Israel aceitou o convite para participar neste domingo de conversações indiretas com o Hamas sobre a última proposta de cessar-fogo em Gaza e acordo para a libertação de reféns, embora, segundo o Gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, tenha considerado “inaceitáveis” as mudanças que o grupo armado palestino quer fazer na proposta apresentada pelos mediadores do Catar.
A proposta inclui uma trégua de 60 dias, período em que o grupo libertaria 10 reféns israelenses ainda vivos e devolveria vários corpos, em troca da libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel — das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 durante o ataque do Hamas em Israel, 49 permanecem em cativeiro em Gaza, 27 delas declaradas mortas pelo Exército israelense.
Na noite de sexta-feira, o Hamas disse que havia dado uma “resposta positiva” à proposta e que estava pronto para negociações. No entanto, uma autoridade palestina afirmou que o grupo havia solicitado alterações no texto, incluindo uma melhoria no mecanismo de retirada das tropas israelenses e garantias de que as hostilidades não serão retomadas se as negociações sobre uma trégua permanente fracassarem e de que a ONU e organizações internacionais reconhecidas voltarão a distribuir ajuda humanitária no enclave.
“Os mediadores informaram ao Hamas que hoje, domingo, começará em Doha uma nova rodada de negociações indiretas entre o Hamas e Israel”, disse à AFP uma fonte palestina próxima às conversações, e segundo a qual a delegação do Hamas, liderada por Khalil al Hayya, já está na capital do Catar, Doha.
Os negociadores israelenses viajaram neste domingo para Doha, segundo a emissora pública Kan. Eles devem “continuar os esforços para recuperar nossos reféns com base na proposta catari que Israel aceitou”, apesar de o governo considerar “inaceitáveis as mudanças que o Hamas quer fazer na proposta”, informou o Gabinete de Netanyahu.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que apoia a trégua e receberá Netanyahu na segunda-feira em Washington, disse que um acordo poderia ser alcançado “na próxima semana”.
Neste domingo, antes de viajar para os EUA, Netanyahu se reuniu com o presidente israelense, Isaac Herzog, que destacou que “o primeiro-ministro tem uma missão importante: avançar em um acordo para trazer todos os reféns para casa”. No sábado, durante uma manifestação em Tel Aviv, o Fórum das Famílias dos Reféns pediu às autoridades israelenses que alcancem um “acordo global” que permita a libertação de todos os sequestrados de uma só vez.
Nas duas tréguas declaradas até o momento durante o conflito, a primeira de uma semana em novembro de 2023 e a outra de dois meses no início de 2025, vários reféns foram libertados e milhares de palestinos foram liberados das prisões em Israel.
Na Faixa de Gaza, onde dois milhões de habitantes vivem em condições terríveis após quase 21 meses de guerra, segundo a ONU e várias ONGs, 14 palestinos morreram em bombardeios israelenses neste domingo, informou Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil do território.
Um ataque atingiu uma casa no bairro de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, ao norte do enclave. Os vizinhos tiveram que retirar os corpos das vítimas dos escombros, segundo correspondentes da AFP. O hospital al Shifa recebeu pelo menos 10 corpos, que permaneceram no chão, cobertos por mortalhas de plástico. Ao lado deles, vários parentes recitavam orações fúnebres, sem conter as lágrimas.
— Fiquei sabendo que a casa do meu irmão foi atingida — contou Yahya Abu Sufian. — Cheguei aqui e encontrei vários mortos.
Procurado pela AFP, o Exército israelense afirmou que não teria condições de comentar nenhum ataque sem as coordenadas geográficas precisas.
As restrições à imprensa em Gaza e as dificuldades de acesso a vários pontos impedem que a AFP consiga verificar de maneira independente as afirmações das partes envolvidas no conflito.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Mais de 57.400 palestinos morreram na ofensiva israelense em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, números que a ONU considera confiáveis.
(Com agências internacionais)