O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Nilton David, afirmou que há sinais “razoavelmente claros” de que a política monetária está funcionando. David participou de evento promovido pelo Citi Brasil nesta quarta-feira.
“Há sinais razoavelmente claros que a política monetária está funcionando e que a economia está de certa forma voltando para um ritmo um pouco mais dentro do potencial”, disse David.
O diretor destacou que o Brasil hoje está crescendo em nível acima do potencial. “A ideia é que na margem cresça um pouco abaixo do potencial para que a gente coloque a atividade dentro do potencial e o crescimento deixe de ser uma inflação e simplesmente um crescimento”.
O Comitê de Política Monetária (Copom) apontou, na última ata, que a atividade no Brasil continua marcada por “sinais mistos” em relação à desaceleração, mas se que observa uma “certa moderação no crescimento”. Segundo a ata, a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mostra um crescimento forte em setores menos sensíveis ao ciclo e “alguma moderação” nos demais setores, com “certo dinamismo” em vários subsetores.
David afirmou também que o Banco Central vai buscar a meta de inflação. O diretor do BC apontou que no Brasil existem algumas maneiras com que as empresas se financiem com preços mais baixos do que o Tesouro Nacional e que a política monetária afeta os setores de formas diferentes e com defasagens diferentes.
“Nível de juros tem que ser colocado em tal forma onde mesmo os que tenham algum tipo de incentivo, ou subsídios ou benefício, também sintam de alguma forma a política monetária para poder trazer o crescimento para dentro do que seria o potencial”, disse.
O diretor afirmou que a percepção de todos os membros do Copom é de que a taxa básica de juros está restritiva.
“A percepção de que a taxa está restritiva não é um privilégio do presidente Galípolo e meu, é um consenso bastante estabelecido no comitê”, disse, ressaltando que “todos acreditamos que a gente está em módulo restritivo”.
O Copom apontou na última ata que o ambiente com expectativas desancoradas exigia “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Ao elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 14,75% para 15% ao ano e sinalizar uma interrupção do ciclo de alta, o Copom destacou que o momento era de examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado e avaliar se o nível da taxa é suficiente para assegurar a convergência da inflação. O ciclo começou em setembro de 2024, com a Selic em 10,50% ao ano.
David afirmou que o cenário atual é de “incerteza mais elevada do que de costume” não só por ruídos que ainda vêm do período da pandemia, mas também do cenário da economia americana. Segundo ele, o que está sendo feito nos Estados Unidos “é uma coisa que a gente não viu”.
“Quando você tem uma incerteza desse tamanho, a sua distribuição fica mais achatada e quase tudo é provável. Então, para você mudar seu cenário, acho que é mais custoso porque pode ser que amanhã o cenário volte a ser um pouco diferente e você esteja de novo no correto. É natural que aumente um pouco a inércia de fazer alterações nos seus cenários”, disse.
O diretor citou um “paper” do Fundo Monetário Internacional (FMI) que fala sobre o que acontece com países que tiveram inflações elevadas por períodos prolongados. “A conclusão que esse paper chega é que países que tiveram inflação elevada por período prolongado de tempo tendem a ter expectativas mais ‘backward looking’, quer dizer que a inflação corrente tem peso relevante na sua expectativa da inflação futura”. Segundo David, o Brasil é um dos países mencionados como exemplo desse caso no paper.
Ao ser questionado sobre os fatores que poderiam levar a uma alteração na condução dos juros, o diretor ainda destacou que o BC não reage a apenas um dado, mas a uma série de dados objetivos e subjetivos ao longo do tempo. “Não existe um número que vai fazer a gente resolver a questão. É sempre uma série, uma construção, e é isso que a gente busca. O ‘bastante prolongado’ é que a gente vai precisar de bastante tempo para ver essa série caminhando para onde a gente quer”, disse.