Autoridades dos Emirados Árabes Unidos (EAU) negaram no domingo (6) que investidores em Toncoin (TON) possam obter um Golden Visa (visto de residência concedido a estrangeiros que investem no país) por meio de staking da criptomoeda. A informação foi divulgada em um comunicado conjunto publicado pela Emirates News Agency, desmentindo alegações recentes feitas pela TON Network.
Isso porque no sábado (5), a TON — rede associada ao Telegram — anunciou em seu site oficial um suposto programa que permitiria a obtenção de um Golden Visa de 10 anos nos Emirados. Segundo a publicação, bastaria manter US$ 100 mil em staking de TON por três anos e pagar uma taxa de US$ 35 mil para iniciar o processo.
A notícia se espalhou rapidamente nas redes sociais, causando um aumento no preço da criptomoeda. A Toncoin disparou de US$ 2,70 para US$ 3 em poucas horas, além de volume de 24 horas mais de 250% acima da média dos últimos 30 dias, segundo apurou o Coindesk.
Contudo, três órgãos oficiais dos Emirados Árabes — a Autoridade Federal de Identidade, Cidadania, Alfândega e Segurança Portuária (ICP), a Autoridade de Valores Mobiliários e Commodities (SCA) e a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais (VARA) — esclareceram que esse tipo de oferta não existe dentro da estrutura oficial de imigração do país.
Nesta segunda-feira (7), a TON caí 5%, sendo negociada em US$ 2,79.
Golden Visa não contempla criptomoedas
O ICP destacou que o Golden Visa é concedido apenas a categorias específicas, como investidores imobiliários, empreendedores, talentos excepcionais, cientistas, estudantes de destaque, trabalhadores da linha de frente e voluntários humanitários. Investidores em ativos digitais não fazem parte da lista.
Já a SCA reafirmou o compromisso com padrões internacionais de transparência e regulação do setor financeiro, ressaltando que as regras de elegibilidade para vistos são separadas das normas que regem o mercado de criptoativos.
A VARA, responsável pela supervisão do setor de ativos virtuais em Dubai, também negou qualquer programa de concessão de vistos vinculado ao staking de criptomoedas e alertou que a TON não possui licença para operar nos Emirados. A agência reforçou que somente empresas reguladas podem oferecer serviços relacionados a criptoativos e que todas as aplicações para vistos devem seguir os trâmites definidos pelas autoridades competentes.
Repercussão na comunidade cripto
O anúncio da TON causou reação imediata na comunidade cripto. Bobby Ong, cofundador da CoinGecko, chegou a elogiar a proposta como “uma história incrível”, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de se tratar de um esquema de curta duração.
Outros analistas foram mais céticos. Joe HedgedHog, do fundo Sigil, afirmou que a proposta partiu de um escritório jurídico terceirizado, que utiliza a TON como intermediária em aplicações para o Golden Visa sob a categoria de empreendedor. Segundo ele, a exigência de staking é apenas um artifício para promover a criptomoeda.
Iván Gbi, da Gearbox Protocol, classificou a campanha como “enganosa”, apontando que os US$ 35 mil cobrados seriam retidos pelo escritório de advocacia, independentemente da aprovação do visto — que segue critérios do governo e não garante qualquer vantagem para detentores de TON.
Até mesmo o ex-CEO da Binance, Changpeng ‘CZ’ Zhao, comentou o caso. Em postagens no X, ele demonstrou interesse pela proposta, mas alertou para a falta de reconhecimento oficial do programa. CZ observou ainda que staking é uma atividade regulada nos Emirados, e que a TON pode não ter as licenças necessárias.
Alerta contra fraudes
Diante da controvérsia, as autoridades dos Emirados recomendaram cautela à população e aos investidores. O comunicado oficial pede que informações sobre imigração e vistos sejam buscadas apenas nos sites do governo e canais autorizados, para evitar fraudes ou falsas promessas divulgadas na internet.
A repercussão do caso destaca a importância de verificação de informações, especialmente em um mercado tão suscetível à especulação como o de criptomoedas. Mesmo projetos associados a nomes populares, como a TON Network e o Telegram, não estão imunes a oferecer produtos com alegações exageradas ou confusas — algo que pode gerar prejuízo ou frustração para investidores mal informados.