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quarta-feira, setembro 3, 2025

Crueldade, promessa e perdão – Revista Cult

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A queda dos gigantes (1590-1642), de Guido Reni (danmarks Statens Museum for Kunst)

 
“Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso ‘fosse mesmo’ o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho.”
Clarice Lispector, “Perdoando Deus”
 

Infância e crueldade caminham lado a lado, embora os adultos relutem em reconhecer essa associação. Talvez por tentarmos conter nossa própria destrutividade, tememos enfraquecer as barreiras do nosso “suado” recalque diante das crianças, que a expõem de forma espontânea. Na psicanálise, foi Melanie Klein quem anunciou com mais clareza a “má” notícia: a destrutividade está presente nas brincadeiras e na vida psíquica das crianças, e o ódio tem um estatuto estruturante no ser. Freud já havia afirmado algo igualmente desconcertante ao reconhecer a presença da sexualidade na vida das crianças. Winnicott, por sua vez, fez o mesmo com o brincar, considerando impensável que uma atividade tão vital e espontânea simplesmente desaparecesse da vida adulta. O fato é que existe uma descontinuidade entre a criança que fomos e o adulto que nos tornamos, que se deve muito à operação civilizatória do complexo de Édipo, essa engrenagem domesticadora de Eros, de Tanatos e da potência criativa

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