas comerciais escapam aos padrões históricos em que esses modelos se baseiam.

“Pode-se argumentar que certas iniciativas de política extremamente ousadas simplesmente não conseguem ser capturadas pelos modelos”, diz Rajamony. “A Intervenção como forma de gerenciamento de risco é, na minha visão, necessária para que essas carteiras consigam navegar em um ambiente como o atual.”

[Fonte Original]

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