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terça-feira, setembro 2, 2025

Crítica | Butterfly (graphic novel) – Plano Crítico

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Butterfly é uma HQ consideravelmente desconhecida, especialmente por aqui, onde nunca foi publicada, que aborda em rápidas quatro edições a reunificação de filha e pai espiões depois que a primeira descobre que o segundo está vivo e que falsificou sua morte há 20 anos, vivendo recluso e constituindo família nova em um vinhedo na França. Apesar de a história acabar em momento propício para que um novo arco seja iniciado, ela pode ser lida de maneira autocontida desde que o leitor aceite que uma resolução definitiva para os eventos que se desenrolam na narrativa não existirá, a não ser que a Archaia, selo da BOOM! Studios,  volte com a publicação agora que o Prime Video produziu uma adaptação em forma de série transferindo a ação para a Coréia do Sul.

Criada pelo roteirista Arash Amel (Grace de Mônaco, Uma Guerra Pessoal, Guerra Sem Regras) e escrita por Marguerite Bennett, a história bebe de thrillers de espionagem clássicos especialmente dos anos 70, mas sem esquecer das devidas atualizações para as sensibilidades atuais, o que significa que há muita ação, muitas reviravoltas e uma dose interessante e até inesperada de brutalidade, o que não significa aqueles exageros explícitos que alguns quadrinistas gostam de colocar em suas criações apenas para chocar o leitor e levar artificialmente à discussões calorosas em redes sociais. Butterfly é inteligentemente contida, mas espertamente violenta, com os eventos acontecendo em ritmo apertado – diria até que apertado demais -, sem que haja tempo para respirar, mas mantendo toda a atmosfera mais cerebral que o estilo anti-Bondiano exige.

Butterfly é o codinome da coprotagonista, uma agente do Projeto Delta, uma divisão supersecreta da CIA, que, durante uma missão que dá muito errado, acaba sendo levada até onde o pai vive com esposa e filha, pai esse que não só fundou o Projeto Delta, como tem seu próprio e lendário codinome, Rouxinol. A reconciliação é dura e repleta de drama, mas também muito veloz, sem que o roteiro de Bennett dê tempo ao tempo e já arremessando a dupla em meio à uma fuga desesperada da agência que os empregava, o que revela uma conspiração mais ampla e insidiosa, como, claro, era de se esperar. Essa velocidade cobra seu preço e o principal deles é no departamento de desenvolvimento de personagens, com Butterfly e Rouxinol perdendo em profundidade, o que faz da reunião de pai e filha algo menos impactante do que deveria ser, o mesmo valendo para a esposa e filha atuais de Rouxinol, que parecem existir só para alimentar a fogueira, mas sem que o roteiro realmente faça o leitor sentir por eles.

Apesar de toda a história no presente ser bem conduzida, a abordagem do passado é estranha, por vezes confusa, com Bennett escrevendo flashbacks que dão azo a mais flashbacks para momentos anteriores aos que são inicialmente mostrados, como peças de dominó caindo ao contrário. A arte de Antonio Fuso nas duas primeiras edições (que irritantemente desenha a condensação da respiração de maneira opaca, levando o colorista Adam Guzowski a fazer disso algo parecido com fumaça densa de cigarro) e também a de Stefano Simeone (que corrige a questão da condensação, ainda bem), não conseguem trabalhar bem esses retornos ao passado e a tentativa de emprestar um ar sofisticado e complexo ao que vemos acaba sendo apenas um artifício que quebra a narrativa principal e pouco realmente acrescenta. Em uma história de apenas quatro edições, não há espaço para que nada menos do que essencial seja colocado nas páginas e esses flashbacks fazem a história perder sua força justamente por parecerem respostas à perguntas que ninguém fez.

Pelo menos Butterfly faz esforço para sair do lugar-comum de thrillers de espionagem em quadrinhos, oferecendo uma história interessante e cativante, mesmo que, em sua execução, as falhas sejam evidentes. Talvez com mais edições, flashbacks com estruturas mais expansivas e menos atabalhoadas e espaço para o desenvolvimento dos personagens centrais, a história tivesse ganhado seu espaço no disputado mercado de quadrinhos e continuado por mais arcos. Do jeito em que ela chegou às páginas, porém, é melhor que ela parasse mesmo onde parou.

Butterfly (Idem – EUA, 2014)
Contendo: Butterfly #1 a 4
Criação e história: Arash Amel
Roteiro:
Marguerite Bennett
Arte: Antonio Fuso (#1 e 2), Stefano Simeone (#3 e 4)
Cores: Adam Guzowski
Letras: Steve Wands
Editoria: Cameron Chittock, Rebecca Taylor
Editora: BOOM! Studios (selo Archaia)
Datas originais de publicação: 14 de setembro, 22 de outubro, 26 de novembro, 24 de dezembro de 2014
Páginas: 126



[Fonte Original]

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