15.9 C
Brasília
quinta-feira, setembro 4, 2025

Daniel Fuentes, presidente do Instituto Hilda Hilst fala sobre a reabertura da Casa do Sol – Revista Cult

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Os recursos para a reforma e o restauro vieram em sua totalidade de um instrumento legal chamado Termo de Transferência de Potencial Construtivo, correto? Poderia falar sobre o que significa o termo e como foi usado no projeto?

As obras de restauro da Casa do Sol tiveram um custo total de cerca de R$ 2,5 milhões. Desse valor, aproximadamente R$ 2,2 milhões vieram por meio do instrumento legal chamado Termo de Transferência de Potencial Construtivo (TPC), e o restante foi captado por um edital do ProAC, que nos permitiu requalificar os antigos canis da Casa — hoje transformados no nosso “Canil Cultural” — e viabilizar as cinco primeiras edições da feira literária Hilstianas. O TPC é um mecanismo regulado, construído e emitido pelo poder público municipal, mas que se concretiza com recursos privados. Ele não onera os cofres públicos e, ao mesmo tempo, garante o interesse coletivo, pois possibilita a preservação de bens de valor cultural e histórico tombados, como é o caso da Casa do Sol.

É fundamental que políticas públicas municipais desse tipo sigam sendo fortalecidas, já que há uma enorme demanda de recursos para a preservação do patrimônio histórico. Sem esse restauro – em especial por conta dos ganhos estruturais em elétrica, hidráulica e telhados –, não poderíamos hoje estar comemorando a realização de um evento do porte das Hilstianas, com todo o impacto cultural e também para a economia da cultura que ele representa.

O uso do TPC é útil, digamos, para o município, no caso, Campinas; e para a instituição (ou instituições/entidades que possam fazer uso dele)?

Sem dúvida. O Termo de Transferência de Potencial Construtivo é um instrumento que beneficia ao mesmo tempo o município e as instituições responsáveis por bens tombados. Para Campinas, ele representa uma política pública inteligente: ao invés de depender exclusivamente de verbas orçamentárias, o município cria um mecanismo regulado e transparente que atrai investimento privado para a preservação do patrimônio cultural. Isso significa conservar a memória coletiva sem onerar de forma relevante os cofres públicos.

Para as instituições, como o Instituto Hilda Hilst, o TTPC é muitas vezes a única possibilidade real de viabilizar obras de grande porte. No caso da Casa do Sol, falamos de um restauro de R$ 2,5 milhões, valor que dificilmente poderia ser alcançado sem esse tipo de mecanismo. Em outras palavras: o TTPC garante que imóveis de valor histórico e cultural não fiquem condenados à degradação pela falta de recursos, mas sigam vivos e produtivos, como agora com a reabertura da Casa do Sol e suas atividades especiais pós reforma e restauro.

 

Qual foi o maior desafio durante os quase dois anos do projeto?

O maior desafio foi lidar com a complexidade de um restauro dessa envergadura, que nos manteve quase dois anos em obra e com a Casa do Sol completamente fechada por 18 meses. Na prática, desde a pandemia não realizávamos eventos de maior porte, apenas atividades muito pontuais e algumas residências artísticas. Foi um processo que exigiu enorme cuidado técnico. Sob projeto e acompanhamento da arquiteta Mariana Falqueiro, todo o trabalho conciliou preservação e atualização da infraestrutura: foram refeitos sistemas elétricos e hidráulicos, telhado, forros, jardins, acessibilidade e circulação, sempre com a preocupação de manter as características originais e, ao mesmo tempo, preparar a Casa para o futuro como centro cultural vivo.

Outro ponto fundamental foi o manejo do acervo. Para viabilizar as obras, a equipe de bibliotecários do Instituto Hilda Hilst se mobilizou para desmontar, acondicionar e proteger milhares de itens — e agora realiza a remontagem, com higienização, catalogação e acondicionamento técnico. Esse esforço garantiu que o patrimônio documental e bibliográfico de Hilda fosse preservado com rigor. A arquiteta Mariana Falqueiro conseguiu equilibrar de forma exemplar a preservação da memória e a criação de novos espaços de convivência e acolhimento. Ela soube valorizar a ruína dos antigos canis, hoje reocupados culturalmente, e reforçar os eixos de circulação e visuais da casa, respeitando sua história e, ao mesmo tempo, reimaginando-a como território de escrita, pensamento e experimentação.

Esse conjunto de desafios — técnicos, institucionais e simbólicos — foi o que tornou o restauro tão especial. Sem ele, não poderíamos hoje estar reabrindo a Casa com a força das Hilstianas e inaugurando um novo ciclo cultural.

 

Atualmente o IHH é composto por você, presidente do instituto e principal herdeiro; Olga Bilenky, sua mãe, amiga de Hilda desde antes de você nascer, e atual administradora da Casa do Sol) e mais uma equipe de bibliotecários, procede?

Na estrutura formal, eu sou o presidente do Instituto Hilda Hilst e Olga Bilenky é vice-presidente — além de ser, sem dúvida, uma verdadeira guardiã da memória da Casa do Sol e da própria Hilda, de quem foi amiga íntima desde os anos 1970. Hoje contamos com uma equipe fixa formada por três bibliotecários, uma responsável pelo financeiro, uma produtora e uma especialista em comunicação e redes sociais. Para além dessa equipe, trabalhamos sempre em rede, buscando parcerias com outros realizadores culturais. Nesta primeira edição das Hilstianas, por exemplo, temos colaborações muito valiosas com o coletivo Crie como quem luta, responsável pela curadoria da Feira; com a Livraria Candeeiro; e com o Pé do morro, que traz toda a experiência na área gastronômica.

 

Quando termina o projeto, o inventário/catalogação?

A primeira fase do inventário e da catalogação do acervo deve ser concluída em maio de 2026. Já no próximo mês, nossa previsão é lançar o novo site do Instituto, que entrará no ar em fase de testes, mas já com uma parte do acervo digitalizado e disponível ao público. De toda forma, o trabalho com o acervo não se encerra nessa etapa: é um universo inesgotável, que continuará sendo cuidado, estudado e ampliado continuamente.

 

Como o público interessado em fazer visitas ao IHH e em fazer residências deve proceder? Qual o e-mail ou telefone para contato?

O melhor caminho é acompanhar e entrar em contato conosco pelo nosso Instagram: @instituto_hilda_hilst. É por lá que divulgamos todas as informações sobre visitas, residências e programação, além de ser um canal direto para contato com nossa equipe.

 

Para o futuro, o que você pensa no IHH nos próximos 10 anos?

Para os próximos dez anos, penso o Instituto cada vez mais vivo e capaz de democratizar radicalmente o acesso à vida e à obra de Hilda Hilst. Nosso objetivo é manter a Casa do Sol como um espaço dinâmico, um verdadeiro polo de invenção cultural, aberto a encontros, parcerias e novas formas de criação. Queremos que a Casa siga sendo um porto seguro para o pensamento livre e para a experimentação artística, exatamente como Hilda a idealizou em seus mínimos detalhes. Essa vocação original, de ser um território de liberdade e criação, é também a missão institucional que nos guia e nos inspira todos os dias.

Jurandy Valença é curador, jornalista e gestor cultural. Foi diretor da Biblioteca Mário de Andrade, diretor adjunto do CCSP, coordenador dos centros culturais e teatros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e diretor de projetos do Instituto Cultural Hilda Hilst



[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img