17.5 C
Brasília
quinta-feira, setembro 4, 2025

Com apenas cinco produções em Veneza, o cinema argentino segue golpeado pelos cortes de Milei

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Após vários festivais internacionais com uma presença mínima do cinema argentino, golpeado em cheio pelos cortes do presidente Javier Milei, a 82ª edição da Mostra de Veneza inclui cinco produções do país sul-americano, entre elas o aguardado documentário de Lucrecia Martel, Nossa Terra.

Desde que o ultraliberal Javier Milei chegou ao poder em dezembro de 2023, sua política de cortes impactou diretamente a indústria e, sobretudo, o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA), órgão público de fomento e apoio à produção cinematográfica.

No setor, as mudanças provocaram uma paralisação, já que, com as novas medidas, as produtoras têm muito menos margem de manobra.

Antes, a produção era sustentada por uma série de subsídios, às vezes em forma de adiantamento, mas “agora você precisa chegar com um financiamento próprio, privado, e quando chega ao final e cumpre [todos os requisitos], aí tem direito ao subsídio”, explica à AFP Vanesa Pagani, presidente da Associação de Produtores Independentes de Meios Audiovisuais (APIMA).

Segundo ela, “desde que assumiu a nova gestão” do INCAA, “nenhum filme obteve financiamento para ser realizado”.

— Ninguém sabe para onde estão indo os fundos que o Instituto de Cinema [INCAA] tem, porque os fundos existem, já que arrecada uma porcentagem das bilheteiras das salas de cinema, além de algumas outras taxas que cobra, mas esse dinheiro não é destinado à produção nacional — denuncia Javier Campo, pesquisador especializado em cinema documental.

Festival de Veneza. Tapete vermelho é instalado no Palazzo del Cinema para a cerimônia de abertura: produções sobre Putin, Mussolini, Kadafi e Hitler estão no evento, que começa hoje e vai até o dia 6 — Foto: Stefano RELLANDINI/AFP

“Tempestade perfeita”

No Festival de Cannes, onde a Argentina tradicionalmente tinha uma presença destacada, este ano só esteve representada pelo curta Tres, de Juan Ignacio Ceballos, e pelo longa Drunken Noodles, de Lucio Castro.

Os efeitos da “motosserra” de Milei também se fizeram notar na última edição da Berlinale, onde o único filme argentino apresentado foi A Mensagem, de Iván Fund, premiado com o Prêmio do Júri.

Já em Veneza, além de Nossa Terra, de Lucrecia Martel (fora de competição), chegam da Argentina: Um Cabo Solto, de Daniel Hendler, coprodução com Uruguai e Espanha; Pin de Fartie, de Alejo Moguillanski; The Souffleur, de Gastón Solinicki, coprodução com a Áustria; e também A Origem do Mundo, um curta de Jazmín López.

“Para mim é falsa a expectativa de uma recuperação”, afirma Campo, já que se trata de “coproduções com financiamento externo em grande parte”, o que torna “difícil poder dizer que são filmes inteiramente argentinos”.

Hernán Findling, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina, fala em uma “espécie de tempestade perfeita” que faz com que a produção esteja “praticamente estagnada”.

Na sua visão, o fato de o país ter um “governo que não defende a cultura” e atravessar uma “mudança muito forte na situação macroeconômica” faz com que “os valores sejam elevados (…) para poder filmar”.

“A produção de filmes vai cair consideravelmente, a curto e médio prazo”, prevê o produtor, que, sem querer ser “catastrofista”, alerta para uma situação “complexa

E embora a criação se mantenha com as plataformas e as grandes produtoras, isso traz riscos, apontam os especialistas — entre eles, o de uma menor diversidade.

Devido aos cortes, estão sendo deixadas de lado “as pequenas produções e as pequenas produtoras, que não têm dinheiro para financiar uma produção e depois receber a retribuição do instituto”, insiste Campo.

— Há uma parte do cinema que se perde, uma parte do cinema que tem um grande percurso em festivais, uma grande visibilidade que vai além do número de ingressos vendidos —, aponta Vanesa Pagani.

Ainda assim, Findling destaca que é “muito valioso o que as plataformas estão fazendo” porque “mantém um pouco a produção e gera trabalho”. “Mas não pode ser a única coisa que a Argentina produza”, ressalta.

Se a criação ficar concentrada nas grandes plataformas, explica o produtor, “não vai haver renovação geracional”, já que essas empresas geralmente apostam em produtos, diretores, atores e roteiristas já estabelecidos.

Por sua vez, Nicolás Vetromile, montador e delegado do sindicato ATE no INCAA, alerta para um risco de “uberização do cinema”.

— As leis trabalhistas que existem com as plataformas são mais fracas do que as (…) do marco cinematográfico, porque havia uma intervenção muito maior por parte do Estado” para obrigar os empregadores a pagar “todos os encargos patronais e pessoais dos trabalhadores”. “Hoje em dia, todas essas questões ficam ao livre-arbítrio — adverte.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img