Crédito, EPA
- Author, Laura Gozzi e Sergei Goryashko
- Role, BBC News e BBC News Rússia
A morte do ex-ministro dos Transportes russo, Roman Starovoit, anunciada nesta segunda-feira (7/7), é um evento extraordinário para a Rússia de Putin.
Starovoit foi encontrado morto, aparentemente com um ferimento causado por um tiro que ele mesmo disparou contra si, pouco depois de ter sido demitido pelo presidente Vladimir Putin.
O último ministro a se suicidar foi Boris Pugo, chefe do Ministério do Interior soviético, que cometeu suicídio após o fracasso do golpe de 1991.
No entanto, a história de Starovoit se assemelha mais ao destino de outro ministro do Interior soviético, Nikolai Shchelokov, que enfrentou acusações criminais por corrupção após sua demissão.
Shchelokov morreu com um tiro dado em si mesmo em dezembro de 1984, um dia após ser destituído de todas as honras estatais (tendo já sido destituído do cargo, expulso do Comitê Central do Partido Comunista e do partido, e destituído de sua patente de general).
Starovoit foi “apenas” demitido de seu cargo como chefe do Ministério dos Transportes, e mesmo naquela manhã, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, enfatizou que o decreto de demissão não incluía a frase “devido à perda de confiança”.
A julgar pelo que aconteceu em seguida, a ausência dessa “mancha” não trouxe paz de espírito ao funcionário demitido.
Presumivelmente, nos últimos três meses após a prisão de seu ex-vice, Starovoit viveu com medo do próprio destino. Casos em que um detento presta depoimento contra seu superior não são incomuns, para dizer o mínimo, no sistema judiciário russo.
Mas, até agora, as autoridades ou aguardavam a prisão, se agarrando à esperança de que suas conexões de alto escalão os salvassem, ou fugiam para o exterior.
Mas quando se trata de tirar a própria vida sob ameaça de prisão na Rússia moderna, a maioria dos casos é de policiais — e esses casos são raros o suficiente para serem contados nos dedos.
A morte de Starovoit é um marco significativo para a elite russa. Ela ilustra vividamente o pânico crescente entre as autoridades sob a ameaça iminente de prisão — provavelmente até mesmo entre aqueles que nunca roubaram nada, mas têm plena consciência de como o sistema judiciário de seu país funciona, da minúscula taxa de absolvições e das péssimas condições nas colônias penais.
Comparações com os “expurgos” da era stalinista não parecem mais exageros. Até as notícias desta segunda-feira se encaixam no clima — o congresso do Partido Comunista declarou que o discurso de Khrushchev criticando o culto à personalidade de Stalin foi um erro.
‘Perda de confiança’
A causa da demissão não foi divulgada, e o vice-ministro dos Transportes, Andrei Nikitin, foi anunciado como seu substituto pouco depois.
O Comitê de Investigações declarou estar trabalhando para determinar as circunstâncias do incidente.
Starovoit foi nomeado ministro dos Transportes em maio de 2024. Antes de assumir o cargo, ele foi governador da região de Kursk por quase nove anos.
Moscou conseguiu expulsar as forças ucranianas, mas, no final de junho, Kiev anunciou que ainda controlava um pequeno território dentro da Rússia.
O sucessor de Starovoit no governo da região, Aleksey Smirnov, ficou pouco tempo no cargo.
Ele foi preso em abril e, posteriormente, acusado de desviar fundos alocados para a construção de fortificações na fronteira com a Ucrânia.
O portal noticioso russo Kommersant informou que Starovoit estava para ser declarado réu no mesmo caso.
Não se sabe exatamente quando Starovoit morreu. O chefe do Comitê de Defesa da Duma (a câmara baixa do legislativo russo), Andrei Kartapolov, declarou à rede russa RTVI que a morte ocorreu “já há algum tempo”.
Na própria segunda-feira, antes do anúncio da morte de Starovoit, repórteres pressionaram o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, perguntando se a demissão significava que Putin havia perdido a confiança em Starovoit devido aos eventos em Kursk.
“A perda de confiança é mencionada se existe uma perda de confiança. Essa expressão não foi usada [no decreto do Kremlin]”, respondeu Peskov.