Criada por César Sandoval em 1989, A Turma do Arrepio é um verdadeiro marco dos quadrinhos infantis brasileiros, retomada, em 2025, em uma Edição Histórica pela Comix Zone, que reúne “as melhores” tramas da turminha fofamente macabra que tanto me divertiu (e tenho certeza que a muitos de vocês também) na infância. Acredito que a escolha dos editores Ferréz e Thiago Ferreira quis garantir ampla circulação do material, alcançando um público numeroso e, consequentemente, boas vendas, o que poderia viabilizar a publicação de novos volumes com a mesma proposta editorial. Particularmente, não gosto desse tipo de recorte fragmentado. Acho que uma organização cronológica seria mais adequada para resgates com essa importância. Todavia, entendo a estratégia editorial e mercadológica da CZ (tentando driblar os riscos) e torço para que a obra venda muito e permita o lançamento de novos volumes.
As duas primeiras tramas da Edição Histórica compilam as principais histórias de A Turma do Arrepio #1 (novembro de 1989), que são O Sumiço do Stein e O Uivador Afônico, [provavelmente] escritas por Gérson Luiz Borlotti Teixeira e [provavelmente] desenhadas por Gustavo Machado. Digo “provavelmente” porque a publicação não traz, em absolutamente nenhum lugar, a ficha técnica do material original, indicando quem escreveu o roteiro, quem desenhou as histórias e as capas dos quadrinhos (que acredito ter sido o criador da turma, porque elas levam a assinatura dele, mas isso também não quer dizer muita coisa, porque as capas das revistas da Turma da Mônica levam a assinatura do Mauricio e sabemos que a arte ali não é dele… pelo menos não todas elas), o que é um absurdo total para mim. A mesma coisa acontece na coleção Biblioteca Mauricio de Sousa, da Panini. Não sei se existem reais problemas jurídicos ou real falta de dados para isto, mas, se você vai reeditar um material, que faça jus a quem trabalhou nele originalmente! E se não tiver registros que confirmem o expediente, que tal adicionar, em vez de extras inúteis, um panorama de uma única página, que seja, dizendo quem desenhou as capas ou as pessoas da equipe, no momento de publicação do material? Custa fazer isso? Uma única página de contexto, à guisa de créditos? Enfim, chega de desabafo… voltemos à Turma do Arrepio.
Ler essas historinhas já adulto traz uma sensação muito gostosa de nostalgia e reflexão sobre o tipo de aventuras em quadrinhos que se produzia para crianças em 1989. O roteiro traz piadinhas maravilhosas sobre diversos temas, mas tem umas tiradas tão sacanas e tão inteligentes que realmente impressionam. Em O Sumiço do Stein (na revista original, esta é a segunda história. Não vejo sentido em colocá-la, na Edição Histórica, como abertura, já que O Uivador Afônico tem um contexto de introdução bem mais claro e relevante), há uma piadinha que costura a narrativa, que é uma briguinha de Luby (o valente lobisomem) com Medeia (a bruxinha desastrada). Indiretamente, ele a chama de burra e ela o transforma em um burro. A maneira como o texto costura essa rusga a uma história até mesmo tocante, com um toque de solenidade, que tem a ver com o sumiço do garoto biônico do título, uma versão simpática e inventora de Frankenstein, é maravilhosa.
Já em O Uivador Afônico, encontramos um pouco mais de contexto sobre o ambiente e as famílias ausentes dessas criaturinhas, assim como do prédio em que moram. Novas situações cômicas impagáveis são postas aqui (como a sugestão de um “chá de nitrato de prata” para um lobisomem), e a turma se vê diante de algo muito perigoso dessa vez, que é a possibilidade de Luby transformar-se em humano para sempre (coitado! Ninguém merece ser humano!), uma vez que ele está com faringite e não consegue uivar corretamente para a Lua cheia. Junta-se a isso um feitiço mal feito de Medeia e… pronto! Temos uma situação que cabe até um concurso no programa Silvio Santos! Não é exatamente um final incrível, porque foge um pouco do ambiente de terror em que os personagens vivem (mil vezes mais interessante), mas ainda assim, é compreensível e dá uma boa nuance sobre a cultura popular brasileira, muito ligada à televisão e a apresentadores e programas específicos. Com mensagens de amizade, parceria e confiança, mesmo diante de diferenças pontuais, A Turma do Arrepio estreia muito bem. São histórias gostosas de ler e com um número grande de camadas, se você for adulto. Mais uma daquelas leituras que fazem a gente olhar para o que viraliza e vende muito, hoje em dia, no mercado de quadrinhos infantis, e lamentar a queda de qualidade, tanto nos desenhos quanto nas histórias.
O Sumiço do Stein e O Uivador Afônico (A Turma do Arrepio #1) — Brasil, novembro de 1989
Roteiro: Gérson Luiz Borlotti Teixeira (?)
Arte: Gustavo Machado (?)
Capa: César Sandoval (?)
Editora original: Globo
Edição lida para esta crítica: Comix Zone (A Turma do Arrepio – Edição Histórica), 2025
20 páginas