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terça-feira, julho 15, 2025

Redirecionar exportações é desafio maior para indústria

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Diversificar os mercados externos é uma das recomendações de especialistas entre as alternativas para amenizar o impacto da tarifa de 50% que o governo de Donald Trump ameaça impor aos produtos brasileiros adquiridos pelos Estados Unidos, mercado que absorve cerca de 10% das exportações do Brasil, o que representa aproximadamente 2% do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, é o tipo de conselho mais fácil falar do que fazer. Abrir um novo mercado requer tempo e muitas vezes não depende apenas do esforço individual de cada empresa, mas exige o envolvimento do próprio governo, sem mencionar as questões logísticas.

Mesmo em casos em que o governo brasileiro se empenhou nem sempre houve sucesso imediato, por diversos motivos. No primeiro ano do seu terceiro mandato, em 2023, Lula não foi bem-sucedido nas suas investidas feitas com as primeiras viagens internacionais. Inicialmente foi para a Argentina, terceira maior parceira comercial do Brasil, para reativar a relação bilateral e discutir acordos comerciais do Mercosul, mas em seguida Javier Milei assumiu e as relações se tornaram distantes. Ainda na esteira da crise econômica pela qual já vinha passando o país vizinho, houve queda de 17,3% nas exportações brasileiras para a Argentina em 2024.

A segunda viagem de Lula foi para os Estados Unidos para discutir comércio, meio ambiente e cooperação tecnológica com o então presidente Joe Biden. Mas ele acabou sendo sucedido exatamente por Trump. A viagem feita à Índia no mesmo ano não rendeu a revisão almejada de barreiras não-tarifárias para produtos agrícolas, apesar da parceria no âmbito do Brics.

Lula foi ainda nesse primeiro ano de mandato para Portugal, para tentar impulsionar o acordo do Mercosul com a União Europeia, discutido há 26 anos. Pelo mesmo motivo foi para a Alemanha e França no ano seguinte, sem sucesso até agora.

Há casos bem-sucedidos, porém. Em 2023, Lula viajou para China para ampliar exportações de commodities (soja, minério de ferro) e atrair investimentos em infraestrutura e tecnologia. O movimento ajudou na liberação de frigoríficos brasileiros para a exportação de carne bovina, suína e de frango para o país asiático. Apesar da queda de 9,3% nas exportações para a China, o país se manteve como o principal parceiro comercial brasileiro.

A experiência mostra o quanto as negociações podem ser demoradas, não só pelo exemplo das discussões entre o Mercosul e a União Europeia. Em março deste ano, o Brasil conseguiu suspender o embargo canadense que já durava quatro anos à carne bovina brasileira, após o caso de vaca louca. As vendas foram finalmente retomadas no mês passado, com previsão de aumento de US$ 200 milhões nas exportações por ano.

A diversificação de mercados fica mais difícil quando todo mundo está buscando fazer o mesmo ao mesmo tempo. Desde que Trump começou a disparar sua metralhadora giratória de tarifas já se previa que grandes atores globais, como a China, voltariam sua atenção para outros mercados, como vem sentindo a indústria siderúrgica brasileira. Segundo o Instituto Aço Brasil, o país importou 1,096 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos da China entre janeiro e março, 57,8% mais do que em igual período de 2024, e com preços bastante competitivos, afetando os produtores nacionais.

Algumas dessas companhias já enfrentavam tarifas majoradas por Trump, antes do anúncio dos 50% neste mês. As fabricantes e exportadoras brasileiras de aço — semiacabados (placas) e laminados de alto valor agregado — foram atingidas em março por uma tarifa de 25%, aplicada a produtores de todo mundo, e dobrada no início de junho para 50%. Os embarques brasileiros de placas continuaram mesmo quando as tarifas dobraram no mês passado, já os de aços laminados caíram pela metade. Cotas foram negociadas e os produtores brasileiros acreditavam em algum acordo mais favorável até a nova investida de Trump. A dúvida, agora, é se a tarifa irá aumentar novamente, se houver cumulatividade com a nova taxação estipulada para o Brasil.

O leque de produtos brasileiros adquiridos pelos Estados Unidos é amplo e vai de bens primários como commodities agrícolas e minerais ao aço laminado e semiacabado e até bens industrializados sofisticados como aviões e peças de máquinas. Quanto mais elaborado for o produto mais difícil será redirecioná-lo para algum outro mercado uma vez que podem ser fazer parte de determinada cadeia de produção, como as peças para aviões da Embraer e para automóveis, ou terem um mercado mais específico. Das exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024, 78% estão ligadas à indústria de transformação e podem se encaixar nessa categoria (Valor, 11/7).

Outros 16% são da indústria extrativa e 6% do agronegócio que, teoricamente, seriam mais facilmente redirecionados para outros mercados, como a China e nações do Oriente Médio e África, onde é expressiva a compra desses produtos, embora seja difícil encontrar demanda da mesma dimensão do mercado americano. Além disso, são países dos quais muitas vezes o Brasil já é fornecedor.

Mas nem mesmo no caso das commodities agrícolas redirecionar exportações é uma tarefa tão simples e rápida, uma vez que exige adaptação de logística, localização de distribuidores e representantes e planejamento. No entanto, dentro dessa categoria, o alarme já soou nos casos de pescados, mel e celulose.

A sobretaxa de 50% dos EUA pressiona o Brasil a ampliar os mercados de destino de seus produtos, mas a realocação é desafiadora, especialmente para manufaturados. Commodities agrícolas, como soja e minérios, podem ser redirecionadas, ainda que com margens menores, mas no caso dos produtos industriais é mais difícil. Em alguns casos, até impossível. O que a guerra das tarifas lembra é que diversificar mercados é realmente uma recomendação valiosa, que deve ser perseguida sempre, uma vez que seus resultados demoram e custam a serem colhidos.

[Fonte Original]

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