O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou neste domingo que dobrará o orçamento anual com Defesa, que passará para € 64 bilhões (R$ 416 bilhões) até 2027 — em vez de 2029, como planejado anteriormente. Segundo ele, a medida visa combater o que classificou como uma ameaça crescente às liberdades na Europa e o risco de uma guerra aberta nos próximos anos.
O presidente francês listou uma ampla gama de motivações para a mudança, desde o avanço do terrorismo até a guerra eletrônica e com drones, e destacou uma ameaça permanente promovida pela Rússia que, segundo ele, a Europa deve dissuadir para garantir a paz.
— Nunca desde 1945 a liberdade esteve tão ameaçada, e nunca a paz em nosso continente dependeu tanto das decisões que tomamos hoje — disse Macron em um discurso às Forças Armadas antes do desfile militar anual de 14 de julho em celebração à Queda da Bastilha. — Vamos simplificar: para ser livre neste mundo, você precisa ser temido, e para ser temido você precisa ser poderoso.
Para enfrentar esse mundo, Macron defendeu que a Europa dependa menos de seu aliado histórico, os Estados Unidos, e possa consolidar sua autonomia em matéria de Defesa, ainda que dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O plano surge num momento em que as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente transformaram as perspectivas de segurança das nações ocidentais, forçando muitas delas a reavaliar a relutância de longa data em alocar recursos para setores militares.
Em uma recente cúpula em Haia, os membros da Otan — impulsionadas pelo presidente americano, Donald Trump — se comprometeram a destinar 5% de seu PIB nacional à Defesa até 2035: 3,5% em gasto militar estrito e 1,5% em segurança em sentido amplo.
Os gastos com defesa já aumentaram no ano passado, registando o maior aumento desde pelo menos o fim da Guerra Fria, de acordo com um relatório publicado no início deste ano pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). A Europa, incluindo a Rússia, gastou US$ 693 bilhões (R$ 3,8 trilhões) em defesa, 17% a mais do que no ano anterior, segundo o instituto.
- Brindes, história e relíquias: Realeza britânica abre as portas de Windsor para Macron em noite de gala e diplomacia
No entanto, a França enfrenta restrições de gastos maiores do que a maioria, pois os esforços para reparar as finanças públicas após os impactos da pandemia da Covid-19 e da crise energética que deixaram o país com o maior déficit público da zona do euro (5,8% do PIB).
Na terça-feira, o primeiro-ministro François Bayrou deve apresentar as grandes linhas do Orçamento para 2026, com a meta, já anunciada, de € 40 bilhões (R$ 260 bilhões) em cortes amplos na maioria dos ministérios, a fim de cumprir as metas fiscais em um contexto de elevada dívida pública (114% do PIB).
Enquanto a França caminha com uma margem fiscal limitada, a Alemanha anunciou planos para liberar centenas de bilhões de euros para investimentos em defesa e infraestrutura, abolindo controles mais rígidos sobre os empréstimos do governo. Berlim também pediu que a UE reformasse suas regras fiscais para permitir que os países fizessem maiores gastos com Defesa. A expectativa do país é elevar o orçamento militar para € 162 bilhões (R$ 1 trilhão) até 2029.
Macron disse que os gastos extras anunciados neste domingo não seriam financiados por dívidas. Em vez disso, ele pediu reformas econômicas para impulsionar a produtividade e a atividade e uma contribuição de todos, sem fornecer mais detalhes.
— Este novo esforço histórico é proporcional, credível e vital — disse Macron. — Não é apenas o que precisamos, mas realmente o que precisamos.