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terça-feira, setembro 2, 2025

Crítica | Liga da Justiça da América (2006): A Saga do Relâmpago – Plano Crítico

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Se o primeiro arco de Brad Meltzer, O Rastro do Tornado, tinha um tom mais intimista e quase experimental para os padrões da Liga, A Saga do Relâmpago muda radicalmente o escopo: trata-se de uma grande colaboração entre a Liga da Justiça e a Sociedade da Justiça, carregada de peso histórico e nostalgia, mas também de ambições narrativas que nem sempre se convertem em fluidez ou numa trama bem construída, apesar do resultado final se manter positivo. O arco é menos sobre desenvolver personagens novos, em especial os membros novatos da Liga, e mais sobre resgatar símbolos e em fazer um crossover que chama a atenção mais pelas figurinhas famosas e por um mistério engajante em torno deles do que de fato destacar o ponto de vista trivial desses heróis, o que era a marca registrada de Meltzer até aqui, começando em Crise de Identidade (2004).

Logo de início, a presença da Legião dos Super-Heróis dá a tônica. Heróis deslocados do futuro, espalhados pelo presente, criando uma rede de enigmas que só faz sentido quando os dois times se unem para compreender o que está acontecendo. A estrutura lembra uma caça ao tesouro: cada grupo de heróis encontra um legionário em condições adversas; um congelado na Fortaleza da Solidão, outro manipulado no Asilo Arkham, outro escondido em Gorilla City. Essa diversidade de cenários funciona bem como vitrine da amplitude do Universo DC, permitindo revisitar locais icônicos enquanto as equipes trabalham em paralelo.

Ainda que as diferentes dinâmicas com a mistura das três equipes sejam bastante divertidas de ler, a narrativa sofre com o peso de tantos personagens. Geoff Johns e Meltzer tentam dar momentos de destaque a figuras distintas, como a ternura de Superman diante dos símbolos da Legião, a resistência teimosa de Batman frente a segredos temporais, o “triângulo amoroso” entre Roy e os Gaviões, e até um curto bloco que continua o ótimo arco do Tornado Vermelho, mas por vezes a história se dispersa ou não consegue dar foco a personagens específicos (tudo bem diferente do que Meltzer vinha escrevendo até aqui). O resultado é que alguns personagens ficam reduzidos a figurantes de luxo, sem espaço para desenvolvimento real, funcionando apenas como peças na engrenagem do mistério.

O que de fato funciona é a dúvida constante do porquê a Legião está no presente e o que está acontecendo com eles. O tom de investigação, as pequenas dúvidas sobre as intenções dos heróis e a curiosa ausência de um vilão (algo muito bem trabalhado pelo texto), elevam o material para uma saga que vale a pena a leitura. O clímax da história, com os legionários revelando que sua missão era resgatar Wally West da Força de Aceleração, é ao mesmo tempo surpreendente e frustrante. Surpreendente porque o retorno de Wally tem um impacto emocional forte para os leitores que acompanharam sua ausência até aqui. E um pouco frustrante porque todo o arco acaba funcionando como uma longa preparação para ressuscitar outro herói do que a entrega de uma resolução dramática orgânica ou mais impactante.

A tensão sobre o possível sacrifício de Karatê Kid, embora bem construída, também perde força quando sua sobrevivência é revelada, mas não reclamo muito disso porque é esperado que heróis nunca morram e porque a sugestão de alguém preso em seu raio relâmpago adiciona uma última camada de mistério que deve ser abordada em futuros arcos de uma ou todas as equipes (é bacana saber que a missão não acabou aqui e que a Legião estava fazendo outras coisas além de “devolver” Wally). Visualmente, o arco entrega páginas competentes, com estilo característico de heróis musculosos e poses grandiloquentes. A grandiosidade estética combina com a proposta de um crossover entre três das maiores equipes da editora, evocando a tradição das histórias de equipe dos anos 1980 e 1990.

No saldo, A Saga do Relâmpago é um arco muito bom, porém irregular: poderoso em conceito, nostálgico em sua execução, com uma trama enigmática que mantém o leitor interessado, mas sem um texto tão aprofundado, que peca um pouco no número de personagens e que tem um desfecho que não é tão recompensador para o mistério. Ainda assim, o arco reforça a linha que Meltzer e Johns queriam seguir, mostrando a Liga e a Sociedade como instituições que carregam história e legado, mas sacrificando o aspecto mais intimista de Meltzer até aqui e a parte da coesão narrativa em nome de uma surpresa editorial (o retorno de Wally). Mesmo assim, permanece como um retrato fiel do que era a DC dos anos 2000: uma editora em busca de equilibrar reverência ao passado e espetáculo contemporâneo, enquanto tentava alçar novos ares.

Liga da Justiça da América: A Saga do Relâmpago (Justice League of America Vol.2: The Lightning Saga) — EUA, 2007
Contendo: Justice League of America vol. 2, #8–10, Justice Society of America vol. 3, #5–6
Roteiro: Brad Meltzer, Geoff Johns
Arte: Ed Benes, Shane Davis, Sandra Hope, Fernando Pasarin
Cores: Alex Sinclair, Jeromy Cox
Letras: Rob Leigh
Editoria: Adam Schlagman, Eddie Berganza
Editora: DC Comics
203 páginas



[Fonte Original]

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