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quarta-feira, setembro 3, 2025

Crítica | Ladrões (2025) – Plano Crítico

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Para cada trabalho que Darren Aronofsky faz, é fácil lembrar do que mais causou desconforto, incômodo, “trauma”, sendo o último, A Baleia, um melodrama polêmico. Por isso, é interessante como Ladrões se coloca como o seu filme mais comercial, longe de ser definido por um viés dramático, e sim, como se o cineasta americano quisesse emplacar o seu primeiro filme de ação pipoca. Se vale a comparação, graças ao grande elenco e proposta de ação escapista pela cidade de Nova York, por um momento o longa lembra o efeito de Baby Driver por termos um filme que combina estilo e narrativa — até mesmo por falar sobre amadurecimento e superação — a fim de entregar entretenimento, e o mais curioso é o fato de Aronofsky deixar a ótica pessimista de lado e focar numa diversão envolvente proposto pelo roteiro de Charlie Huston.

Numa era em que John Wick tem sido a régua quanto a estilo de ação, modelo de brucutu e mitologia de vingança, o roteiro baseado no livro homônimo de Huston, olha para a narrativa clássica do homem comum que é envolvido em situações catastróficas. Encabeçado por Austin Butler, Caught Stealing localiza sua história na década de 90, o que remete muito a Trainspotting, de Boyle, mas também a narrativa intercalada de Tarantino, a ação despojada de Guy Ritchie e ao estudo de personagem de Scorsese ao acompanharmos a história de um ex-astro de beisebol que se tornou barman depois de acidente traumático. Embora lembre o estilo de outros cineastas, não é como se tratasse de referências e sim do fato de alguém como Aronofsky conseguir imprimir isso, e do nada querer Um Dia de Cão para chamar de seu.

Mesmo se afastando do seu gênero principal, dá para reconhecer algumas características que acompanham a sua intrínseca filmografia. Um bom exemplo disso é o design de produção que compõe o apartamento de Hank: decadente, sem variação de tons entre as cores, como ilustração do estado emocional do personagem que lida com um trauma antigo entre culpa e frustração. São nesses momentos que Aronofsky provoca uma leitura do protagonista —  com toques  de um suspense psicológico — , e aqui o cineasta utiliza um artifício que funciona muito bem ao contar essa jornada ao inserir um flashback em um sonho que se mistura com a edição e o trabalho de som. Não que chegue a inserir a conhecida perspectiva pessimista de sofrimento do personagem, mas foi uma forma do diretor trazer um pouco de drama para a narrativa e o interessante é que toda vez que esse recurso surge — em sinal do sentimento de culpa de estragar a vida de quem conhece — vai ganhando um novo significado, principalmente quando esse herói comum passa a assumir o controle.

Ainda que Ladrões não seja visto como um sucesso a nível de Baby Driver, a típica jornada do herói comum ganha um estilo empolgante graças a forma que Aronofsky insere o drama — e tensão, a exemplos dos primeiros momentos de Regina King — a essa comédia de ação sobre erros e acertos. E a todo momento é inegável o sentimento de que é um filme muito diferente do que vimos em Mãe! e Cisne Negro, porém, é também inegável de que, o diretor consegue nos fazer se importar com esse herói que falha, e está rodeado de personagens excêntricos, mafiosos, punks. Embora lembre o clássico Depois de Horas, a jornada de frustração, culpa e redenção de Hank pode ser vista pela ótica de quando o herói ainda não descobriu seus superpoderes — o que entra como analogia a cena de espancamento no corredor, e quando Hank decide lutar pela sobrevivência a base de socos.

Há uma série de expectativas em torno é do que será Ladrões uma vez que o diretor é conhecido por dramas com personagens intensos e também pela espera de um filme de ação com tiradas absurdas e tom caótico, contudo, Aronofsky opta por contar essa história ao seu próprio estilo, mantendo o drama por perto em um filme que quer oferecer entretenimento a um nível clássico e não pop, com reviravoltas contidas e um grande leque de elenco e personagens. Olhando para os últimos trabalhos de Butler, Zoë Kravitz e Aronofsky, é como se tivessem se reunido para criar um blockbuster independente, com cara de ação memorável, empolgante e emocionante, sem apelar para o nicho explosivo e mirabolante de ação o qual a maior sequência pro gênero é uma perseguição com carros envolvendo tiros, e não um jogo de desafio como saltar de um penhasco ou se pendurar em um motomotor.

Quando Aronofsky foi anunciado como o diretor de Ladrões, a impressão era de que estava dando uma pausa, tentando um trabalho diferente no que costuma ser visto como polêmico, mas o resultado aqui é a prova de que ele consegue fazer o que sempre faz, neste caso, uma leitura de personagem, que aqui é um ex-jogador buscando redenção para seu passado, mas atrelada a conto policial clássico dos 90 vista pela trajetória do homem comum.

Ladrões (Caught Stealing – EUA, 2025)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Charlie Huston
Elenco: Austin Butler, Zoë Kravitz, Regina King, Matt Smith, Griffin Dunne, George Abud, Nikita Kukushkin, Yuri Kolokolnikov, D’Pharaoh Woon-A-Tai, Will Bill, Liev Schreiber, Vincent D’Onofrio, Bad Bunny, Carol Kane, Laura Dern
Duração: 107 min



[Fonte Original]

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