Crédito, Getty Images
- Author, Ellie Violet Bramley
- Role, BBC Culture
Existem algumas características profundamente britânicas que se tornaram marca registrada do Reino Unido no exterior. Elas atraem turistas do outro lado do mundo, que vêm conhecer de perto o que faz o país ser tão… britânico.
Entre elas, estão o chá da tarde, o autocontrole dos britânicos e o torneio de tênis de Wimbledon.
O evento que acontece todos os anos na zona sul de Londres é uma instituição totalmente britânica. E ele inclui suas imagens características, como os morangos com creme, o coquetel de Pimm’s e seus gandulas.
Wimbledon é um sinal marcante do verão britânico — “a Estação”, como dizem os londrinos. Como a Exposição de Flores de Chelsea, as corridas de cavalo e as regatas.
E, é claro, Wimbledon também é um lugar onde as raquetes atingem pequenas bolas com perfeição.
Mas o torneio inclui fundamentos menos visíveis, que também são uma marca intrínseca da sua identidade britânica. Suas regras e etiqueta são importantíssimas, tanto em termos de comportamento, quanto de vestimenta.
Em outras palavras, estas regras não declaradas determinam o que os espectadores devem vestir e fazer, para não ficarem fora de sintonia com os demais.

Crédito, Getty Images
Mas o que determina a etiqueta de Wimbledon?
Para início de conversa, não chame o torneio de Wimbledon, como orienta a autointitulada rainha da etiqueta, Laura Windsor. Ela atuou como consultora da série de TV Bridgerton.
“Na verdade, quando alguém se refere a Wimbledon, deve dizer ‘os Championships‘ (torneio), já que eles são os torneios de tênis de grama mais antigos e conceituados do mundo”, segundo ela. Outra denominação adequada é simplesmente “o tênis”.
Windsor conta à BBC que o público deve se comportar “despretensiosamente… é a nossa identidade britânica, certo? Somos formais e corretos.” Mas o que isso quer dizer?
Primeiramente, é preciso evitar muitos dos comportamentos comuns em outros eventos esportivos e se comportar de forma mais adequada a uma visita ao teatro.
Aliás, “de qualquer forma, uma pessoa que ainda usar um ‘pau de selfie’ em 2025 precisa ser acompanhada de perto”, segundo o instrutor de etiqueta britânico William Hanson. Ele é o autor do livro Just Good Manners (“Simplesmente boas maneiras”, em tradução livre).
Bom comportamento
Hanson destaca que “as pessoas adoram o lado social de Wimbledon, mas vale lembrar que este é um evento esportivo ao qual se assiste sentado, com regras próprias ao lado das quadras”.
“Seja pontual e chegue ao seu assento com antecedência”, prossegue ele. “Respeite o fato de que você só pode ir e vir nos intervalos.”
É claro que os telefones celulares devem ficar em modo silencioso. E Hanson também orienta como tratar os jogadores e autoridades na quadra.
“Seja esportista ao torcer e nunca comemore eventuais erros. Respeite o silêncio durante a partida e guarde as palmas e incentivos para os momentos entre cada ponto.”
“Evite perturbar os jogadores chamando por eles e lembre-se de que a decisão do árbitro é final — nunca interrompa, nem questione os juízes de linha.”

Crédito, Getty Images
Além disso, “contenha-se”, orienta ele.
“Preste atenção nas pessoas sentadas à sua volta e permaneça no espaço da sua cadeira. Mesmo se for pequeno, tente não se esparramar acidentalmente para o espaço pessoal de outro espectador.”
E, se tiver vontade de comer um sanduíche de atum, por exemplo, “evite perturbar o sossego, sem fazer ruído com os papéis, nem comer alimentos desajeitados ou com odor forte”.
É claro que as regras também incluem a vestimenta. E “a melhor forma de mostrar bom comportamento é se vestir adequadamente”, segundo Windsor.
Wimbledon não mantém um código de vestimenta definido, mas é recomendável usar traje formal, especialmente nas quadras principais. E certos itens são proibidos, como jeans rasgados, calçados sujos e roupas com frases de teor político.
“Use roupas confortáveis e adequadas para o clima”, orienta Hanson, “mas evite tudo o que for casual demais ou melhor para usar na praia.”
Código de vestimenta não oficial
Extraoficialmente, Wimbledon criou e desenvolveu seu próprio código de normas de vestimenta.
Uma prova dessas “regras” não declaradas, mas ainda palpáveis, foram as críticas enfrentadas por Meghan Markle, duquesa de Sussex, por ter usado jeans, chapéu e blazer, para assistir à partida da sua amiga, a tenista americana Serena Williams, no torneio de 2019.
Daniel-Yaw Miller é jornalista especializado em esportes e moda. Ele é o criador do boletim SportsVerse.
Para ele, “quando se pensa em roupas para usar em Wimbledon, todos têm a mesma ideia em mente — branco ou bege. Você usa um blazer, você pode usar um chapéu.”
As espectadoras costumam preferir vestidos florais, com bolinhas e roupas individualizadas. E, por osmose, parece ter surgido um código de vestimenta.
Windsor orienta que se vestir adequadamente significa usar “algo que seja modesto e sofisticado”, como roupas sob medida e de puro linho.
Hanson destaca que “é melhor evitar chapéus de abas largas, que podem ficar na frente das pessoas sentadas atrás de você”.
Ainda assim, os chapéus panamá são uma espécie de uniforme oficial de Wimbledon. Eles são populares entre o público do torneio desde o início do século 20.

Crédito, Getty Images
Ao longo dos anos, diversas celebridades ofereceram exemplos notórios de “aces” do vestuário na Quadra Central.
A atriz e cantora Zendaya — uma espécie de santa padroeira da estética “tenniscore” — deu uma aula aos espectadores de Wimbledon no ano passado. Ela vestiu um modelo de Ralph Lauren inspirado em roupas masculinas — terno de tweed em estilo antigo, camisa azul e branca listrada e gravata.
Outros sucessos incluem Meghan Markle de camisa branca e pregas perfeitas; Keira Knightley, com um vestido Chanel de cintura baixa; Tom Cruise, com elegantes ternos, ano após ano; a apresentadora e modelo britânica Alexa Chung, com casaco de tricô e camisas de popeline de algodão; e Pierce Brosnan, com terno de linho azul-marinho e bolsos quadrados bem definidos.
Outras celebridades fizeram um ace sem se restringirem ao roteiro habitual. Exemplos perfeitos são a modelo e cantora jamaicana Grace Jones, em roupa de aviador, e o ator britânico Idris Elba, com uma camiseta marcante da seleção de futebol da Nigéria.
A princesa de Gales, Kate Middleton, é a patrona real do All England Lawn Tennis Club, promotor do evento. Ela costuma usar verde ou roxo, que são as cores oficiais do torneio desde 1909.
Nos últimos anos, ela usou uma série de tons de verde, como um vestido Dolce & Gabanna verde-floresta em 2019 e um traje verde-esmeralda de Emilia Wickstead em 2021 — a cor da grama no início do torneio, não necessariamente no final.
No ano passado, a princesa usou um vestido Safiyaa roxo para entregar os troféus do torneio de simples masculino.
Senso de tradição
A presença da realeza todos os anos destaca o senso de tradição do evento. O tênis, há muito tempo, é associado à riqueza, status e glamour.
“O tênis era esse jogo social, da elite e glamouroso”, afirma Elizabeth Wilson, autora do livro Love Game: A History of Tennis, from Victorian Pastime to Global Phenomenon (“O jogo do amor: uma história do tênis, do passatempo vitoriano até o fenômeno global”, em tradução livre).
O ambiente original do esporte era a casa de campo.
“Ele é, sem dúvida, um esporte tradicionalmente da classe alta e esta essência ainda permeia muito o tênis”, explica Miller.
Ele compara o esporte com o críquete ou as corridas de cavalos em Ascot, “onde você precisa respeitar muito as regras, como se fosse um estranho que acaba de chegar”.

Crédito, Getty Images
Mesmo entre os torneios de tênis, Wimbledon é fora do padrão.
“Você observa os outros Grand Slams, é o extremo oposto”, segundo Miller: música de saída da quadra, jogadores dançando quando saem, câmera do beijo, venda de cachorros-quentes e canhões de bolas, por exemplo.
Para Miller, Wimbledon é “um dos últimos bastiões da antiga cultura britânica no cenário popular”. E, para alguns, suas características arcaicas fazem parte do seu charme e atração.
“Vejo Wimbledon essencialmente como um museu”, explica ele. “Você vai até lá para ter um dia fantástico, uma noção de como era o passado da sociedade britânica.”
Mas tudo isso tem suas desvantagens.
“Do ponto de vista do torcedor, você realmente parece estar pisando em um espaço que não lhe pertence”, segundo Miller. Até certo ponto, você precisa “agir como se já tivesse estado lá antes.”
Mudança de códigos
Mas, ao longo dos anos, os códigos de Wimbledon estão mudando. Elizabeth Wilson acredita que, de muitas formas, “[agora] é mais participativo”.
No passado, “as pessoas descreviam que a atmosfera era mais similar a uma catedral, havia uma atmosfera um tanto sagrada, muito distante de como é hoje em dia.”
William Hanson concorda. Para ele, “se pensarmos em Henman Hill/Murray Mound [o espaço perto da Quadra nº 1] e no resto, os níveis de patriotismo e emoção são diferentes das exibições públicas que teríamos visto no passado.”
Agora, as multidões gritam, pelo menos entre cada ponto, e até participam ocasionalmente de uma ola — algo que “ninguém teria pensado em fazer nos anos 1950”, segundo Wilson.
Daniel-Yaw Miller compareceu ao evento no ano passado. Ele pôde “certamente perceber que era uma experiência um pouco mais moderna”. Ele conta que sentiu que o torneio está “ficando mais relaxado, apenas um pouquinho”.

Crédito, Getty Images
Também em relação às roupas, o comportamento está mudando.
Miller considera Idris Elba e David Beckham como exemplos notórios de pessoas que sabem se vestir adequadamente para Wimbledon, sem parecer que estão presas ao passado.
Para ele, “o visual é mais de ‘churrasco elegante’ do que de ‘evento super formal'”.
Para Hanson, as normas relativos à etiqueta permanecem válidas.
“A etiqueta inclui todas as formas em que nossas ações e comportamentos afetam ou causam impacto sobre outras pessoas”, explica ele. “Precisamos ter consideração e cuidado com o nosso comportamento, para garantir que todos tenham um ótimo dia assistindo ao tênis.”
“Wimbledon vive de rituais antigos e permanece um dos mais importantes eventos esportivos tradicionais do verão britânico. Espero que, nesta quinzena tão especial, todos nós possamos cuidar das nossas maneiras, dentro e fora da quadra.”