As seguradoras vivem um momento de inflexão. Pressionadas por um ambiente macroeconômico adverso, novas regulamentações, mudanças climáticas e riscos emergentes, como o cibernético, as companhias precisam repensar sua forma de operar, gerar receita e exercer seu papel em uma indústria em transformação. A busca por novos mercados, fusões e aquisições e o avanço da tecnologia se consolidaram como alicerces estratégicos para a próxima década.
A volatilidade política e econômica mundial coloca o Brasil no radar dos investidores. O país combina maior estabilidade em relação a outros emergentes e um enorme potencial de crescimento: o setor representa apenas 3% do PIB (sem planos de saúde), ante uma média de 8% em mercados como Reino Unido, Itália, França, Espanha e Alemanha. “O gap brasileiro de proteção é um convite à inovação e à ampliação da oferta de produtos”, avalia Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
As recentes mudanças exigidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) – da Lei Complementar 213/2025, que regulamenta cooperativas e associações de proteção veicular, ao novo Marco Legal dos Seguros (Lei 15.040/2024), passando pela exigência de investimento mínimo em crédito de carbono e a adaptação ao open insurance – geraram turbulência para companhias de todos os portes.
“A Susep atua para garantir que a transição ocorra com transparência, previsibilidade e diálogo”, afirma Alessandro Octaviani, superintendente da autarquia. Segundo ele, a fiscalização seguirá padrões prudenciais e de conduta já adotados, mas com a novidade de supervisionar as novas administradoras de operações mutualistas. “O objetivo é ampliar a concorrência, criar mais opções ao consumidor e preservar a estabilidade do mercado”, diz.
Gap brasileiro de proteção é um convite à inovação e à ampliação da oferta”
— Dyogo Oliveira
A complexidade regulatória também é sentida na operação. Para Gustavo Laença, diretor de seguros da Capgemini, a regulação figura entre os três maiores obstáculos à inovação, atrás apenas da dependência de sistemas legados e da dificuldade de integração entre as áreas. “A habilidade de priorizar projetos relevantes, mesmo diante da pressão regulatória, tem sido essencial para crescer em ambientes turbulentos.”
Com a digitalização acelerada, a inteligência artificial (IA) se consolidou como aliada estratégica: agiliza a subscrição, reduz prazos de emissão de apólices, melhora o atendimento via chatbots, acelera a regulação de sinistros, combate fraudes e personaliza produtos. O ciber e o clima, por sua vez, são riscos que representam tanto ameaças quanto oportunidades. Algumas seguradoras criam áreas dedicadas para mitigá-los; outras preferem a prudência.
“As mudanças climáticas e regulatórias, a transformação do perfil do consumidor e o avanço acelerado da tecnologia moldam uma nova realidade para o mercado. A capacidade de entregar valor tangível e de se posicionar como parceiro estratégico será decisiva para determinar quem liderará a próxima fase de crescimento do setor no Brasil”, afirma Ivan Gontijo, presidente do grupo Bradesco Seguros.
Segundo Gontijo, a estratégia do grupo combina inovação, regionalização, eficiência e educação para a cultura do seguro. “O crescimento não está atrelado apenas ao desempenho financeiro, mas à relevância das soluções na vida das pessoas. Em 2025, reforçamos nosso posicionamento ao manter investimentos robustos em tecnologia, ampliar parcerias estratégicas e intensificar a presença em regiões fora dos grandes centros, com produtos e serviços mais adaptados à realidade de cada local.”
Para Jose Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine, o mercado tem evoluído de forma contínua para atender novas demandas. “Investimos, anualmente, cerca de R$ 140 milhões em tecnologia e transformação digital. Nossa estratégia de crescimento está centrada na adaptação inteligente ao cenário regulatório e climático, na diversificação do portfólio, na digitalização e na sustentabilidade. Esse conjunto de ações nos permitirá enfrentar os desafios, mas também explorar novas oportunidades”, ressalta Ferrara.
A diversificação também é a aposta da Porto Seguro para reduzir a dependência de automóveis, ramo no qual é líder absoluta de mercado, e ampliar atuação em banco, consórcios, serviços e saúde. “Mais do que falar de produtos, usamos os encontros regionais para entender a realidade local e criar soluções assertivas”, afirma Luiz Arruda, vice-presidente comercial e marketing do grupo.
No Itaú Unibanco, o modelo de bancassurance é o ponto alto da estratégia. “Dobramos nosso resultado em quatro anos, atuando com produtos próprios e de seguradoras parceiras, sempre em plataforma aberta, tanto para produtos de varejo como para empresas”, relata Eduardo Domeque, diretor de seguros. “No momento, optamos por não distribuir seguros através de corretores independentes. Nossa estratégia engloba a atuação consultiva dos especialistas na gestão de risco dos clientes, bem como a oferta contextualizada de seguros.”
A MAG Seguros mira na diversificação de canais, incluindo corretores, cooperativas e plataformas digitais, informa o CEO, Helder Molina. A empresa investe na capacitação de corretores e em estratégias para ampliar a cultura do seguro de vida, ainda pouco difundida no país. Estimativas de mercado apontam que apenas 10% dos brasileiros possuem um seguro de vida. “Nosso papel, enquanto especialistas financeiros, é dar luz a essa necessidade que foi potencializada pós-pandemia. Investimos no treinamento de 500 a 1.000 corretores bianualmente e em estratégias para tornar a contratação do seguro de vida individual mais acessível e benéfica ao consumidor”, afirma Molina.
Patricia Freitas, CEO da Prudential do Brasil, acrescenta que “o seguro de vida é um instrumento de planejamento financeiro para proteger a sucessão das empresas e a continuidade das famílias. “Essa conscientização é fundamental”, diz. Atualmente, a aposta da seguradora é na rede franqueada, com mais de 2.000 unidades, ao mesmo tempo em que investe em parcerias, como com o Mercado Pago e XP, e com corretores de seguros. “O foco na centralidade no cliente é o que nos permitirá mais 150 anos de Prudential no mundo e no Brasil.”