“As gravuras de Maria são tocáveis e no entanto delas emana, como um véu, o inefável”, escreveu Clarice Lispector sobre a obra de Maria Bonomi. Em uma carta publicada no Jornal do Brasil, em outubro de 1971, a autora de A hora da estrela escreve que as mãos da artista imprimem “a heroica força humana do espírito”. Com Clarice, madrinha de seu filho, Cássio, Maria aprendeu o valor da matriz, “o verdadeiro centro do ato criativo, carregado de energia e até de libido”, diz em entrevista à Cult.
Caminhando por seu ateliê, no Jardim América, em São Paulo, a artista aponta para uma escultura: “A Lena é essa aqui”. São duas chapas de metal entrelaçadas em uma escultura de três metros, composta pelas matrizes de uma gravura que repousa logo ao lado. Na imagem de uma nadadora rumo ao mergulho, a obra representa Maria Helena Peres Oliveira, companheira de Maria Bonomi há mais de 20 anos.
Dos 70 anos de carreira Bonomi carrega um vasto catálogo de obras, entre gravuras, esculturas e murais, muitas das quais decoram as ruas de São Paulo. Mas não apenas os paulistanos puderam ver sua produção ao longo dos anos: exposta ao redor do mundo, ela foi apreciada por importantes expoentes da história da arte, como o surrealista Salvador Dalí, e compôs o acervo de magnatas, como Nelson Rockefeller, governador de Nova York de 1959 a 1973 e vice-presidente dos Estados Unidos de 1974 a 1977.
Os anos de estrada também lhe renderam olhar crítico para a cena das artes contemporâneas. Se os grandes museus já não servem ao público, mas a
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