De 2022 até o ano passado, a classe média voltou a crescer no Brasil, depois de quase dez anos estagnada. Segundo dados da FGV Social, o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, as classes A, B e C passaram de 69,5% para 78,2% da população nacional. Com a alta de renda e um maior número de pessoas neste estrato social, o mercado imobiliário se adapta. No Rio, crescem os lançamentos para este público na Barra da Tijuca e nos bairros vizinhos.
- Depois de migração: Quatro pinguins mortos são encontrados na Praia da Reserva
- Leilão depois de questionamento: Moradores de condomínio na Barra vão à Justiça contra construção de templo religioso em terreno próximo
— Houve um movimento de incorporadoras na região — diz Nayara Técia, CEO do grupo On Brokers, imobiliária que atua no Recreio, na Barra e na Zona Sul. — Neste ano mesmo, nosso ticket médio (valor médio gasto pelos clientes) diminuiu bastante por conta desta classe média. Nossa empresa nasceu com mansões e alto padrão, mas não podemos fechar os olhos para este público. Hoje, vemos pessoas vindo da Baixada, de Campo Grande, Bangu, de Santa Cruz e de Jacarepaguá, por exemplo, para áreas como Pontal do Recreio, Barra Olímpica, Cidade Jardim e Rio 2. Vemos também pessoas que precisaram sair da Zona Sul porque passaram a trabalhar em home office e queriam um lugar maior — conta.
De acordo com dados de 2023 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), na classe C, a de entrada na classe média, enquadram-se pessoas com renda per capita a partir de R$ 3.500. Com tanta gente nesta faixa, o perfil varia enormemente. Nas construtoras e imobiliárias consultadas para esta reportagem, os imóveis dedicados a ela têm em geral de dois a quatro quartos, entre 70 m² e 160 m² e preços de R$ 500 mil (limite da faixa 4, a última do programa Minha Casa, Minha Vida) a R$ 1,5 milhão (o valor máximo para se fazer um financiamento com o FGTS pela Caixa Econômica Federal).
— As classes A e B são a classe média tradicional, que reflete um padrão americano. Já a classe C é a que foi chamada de nova classe média — destaca o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, que define a classe alta como o 1% mais rico dos brasileiros, com patrimônio individual a partir de R$ 4,6 milhões. — Os bairros dessa região (da Barra) são de ocupação recente, com uma população jovem e emergente.
Quem migra procura lazer, segurança e qualidade de vida. Na Barra Olímpica, os lançamentos têm um atrativo a mais para este público, já que o metro quadrado custa em média R$ 9.121, abaixo dos R$ 14.195 cobrados na Barra da Tijuca, segundo o Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio).
— As áreas mais nobres da Barra já têm escassez de terreno e valorização grande. O Centro Metropolitano (dentro da Barra Olímpica) é uma região que ainda vai ter muito desenvolvimento — destaca Paulo Araújo, diretor regional do grupo Patrimar, cujo primeiro empreendimento para esta faixa na região, recém-lançado, atingiu 70% de vendas na primeira fase. — O sucesso do Grand Quartier (último residencial a ser erguido dentro do Rio2) nos incentivou a comprar outros terrenos, que terão imóveis neste perfil. Um deles deve ser lançado em 2026, e vamos pedir o licenciamento de outro na prefeitura.
As famílias que chegam buscam também mais espaço. Algumas querem acomodar melhor os filhos, o que faz com que a busca por três e quatro quartos tenha destaque. É o caso da psicóloga Luana Siqueira, de 38 anos, que já tinha um filho de 13 anos e acaba de adotar uma menina de 12.
— Moramos na Vila da Penha há 20 anos. Só nos mudaríamos se fosse para um lugar de melhor estrutura. Aproveitamos a oportunidade. A compra não era tão viável para nós, mas os valores mais acessíveis e a forma de pagamento ajudaram — conta ela, que se muda ainda este ano para o novo imóvel, no Elos, o condomínio mais recente do Ilha Pura.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/9/W/9jc0hfRImAgZm4v0DUFA/461514f7-c8ca-4cc2-b112-5e09724f12fb.jpg)
Boa fatia do público vê na compra de um apartamento na região também um bom investimento, salienta o presidente da imobiliária Lopes Rio, Elcilio Britto.
— O valor por metro quadrado da Barra ainda está muito aquém do que deveria, quando comparado com bairros tradicionais. Isso coloca ao tomador de decisão duas vantagens claras: acesso a produtos de maior qualidade e potencial de valorização patrimonial. Em suma, a Barra é a grande vedete para quem quer morar bem e ganhar dinheiro — avalia.
No último Censo, de 2022, a cidade do Rio de Janeiro apresentou um encolhimento populacional. No entanto, a tendência não se aplica à Barra da Tijuca. Segundo o Instituto Pereira Passos, entre 2010 e 2022, a Área de Planejamento 4 (que compreende Barra, Recreio e Jacarepaguá) ganhou 196.252 residentes e passou a ter mais 126.776 domicílios ocupados. A explicação para um crescimento tão expressivo de residências diante de um aumento populacional nem tão significativo está na mudança de comportamento da sociedade carioca, analisa Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, chefe do Departamento de Urbanismo e Meio Ambiente da Faculdade de Arquitetura da UFRJ e autor do livro “Barra da Tijuca: o presente do futuro”.
— Vemos uma mudança no perfil de família. São casais que se separam, filhos que saem de casa não necessariamente para se casar. Muitos são filhos de pais que moram na Zona Sul, mas vão para Barra e Recreio porque o imóvel é mais barato — explica o professor.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/A/Q/YfC8OXRxqAyKXZbwyA2w/whatsapp-image-2025-07-08-at-19.20.52-2-.jpeg)
O representante farmacêutico Yuri Martins, de 49 anos, comprou um imóvel de quatro quartos no Ilha Pura. Em outubro, ele sairá de Vila Valqueire para o novo imóvel, com a mulher, a enteada e os dois filhos.
— Temos alguns amigos que saíram de onde estamos e foram para lá. Isso nos deu uma segurança neste sentido. É uma região que vai se valorizar. Conversamos muito. Não é um tênis que você compra e troca, se não gostou. A família ficou maravilhada, é um sonho cada um com o seu quarto. Esta é uma conquista — comemora ele.
Para agradar aos recém-chegados, as construtoras diversificam as apostas em lazer. O Sky Barra, por exemplo, tem churrasqueira no pavimento acima do terraço, para que a fumaça não alcance os apartamentos. Já o Arte Wave Surf Residences, que terá as primeiras unidades entregues em 2027, contará com uma piscina de ondas indoor como chamariz.
— Temos visto os espaços pet cada vez mais caprichados também. E muitas opções de aluguel de bicicletas e carros que os moradores podem pegar só para irem fazer compras, por exemplo — destaca Nayara, da On Brokers.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/b/2/zimiA1TMAkKTdrFBNWzw/calper-piscina-ondas-arte-wave-barra-olimpica.jpg)
A nova demanda traz novas ideias.
— Fizemos uma Pool House, um espaço com churrasqueira e piscina privativa, no Grand Cartier. O público gostou muito, e estamos levando a ideia para os novos projetos também — conta Paulo Araújo, da Patrimar.
Além dos que vêm de fora, há os compradores que já vivem na região e querem se mudar para um lugar mais amplo ou que atenda melhor às suas necessidades. Como fez a arquiteta Liana Rodrigues, de 38 anos, que já morava no Rio2 e financiou um imóvel maior no Grand Quartier, comprado na planta.
— Quando fiquei grávida, queria um apartamento maior. Pensamos também no fato de ser o último condomínio do Rio2, o que pode inclusive facilitar uma venda futura — avalia ela, que tem uma filha de 8 anos e outra de 1 ano.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/3/E/AZjZAcS76zxFuoCumumg/grand-quartier-pool-house-1.jpg)
A família deve se mudar para o novo apartamento em julho de 2028, segundo a previsão da construtora. Neste momento, a caçula ainda estará na primeira infância e terá um quarto para ela. A área de lazer foi um fator decisivo.
— Eu queria morar em casa, mas meu marido não quis. Pensava em fazer um churrasco com as crianças brincando na piscina. Gostamos da estrutura de lazer do condomínio. Para quem tem criança, isso é muito importante —diz Liana.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/N/H/qKVy6ZSGa8ntEOW4p17A/img-0589.jpg)